quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Todo abismo é navegável a barquinhos de papel! Guimarães Rosa

"Nós todos viemos do inferno; alguns ainda estão quentes de lá" [Guimarães Rosa] ...

Hoje atores em cena, desnudos de si...transportaram o breve instante sagrado  para a eternidade do pensamento! Que rufem os tambores e as alfaias...estamos chegando! Saravá!

do décimo quarto andar...

Tantas frases
Tantas frases..
E eu aqui debruçado no canto do quarto
Nesse parapeito mal acabado
Tentando olhar para baixo.
Mas a vertigem me cega
Me encerra dentro de um presidio de grades frágeis.
A qualquer momento haverá uma revoada
de penas.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

“Tem ácido sulfúrico no meu cabelo!”

 Um amigo poeta achou fantástico quando eu disse.

Tem ácido sulfúrico em todo o meu corpo.

 “Eu não posso com ácido, tenho vitiligo!”

Quer saber? Que se foda o vitiligo!

Eu escolho viver.

E que venha o ácido sulfúrico...

ps: eu acho que quando encontra a água, vira ácido sulfídrico, mas eu não tenho certeza, já saí da escola...

IJEXÁ...

 


Ijexá em português, Ijesha em inglês (escreve-se Ijesa na ortografia Yoruba), são um sub-grupo étnico dos Yorubas.

Nação Ijexá do Candomblé


Ijexá é uma nação do Candomblé, formada pelos escravos vindos de Ilesa na Nigéria, em maior quantidade na região de Salvador, Bahia.
O Babalorixá Eduardo de Ijexá foi o mais conhecido dessa nação. Como também o Babalorixá Severiano Santana Porto, ambos do mesmo orixá, Logum Edé.

Ritmo africano


O Ijexá resiste atualmente como ritmo musical presente nos Afoxés.
O Ijexá, dentro do Candomblé é essencialmente um ritmo que se toca para Orixás, Oxum, Osain, Ogum, Logum-edé, Exu, Oba, Oyá-Yansan e Oxalá.
Ritmo suave mas de batida e cadência marcadas de grande beleza, no som e na dança. O Ijexá é tocado exclusivamente com as mãos, os aquidavis ou baquetas não são usados nesse toque, sempre acompanhado do Gã (agogô) para marcar o compasso. O Afoxé Filhos de Gandhi da Bahia, é talvez o mais tenaz dos grupos culturais brasileiros na preservação desse ritmo.

YABÁ....

Iabá, Yabá ou Iyabá , cujo o termo quer dizer Mãe Rainha , é o termo dado aos orixás femininos , Yemanjá e Oxum, mas no Brasil esse termo é utilizado para definir todos os orixás femininos em geral, em vez do termo Obirinxá ( Orixá feminino), que seria o termo mais correto. O termo Iabá é dado a Yemanjá e Oxum , porque ambas estão intimamente ligadas a gestação - ao parto - e aos cuidados da mãe com o seu filho. E por terem sido rainhas, apenas essas duas divindades usam o chorão , contas presas aos seus adês que servem para cobrirem os seus rostos nas festas .

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

AS ARTESÃS

AS ARTESÃS

 

Memórias trabalham com argilas

e fios desencapados

Seu ofício

mais antigo que a noite

é a escultura do nosso fim

Prendadas

as memórias têm as habilidades

perdidas

de Deus

Essas estranhas línguas

com espasmos e olheiras de betume

vestidas de dias, noites e intervalos

traídas horas do desabraço

gostam de adornar o que se teve

e espedaçar sobre o não tido

migalhas em neve, never, niente

forjam o tempo todo do tempo

deveriam

ser a principal imagem da folhinha

a  t-o-t-a-l-i-d-a-d-e

dos calendários

Há memórias

que nunca foram convidadas

por isso as ruas elas confundem

e batem à tua porta

desorientadas

pedindo esmolas:

é preciso cuidado pra não oferecer o mesmo pão

o que seria jogado fora

Há memórias

de bafo quente e dentes branquíssimos

estremecem tudo o que se move sobre a terra

— a vingança —

orgulhosas e destras

brincam de dardo com a existência

crianças que não perdoam nunca

o abandono de incertezas

e como jogam cartas!

prestidigitadoras

adivinham

tudo o que traz a boca da noite

uma pergunta que antecede a chuva

os vidros embaçam, criam poças d’água

esticam as luzes

e botam todos os semáforos em vermelho

chegam assim no pé de uma orelha distraída

e assopram:

Como começar a contar

— para si, para eu, para mim —

a si mesmo?

I.Fornerón


Poemas do 2º Ato, 2010

Porquê?

Estava aqui com o pensamento ainda fresco sobre as provocações que resolvem surgir ao longo de densas madrugadas...

Tudo paira sobre o pensamento e nada se responde  com a certeza que as vezes preciso...mas hoje uma questão se colocou de forma mais direta...

Porquê voce faz teatro?

(PAUSA PENSADA E LONGA)

E horas depois ainda nao respondi essa porra de questão...tudo que sai da garganta, sai de forma insegura, medrosa, como se eu pudesse me  esconder na natureza morta do pensamento...

Quase a ponto de enlouquecer e torturado pela pergunta... entrego os pontos:

- Faço porque gosto!

Te assusta tal resposta? Não queira desvendar meus segredos senhor dos tempos...eu sou um ator...pronto a devastar-me entre as interrogações da vida...sou um trem desgovernado e poderia te responder assim:

-Porque sim!

Ass. Vanderleysinho o intrigante...

Pai,o mundo tem tamanho?

...Tem!

É maior que a  casa da vó?

Ah! Vai se arrumar,  vai filho! Que horas é a aula?

A hora que a gente chegar né?

Apressado o pai apita o alarme do carro e some na estrada...

pelo mundo afora...

o quadrado descarpado do eterno desajuizado pernil longo e extenso do inverno afetado pela água descarregada pelo pipador de ventos molhados...vai ventarola...avoa pelo imenso véu azul de céu escancarado...desabrocha em prantos...ó ator...mexedor de lugares incertos...ciscador de terras imaginarias...inventor de mecanismos indiziveis, vai ator...ressurge feito milho depois da chuva e mostra teus dentes e cabelos esvoaçados da labuta eterna...acende  a luz da vida e desmancha o bom penteado da rotina mortal...escancara tua cara, cara e bem cara forma de ver e viver a estranha vida de tantos outros seres de invisibilidade assumida...vai cara! assume teu enorme circulo quadrado de giz esbranquiçado pelo tempo vivido...quadrado é o tempo que faz - tum, tum...

de um comentario do blog do forneron

HOJE SOU ONDINA

Meu nome é Ondina. O nome é antigo, mas eu gosto... Quer dizer viver entre ondas pequenas, que sobem de repente, afagam, ou até derrubam... Bonito né? Combina comigo. Ainda mais agora que eu sou concha... É...concha do mar! Uma concha cercada de um monte de coisas, cercada do mar inteiro, mas de verdade sozinha. Às vezes o barulho do mar enjoa...sempre o mesmo. Apesar do tamanhão dele ele sempre se repete, sempre... Eu enjôo.

Ser gente às vezes parece tão pequeno perto de todas as coisas que queria ser! Eu já fui peixe, já fui gaivota, já fui vento, já fui chuva, chuva fraca e chuva forte... Queria ser barco, queria ser um marisco grudado nas pedras... Já fui tantas coisas e queria ser tantas outras! Mas hoje sou concha. As pessoas sempre querem saber o que as conchas dizem... Olha que coisa! Tem uma aqui falando com elas, de um jeito que dá até pra entender!

Eu imaginei uma vida diferente pra mim, sem conta pra pagar, sem esses montes de papéis, burocracias, esses monte de tralha que a gente acumula no nosso dia-a-dia e que roubam nossas horas de viver de verdade... E a gente faz isso muitas vezes sem perceber! Eu queria ultrapassar o limite do que eu sou... Acho que eu queria nunca crescer, ser "gente grande"... sofrer de tédio e indecisão...

A gente nunca tá feliz mesmo, né?! Eu penso que a felicidade podia ser uma coisa, um objeto...que desse pra tocar, apertar, cheirar... Já pensou? Ia dar pra falar: "Olha...eu tenho felicidade, você quer ver? Ah...sua felicidade é tão linda...me empresta? Eu quero ganhar felicidade de presente de aniversário... Amanhã é meu aniversário...". Acho que ia ser bom...

Eu também tenho vontade de ser cor... Várias cores... Cada dia uma. Hoje eu sou vermelho, vermelho de raiva, de dor, de inflamação, de sangue... Hoje eu sou uma concha vermelha.

Sozinha.

Só com o que me pertence.

Só com o que é meu.

Quieta.

giovanna galdi

Quando eu era pequeno...

...me disseram que teatro era um bagulho muito legal...

Que a gente podia fazer de conta que vivia em outro mundo, que era outras gentes e tal...desencanei e fiquei 25 anos brincando de ser outros...me perdi! Agora , ando precisando de mim...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Qual a parte do teu corpo?

A cabeça, senhor!É a única que pode restar...ainda útil...poderia ser um pé, uma bonita coxa...mas...creio que a cabeça é a que vale mais...

Portanto: ceiamos senhor!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Daguerreotipo

1839
- O inventor francês Louis Daguerre desenvolve o Daguerreotype, o primeiro método comercial para produzir fotografias.

1841
- O inventor britânico patenteia o calotype, processo para imprimir negativos fotográficos em papel.

1869
- John Wesley Hyatt inventa o celuloide, o primeiro plástico comerciavel, que mais tarde servirá de base à película cinematográfica.

1879
- O americano Thomas Edison regista a primeira lâmpada incandescente que será parte importante dos projectores cinematográficos.

1887
- Na Alemanha, Ottomar Anschutz demonstra o Electro-Tachyscope, que consiste numa sequência de fotografias colocadas numa roda e visualizadas através de um pequeno orifício, produzindo movimento.

1889
- O americano George Eastman inventa o filme de celuloide perfurado.
- Thomas Edison desenvolve o Kinetophonograph que permite sincronizar a projecção de um filme com uma gravação fonográfica.

1891
- Thomas Edison inventa o Kinetograph, o primeiro sistema cinematográfico, e o Kinetoscope, uma caixa que permitia ver filmes.

1892
- O francês Émile Renauld demonstra o Praxinoscope, que permite projectar pequenas animações desenhadas à mão, num ecrã.

1893
- Thomas Edison constrói o primeiro estúdio de cinema (Black Maria) em New Jersey. Tem lugar em Nova Iorque a primeira exibição pública do Kinetoscope.

1894
- Thomas Edison inicia a actividade comercial do Kinetoscope em Nova Iorque.
- Robert W. Paul, um cientista de Londres, descobre que Edison não tinha registado o Kinetoscope na Inglaterra e começa a aperfeiço-á-lo; os melhoramentos incluem um sistema que torna as imagens menos distorcidas e a sua projecção num ecrã.
- Em Berlim, Ottomar Anschutz faz a demonstração de um sistema de projecção.

1895
- Os irmãos Lumière demonstram o seu sistema de projecção, o Cinématographe.
- Os americanos Thomas Woodville e Charles Jenkins desenvolvem o Phantascope, um sistema de projecção mais desenvolvido.
- Em Inglaterra, Robert W. Paul e o fotografo Birt Acres colaboram na construção de uma câmara de filmar, Acres começa a filmar eventos desportivos.
- Na Alemanha, Max Skladanowsky regista o seu projector Bioskop e faz uma projecção pública em Berlim.

1896
- Thomas Edison adquire os direitos do Phantascope (passando-se a chamar Vitascope) e inicia as projecções públicas em Nova Iorque.
- As empresas Biograph e Vitagraph iniciam operações, tornando-se nas principais rivais da Edison Company.
- Em Inglaterra, Birt Acres faz a demonstração da projecção de filmes e funda a Northern Photographic Works; Robert W. Paul dá a conhecer o seu método de projecção de filmes e meses depois realiza o primeiro filme de ficção inglês, The Soldier’s Courtship.
- Peter Elfelt realiza o primeiro filme Dinamarques.
- O espectáculo dos Irmãos Lumiere abre na ÿndia.
- A primeira exibição cinematográfica em Espanha ocorre em Madrid perante uma audiência constituída principalmente por colegiais.

1897
- A Vitagraph estreia o seu primeiro filme de ficção The Burglar on the Roof.
- Fructuoso Gelabert realiza o primeiro filme de ficção espanhol, Rina en un Café.

1898
- Até meados da década seguinte, as empresas cinematográficas, em vez de alugarem, vendem os filmes e o equipamento de projecção às empresas exibidoras.
- Os imigrantes e as classes trabalhadoras constituem o grande público cinematográfico.

1899
- Cecil Hepworth produz os seus primeiros filmes.
- O Japão produz os seus primeiros filmes.
- Robert W. Paul inaugura um dos primeiros estúdios inglêses no norte de Londres.
- Auguste Baron trabalha no seu sistema sonoro, mas não encontra grande receptividade.

Josemar...Joosee Maarrr..

Tinha ele orgulho de ser Mar...de ser José...e quando os dois se juntavam ...

Pulavam de "enérgica" e  ingênua alegria de ter como seu aquilo que nunca mais lhe poderiam tirar...ele era mar! Josémar..carreteiro em Sao Paulo e senhor de si no além das águas... José mar para o todo...para o pouco...para sempre!

Ass. Jidião Guedes

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

SEMANA DE CENAS...CENAS QUE SE ENCENAM SÓ...

Cenas que se encenam só...são só cenas.

só são cenas se se encenam...só cenas...

somente uma semente somenteserá...cena por cena só uma vingará...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O sertanejo vai s'imbora...


Morre o cantor Pena Branca



 



Faleceu aos 70 anos, vítima de infarto, na noite dessa segunda-feira (8), José Ramiro Sobrinho, o Pena Branca, que por 37 anos formou dupla com seu irmão Xavantinho, falecido em 1999.

Pena Branca estava em sua casa, em São Paulo, ao lado da esposa, quando reclamou de dores no peito e caiu da cadeira. O cantor foi levado ao hospital São Luiz Gonzaga, no Jaçanã, mas não resistiu.

Ícones da música sertaneja de raiz, os irmãos apresentavam um contraste curioso: eram típicos caipiras, no comportamento simples e na forma de falar, mas sempre estiveram envolvidos com nomes importantes de um sertanejo mais poético, de Rolando Boldrin, por quem já foram produzidos, e de Renato Teixeira, com quem lançaram um CD ao vivo em 1992.

A música mais lembrada nesses próximos dias, provavelmente será "O cio da terra", composta por Chico Buarque e Milton Nascimento.

No entanto, o público sertanejo deverá se lembrar mesmo da canção "Cuitelinho", que já apareceu em várias listas sobre músicas sertanejas mais importantes da história.

Além dessas duas, existem outros inúmeros clássicos nas vozes dos irmãos, entre eles, "Calix Bento" e "Chuá, Chuá".
Na década de 1980, a dupla passou mais de cinco anos sem gravar, após negar um pedido da gravadora de se adequar ao mercado sertanejo que começava a crescer.

No último sábado, a simplicidade de Pena Branca foi lembrada na gravação do DVD de Sérgio Reis e Renato Teixeira.

Durante uma pausa na gravação, Sérgio Reis contou que certo dia, Pena Branca ligou em sua casa perguntando: "recebi uma carta aqui dizendo que eu ganhei um tal de Grammy, que isso?".

Pena Branca se referia ao Grammy Latino conquistado em 2001, com o álbum "Semente caipira", o primeiro gravado após o falecimento do irmão.

Durante o dia, vou atualizando esse texto.

E a música sertaneja amanhece mais um dia de luto.

Por André Piunti às 01h12

domingo, 7 de fevereiro de 2010

BLOCOS DE CARNAVAL...

Região do Baixo Augusta ganha bloco de Carnaval



Bloco Augusta é um dos mais novos do Carnaval de São Paulo Foto: DivulgaçãoBloco Augusta é um dos mais novos do Carnaval de São Paulo
Foto: Divulgação






Atenção você, paulistano, que vive nas cercanias da Avenida Paulista. Você que freqüenta os cinemas e bares da região, que pinga por ali à noite atrás da sofisticação de algumas das melhores baladas da cidade - ou apenas do fuzuê da rua e do sexo dito barato. Você, que passa de segunda a sexta pelo tronco-chave de São Paulo porque seu trampo é logo ali. Ou você, que conhece alguém que faz alguma dessas coisas. Não importa. Todos são agora convidados da mais recente novidade da região: o Acadêmicos do Baixo Augusta, pequenino bloco de carnaval que nasce este ano com pinta de futura escola de samba campeã.

"Tudo isso para celebrar a revitalização da região. Será muito legal ter o Baixo Augusta incluído na agenda do Carnaval. Tivemos a idéia no ano passado, quando nos encontramos em casamento de uns amigos em Paraty. A coisa amadureceu este ano, dividimos tarefas e aí está", disse Alexandre Youssef, dono do estúdio SP e, vejam só, presidente do Acadêmicos do Baixo Augusta. O bloco terá o cantor Simoninha como intérprete oficial, além da atriz Marisa Orth de madrinha de bateria e Greg Bousquet como Rei Mimo (versão moderna e magrela do Rei Momo).

O primeiro e único desfile do bloco acontecerá neste próximo domingo de pré-Carnaval, dia 7, com a saída dos foliões programada para a frente do bar Sonique (Rua Bela Cintra, 461), casa que é também parceira no projeto. Ali, um carro de som e uma banda com 10 metais e 5 percussões vão comandar a festa, que será ditada por marchinhas de Carnaval, além do hino do bloco, composto por Leo Madeira, Edu Crieguer, Plinio Profeta e Alexandre Youssef.

A concentração será das 14h às 16h, quando o bloco inicia seu trajeto, descendo a rua Bela Cintra em direção ao centro. Contudo, pouco adiante, na ladeira da rua Costa, o bloco quebra à direita em direção a rua Augusta. Na Augusta, os foliões farão curva para esquerda, novamente em direção ao centro, até o número 591 do Studio SP, quando acaba o desfile. Apenas 700 metros de muita alegria.

No último domingo, no Studio SP, ocorreu o único ensaio do bloco, quando algumas camisetas foram distribuídas. Mas Youssef avisa que ninguém terá privilégios no bloco. "É totalmente livre. Quem quiser, é só chegar e participar da festa". Outras camisetas serão distribuídas no dia, "nada ali será vendido", garante o presidente. "Não queremos que isso seja confundido com um negócio, é uma brincadeira entre amigos e só".

Brincadeira entre amigos, conhecidos e simpatizantes. Aos que gostam e freqüentam a região, ou aqueles que gostam mesmo é de Carnaval, ou mesmo aos simplesmente curiosos, o convite ta feito: domingo agora tem Carnaval na Augusta.

SP tem tradição em Blocos

Engana-se quem pensa que a história dos blocos de carnavais está restrita ao Rio de Janeiro. Unidos de Vila Carmozina, Caprichosos do Piqueri, Bloco Umes Caras Pintadas, Vovó Balão de Pirituba, Amigos da Zona Leste, Chorões da Tia Gê, o que não falta são blocos espalhados pela cidade - a maioria saindo nos dias de Carnaval.

Nos jardins, a banda Guéri-Guéri, fundada em 1986 por Roberto Matarazzo Suplicy (irmão do senador) foi durante anos um dos mais tradicionais blocos da cidade. Recentemente, a banda mudou o local de desfiles para as proximidades do Parque do Ibirapuera - onde não vingou.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

PROGRAMA MUNICIPAL DE FOMENTO AO TEATRO PARA A CIDADE DE SÃO PAULO

A Prefeitura do Município de São Paulo, através da Secretaria Municipal de Cultura, torna público que no período de 03 a  26 de fevereiro de 2010, estará recebendo no Departamento de Expansão Cultural, situado à Avenida São João, 473, 6o andar, nesta Capital, das 10 às 12h e 14 às 17h, de segunda a sexta-feira, inscrições de propostas dos interessados em participar do "Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo", de acordo com os dispositivos da Lei nº 13.279, de 08 de janeiro de 200208/01/02, observando-se, ainda os dispositivos deste Edital.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sob ataque o teatro entra em vigilia...

Na espera do que pode acontecer os grupos e artistas do teatro e da dança  ficam na espectativa de ter que enfrentar mais uma vez aqueles que deveriam de fato estar do nosso lado, mas parece que fazem de tudo para desmantelar o que com tanto esforço conquistamos ao longo desses anos...reunião hoje a tarde da comissão e a noite assembléia permanente e decisiva para talvez uma grande manifestação contra essa postura de engessamento e ilegalidade dos senhores da cultura de São Paulo...

O senhor secretario de cultura do municipio (Calil) desrespeita a lei (lei de fomento) com o discurso de estar cumprindo a lei...ou seja ele vira um fora da lei para fazer a lei? O que ele é? Um justiceiro?Se deseja mudar uma lei que mude no legislativo!E porque ao invés de descumprir a lei ele não propoe a criação de outras que aumentem a capacidade de fomentar mais e mais cultura na cidade? Esse governo parece que vai ficar marcado como o secretario que queria derrubar o fomento!!!

E a gente mais uma vez tem que parar as coisas da criação pra combater alem da enchente de água a enchente de lama que esse governo tenta nos impor...

"Quem é de rio...é de rio ...é de mar...o que se ganha de ogum, só ogum pode tirar..."

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

domingo, 17 de janeiro de 2010

Coisas como são...

"Se preocupar com o destino? Pra quê? De repente o destino tá aí, bem do seu lado..."

A coisa mais fina do mundo é o sentimento. (Adélia Prado)

Sou Eu

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconsequente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...


Álvaro de Campos

Bom tempo (1968) - Chico Buarque

Bom Tempo
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
O pescador me confirmou
Que o passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo

Do duro toda semana
Senão pergunte à Joana
Que não me deixa mentir
Mas, finalmente é domingo
Naturalmente, me vingo
Eu vou me espalhar por aí

No compasso do samba
Eu disfarço o cansaço
Joana debaixo do braço
Carregadinha de amor
Vou que vou
Pela estrada que dá numa praia dourada
Que dá num tal de fazer nada
Como a natureza mandou
Vou
Satisfeito, a alegria batendo no peito
O radinho contando direito
A vitória do meu tricolor
Vou que vou
Lá no alto
O sol quente me leva num salto
Pro lado contrário do asfalto
Pro lado contrário da dor

Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
Um pescador me confirmou
Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Ando cansado da lida
Preocupada, corrida, surrada, batida
Dos dias meus
Mas uma vez na vida
Eu vou viver a vida
Que eu pedi a Deus

sábado, 16 de janeiro de 2010

poesia

a vida vem do éter que se condensa mas o que mais no cosmo me entusiasma é a essencia microscópica do plasma fazer a luz do cérebro que pensa.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Kantor


 



Wielopole-Wielopole


 

TEATRO DA MORTE (1975)

O Teatro da Morte é uma ruptura com as etapas precedentes. Kantor descobre que nada expressa melhor a vida do que a ausência da vida. A morte se torna o tema central de seus últimos espetáculos: “A classe morta”, “Wielopole-Wielopole”, “Que morram os artistas”, “Aqui não volto mais” e “Hoje é meu aniversário”.




Algumas reflexões (trechos do manifesto) de Tadeusz Kantor sobre o teatro no final do séc. XIX, início do séc. XX, para um maior entendimento do Teatro da Morte.

1 - Craig afirma: “A marionete tem que voltar; o ator vivo deve desaparecer. O homem, criado pela natureza é uma ingerência estranha na estrutura abstrata de uma obra de arte. De acordo com a estética simbolista, Craig considerava o homem, submetido a paixões diversas, a emoções incontroláveis, como um elemento absolutamente estranha à natureza homogenia e à estrutura de uma obra de arte, como um elemento destruidor do caráter fundamental desta.

2 - Da mística romântica dos manequins e criações artificiais do homem do séc. XIX ao racionalismo abstrato do séc. XX.
Ao final do séc. XIX e início do séc. XX, assistimos a aparição da fé nas forças misteriosas do movimento mecânico que buscava superar em perfeição e implacabilidade ao tão vulnerável organismo humano. É a ciência ficção da época, na qual um cérebro humano demoníaco criava o homem artificial. Isto significava simultaneamente uma súbita crise de confiança com respeito à natureza, aos campos de atividade dos homens que lhe estão intimamente unidos.
Um movimento racionalista sempre mais afastado da natureza começa a desenrolar-se. Um mundo sem objeto, o construtivismo, o funcionalismo, o maquinismo, a abstração e o visualismo purista que reconhece simplesmente a “presença física” de uma obra de arte.

3 - O dadaísmo, ao introduzir a velocidade prévia, destrói os conceitos de homogeneidade e coerência de uma obra de arte, postulados pelo simbolismo e por Craig. Voltemos à marionete de Craig. Sua idéia de substituir um ator vivo por um manequim, uma criação artificial e mecânica, em nome da conservação perfeita da homogeneidade e da coerência da obra de arte, já não está em moda atualmente. Experiências anteriores, que destruíram a homogeneidade da estrutura de uma obra de arte ao introduzir nela, elementos “estranhos”, por meio de colagens e encaixes; o reconhecimento pleno do papel do acaso; a localização da obra de arte na estreita fronteira entre “realidade da vida” e “ficção artística” – tudo isto mostrou que foram insignificantes os escrúpulos do princípio do século, do período do “simbolismo” e da “Arte Noveau”.

Cada vez com mais força, se me impõe a convicção de que o conceito de vida não pode reintroduzir-se na arte mais que pela ausência de vida, no sentido convencional (outra vez Craig e os simbolistas). Interessei-me pela natureza dos manequins. O manequim da minha peça “A Galinha de Água” (1967) e os manequins de “Os Sapateiros” (1970), tinham um papel muito específico: constituíam uma espécie de prolongamento imaterial, algo assim como um órgão complementar do ator que era seu “proprietário”. Quando os utilizei em grande número em “Balladyna”, de Slowacki, constituíam os Duplos dos personagens vivos, como se estivessem dotados de uma consciência superior. Esses manequins já estavam visivelmente marcados pelo selo da Morte.”

Não penso que um manequim possa substituir, como queriam Kleist e Craig, o ator vivo. Seria fácil e por demais ingênuo. Esforço-me por determinar os motivos e o destino dessa entidade insólita que surgiu de maneira imprevista em meus pensamentos e em minhas idéias. Sua aparição confirma a convicção cada vez mais poderosa, de que a vida só pode ser expressada na arte por meio da falta de vida e do recurso à morte, através das aparências, a vacuidade, a ausência de toda mensagem. Em meu teatro, um manequim deve transformar-se em um modelo que encarne e transmita um profundo sentimento da MORTE e a condição dos mortos – um modelo para o ator vivo”.

Kantor toma distância em relação às conhecidas soluções que Craig ofereceu para o destino do ator: “já que o momento em que o ator apareceu pela primeira vez diante de um auditório me parece, muito pelo contrário, que é um momento revolucionário e de vanguarda... do círculo comum dos costumes e ritos religiosos, das cerimônias e atividades lúdicas, saiu Alguém, Alguém que acabava de tomar uma temerária decisão: a de separar-se da comunidade cultural. Seus motivos não eram nem o orgulho, nem o desejo de atrair sobre si mesmo a atenção de todos. Ele veio como um rebelde, um herético, livre e trágico, por haver ousado ficar só com sua sorte e seu destino. Se acrescentarmos “e com seu papel”, teremos diante de nós o ATOR. É seguro que esse ato, terá sido julgado como uma traição às tradições antigas e às práticas do culto. O ator foi relegado pela sociedade. Não só teve inimigos ferozes, como admiradores fanáticos. Vergonha e glória conjugados. Frente à comunidade levantou-se um HOMEM, exatamente igual a cada um dessa comunidade e, ao mesmo tempo, infinitamente distante, terrivelmente estranho, como que habitado pela morte. Igual à luz cegadora de um relâmpago, veio de repente a imagem do Homem, como se o vissem pela primeira vez, como se acabassem de ver-se a si mesmo. Foi, com certeza, uma comoção, que se pode qualificar de metafísica.

Foi dos espaços da Morte, que surgiu esse Manifesto Revelador e que provocou no público, essa COMOÇÃO METAFÍSICA. Os meios e a arte desse homem, o ATOR, se relacionam também com a morte, com sua beleza trágica e horrenda”.

Kantor diz que devemos devolver à relação espectador/ator, sua significação essencial. Devemos fazer renascer esse impacto original do instante em que um homem (ator) apareceu pela primeira vez frente a outros homens (espectadores), exatamente igual a cada um deles e, ao mesmo tempo, infinitamente estranho.

“Plantaremos”, diz Kantor, “os limites desta fronteira que se chama a condição da morte, porque constitui o ponto de referência mais avançado, e não amenizado por nenhum conformismo sobre a condição do artista e da arte. Só os mortos se fazem perceptíveis (para os vivos) e obtém assim, por esse preço, o mais elevado, sua singularidade, sua silhueta resplandecente, quase como no circo.”




 




 

Em “A Classe Morta”, peça dessa fase, Kantor aborda um conjunto de problemas essenciais, tanto para um artista preocupado com o desenvolvimento de sua própria idéia, como para um homem que busca definir-se a si mesmo em relação com a sociedade. Neste espetáculo se coloca em evidência o fato de que nosso passado termina por transformar-se em um “stock” esquecido e que, junto a sentimentos e retratos dos que alguma vez amamos, se mesclam sem nenhuma ordem, acontecimentos, objetos, roupas, pessoas. Sua MORTE só é aparente: basta tocá-los, para que comecem a fazer vibrar nossa memória e a rimar com o presente. Esta imagem não é o produto de uma nostalgia senil, mas traduz a A Classe Morta aspiração a uma vida plena e total, que abarca passado, o presente e o futuro.Cristina Tolentino ( cristolenttino@yahoo.com.br )


Kantor

TEATRO HAPPENING (1967)

Fazer surgir suas possibilidades e atividades “inatas”, “primárias”, criar uma zona de “preexistência” do ator que, todavia, não está ocupada pelo universo ilusório do texto. Como diz Kantor: “Quero que a realidade que o texto reivindica não se constitua fácil e superficialmente, senão que se una indivisivelmente com essa pré-existência (pré-realidade) do ator e que o cenário esteja arraigado nele e dele surja.” O ator não representa nenhum papel, não cria nenhuma personagem, não o imita. Longe de ser a cópia ou reprodução fiel de seu papel, o ator o assume, consciente de seu destino e de sua situação.

Esse ponto de vista expressa os princípios que acender as atividades do tipo happening. “Tomo previamente a realidade, os fenômenos e os objetos mais elementares, os que constituem a “massa” e a “pasta” de nossa vida de todos os dias, me sirvo deles, jogo com eles, tiro-lhes sua função e sua finalidade, desarmo-os, deixando-os levar uma existência autônoma, dilatar-se e desenrolar-se livremente”.

Um happening de autoria de Tadeusz Kantor:
“Pequeno local escuro”
Em todo o piso estão espalhadas massas de diários. Os diários estão dependurados em cordas como roupa, desde o teto até o solo, sobre o solo, em desordem. Pilhas de diários. No meio, uma banheira de ferro. Corre água fervendo, molha os montes de diários. Ruído de água, baforadas de vapor, nuvens inteiras de vapor. Diante da mesa uma mulher gorda passa os diários molhados. Joga baldes de água – a água corre por todas as partes, baforadas de vapor.

A mulher gorda molha os diários na banheira, passa os diários, grita, soletra, abre muito a boca, sílabas, vogais, consoantes, todo o alfabeto abc... números 1,2,3,4... as notas de solfejo dó, ré, mi... grita, joga água, canta, passa, baforadas de vapor.

Um alto falante, ruído confuso, entrecortado, informações, notícias políticas, locais, esportivas, criminais, jurídicas, previsão do tempo, enterros, casamentos, nascimentos, investigações policiais, arte. Cada vez mais vapor e gritos da gorda analfabeta.

Kantor


 



El loco e la monja (1963)


 

TEATRO ZERO (1963)

A realização do impossível é a suprema fascinação da arte e seu mais profundo segredo. Mais que um processo, é um ato da imaginação, uma decisão violenta, espontânea, quase desesperada frente à possibilidade súbita, absurda, que escapa aos nossos sentidos. Tadeusz Kantor diz que “reduzir a Zero” a prática cotidiana significa negação e destruição. Em arte, pode levar a resultado inverso. Reduzir a zero, nivelar, aniquilar fenômenos, sucessos, acidentes, é tirar o peso das práticas cotidianas, permitindo que se transformem em matéria cênica, livre de tomar forma.





“...cheguei à conclusão de que a obra de arte não pode hoje, estar hermeticamente encenada em uma convenção estável de conduta. Essa “exuberância” e essa “comodidade”, tão sedutoras em aparência me parecem suspeitosas, como se mascarassem o completo desaparecimento do poder de ação. O que tenho procurado criar é uma realidade, um conjunto de circunstâncias que não mantêm com o drama
nenhuma relação
nem lógica
nem analógica
nem paralela ou inversa.
Procuro criar um campo de tensões.
Este se cumpre em um clima de escândalo. Porém em arte chocar é o contrário. É um meio real de atacar o pequeno pragmatismo generalizado do homem de hoje, um meio de despejar o caminho de sua imaginação sufocada, de fazer-lhe captar conteúdos novos que não têm lugar dentro do pragmatismo e do espírito calculador.
O teatro que chamo Zero não representa uma situação zero já determinada. Sua essência é o processo orientado até o vazio e às zonas zero.
Desmontado de toda organização que se forme.
Decomposição geral de toda forma.
Repetição automática.
Desinformação. Deformação da informação. Decomposição da ação. Brandura (doçura) na representação. A representação representando a não representação. A representação imperceptível.
Os estados psíquicos estão isolados, são gratuitos, autônomos e como tais, podem ser fatores artísticos. “Apatia, melancolia, amnésia, associações desorganizadas, depressão profunda, falta de reação, desalento, vida vegetativa, excitação, esclerose, impotência completa, esquizofrenia, delírios maníacos, sadismos, etc.”
O espetáculo desta fase foi “El loco e a monja” (1963)


Kantor

TEATRO CRICOT 2 e o TEATRO INFORMAL (1961) O Teatro Cricot 2 propõe a idéia de um teatro que se realize como OBRA DE ARTE. Não unicamente um teatro em busca de valores plásticos, mas de atores desejosos de encontrar, no contexto com pintores e poetas de vanguardas, uma renovação total do método cênico. O Teatro Cricot 2 mostrou as possibilidades da liberdade na arte. As possibilidades de sua grande aventura, de seu gosto pelo absurdo e sua abertura para o impossível. O Teatro Cricot 2- trocou as relações entre o palco e o público. Um público instalado ao redor de mesas de café; o jazz e a dança constituíam uma realidade autêntica, viva, oposta a um auditório passivo, neutro, estacionado em fileiras de cadeiras dos teatros oficiais. Essa realidade foi prolongada para a rua. Associada com os acontecimentos da rua esta realidade queria reagir e retrucar rapidamente, onde uma opinião pública instantânea se impunha. “Há que se usar meios de expressão muito fortes, provocativos, contestáveis. As metamorfoses do ator, esse ato essencial do teatro, longe de camuflar-se, se exibem abertamente, se expõe.” (Kantor) Maquiagem exagerada, formas de expressão tomadas do circo, inversões e perversões de uma situação escândalo, surpresa, choque, pronúncia artificial e afetada, associações contrárias ao sentido comum. Situações cênicas insólitas, contrárias à lógica da vida de cada dia e regidas por uma lógica autônoma. Estados emocionais normais se transformam em angustiosas hipertrofias que alcançam um grau de crueldade, de sadismo, de espasmo, de voluptuosidade, de delírio febril, de agonia. Por sua insólita temperatura, estes estados biológicos perdem toda relação com a vida prática e transformam-se em material de arte. El Armário El Pulpo, Na Pequena Granja e El Armário são peças encenadas nesta fase. No programa do espetáculo de El Armário, havia o seguinte manifesto: “O teatro não é um aparato de reprodução literária. O teatro possui sua própria realidade autônoma. O texto dramático não é mais que um elemento El Armário encontrado, prévio, fechado. É um corpo estranho na realidade que se recria: a representação. ...objeto, movimento, som – sem intenção de ilustração recíproca, de interpretação, de explicação. A integração destes elementos se faz espontaneamente, segundo o princípio do “acaso” e não é explicável racionalmente. O circo é assim. Nele encontrará o teatro, sua força vital, seu princípio e sua purificação. O Circo atua de maneira desinteressada, arranca todas as camuflagens, as dignidades e o prestígio.” Cristina Tolentino ( cristolenttino@yahoo.com.br )

Kantor

TEATRO INDEPENDENTE (1942) O Teatro Independente foi organizado por Kantor em 1942, com um grupo de pintores jovens. Um teatro clandestino e experimental, durante a ocupação nazista e onde ele dirigiu Balladyna de Juliusz Slowacki (1942) e O Retorno de Ulisses de Stanislow Wyspianski (1944). “O Retorno de Ulisses do Sítio de Estalingrado. O abstracionismo, que existiu na Polônia até o inicio da II Guerra Mundial, desapareceu no período do genocídio em massa. [...] A arte perdeu seu poder. A re-produção estética perdeu seu poder. O ódio de um ser humano apoiado por outras bestas humanas amaldiçoou a a r t e. Só tínhamos força para agarrar o que estava mais próximo, O Objeto Real e chamá-lo de obra de arte! No entanto, era um objeto p o b r e, incapaz de realizar qualquer função na vida real, um objeto a ser descartado. Um objeto que foi desprovido de uma função vital que o salvaria. Um objeto despojado, sem função, a r t í s t i c o! [...] Uma cadeira de cozinha … Um objeto, que foi esvaziado de qualquer função vital, veio à tona pela primeira vez na história. Este objeto era vazio. Tinha que justificar sua existência a si mesmo e não às coisas que o cercavam e lhe eram estranhas. [E o fazendo, o objeto] revelava sua própria existência. E quando sua função era imposta a ele, essa ação era vista como se isso tivesse acontecido pela primeira vez desde o momento da criação”. Em O Retorno de Ulisses, Penélope, sentada em uma cadeira de cozinha, representou o ato de estar “sentada” como um ato humano acontecendo pela primeira vez. O objeto [físico] adquiriu sua função histórica, filosófica e artística. A peça O Retorno de Ulisses foi encenada não em um teatro, mas sim em uma sala que estava destruída. “Havia guerra e havia milhares de salas assim. Todas se pareciam: tijolos sem reboco por trás de uma camada de tinta, gesso caindo do teto, piso faltando tacos, pacotes abandonados cobertos de poeira, entulho espalhado por todos os lados, pranchas remanescentes de um convés de navio foram dispensadas ao horizonte dessa decoração, um tambor de revólver apoiado num monte de pedaços de ferro, um megafone militar pendurado por um cabo de aço enferrujado. A figura inclinada de um soldado com capacete usando um sobretudo surrado [de um soldado alemão] em pé contra a parede. Nesse dia, seis de junho de 1944, ele se tornou parte dessa sala". (Michal Kobialka) Credo (Manifesto Teatro Independente)) “Uma obra de teatro não se olha como se olha um quadro pelas emoções estéticas que procura: é vivenciada em concreto. Não tenho nenhum tubo estético Não me sinto sujeito aos tempos passados, Não os conheço e não me interessam. Só me sinto comprometido com esta época em que vivo e com as pessoas que vivem ao meu lado. Creio que um todo pode conter ao mesmo tempo barbaridade e sutileza, tragédia e comédia, que um todo nasce de contrastes e quanto mais importantes são esses contrastes, mais esse todo é palpável, concreto e vivo”. Cristina Tolentino ( cristolenttino@yahoo.com.br )

O OUTRO PÉ DA SEREIA

Mia Couto é um escritor de Moçambique...que adora Guimaraes Rosa..e esse espetaculo é dirigido pelo Roberto Rosa um amigo meu e um cara de teatro mesmo...assistam!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Vsevolod Meyerhold

Vsevolod Meyerhold Data de Nascimento: 1874 Data de Falecimento: 1940 Bibliografia Descendente de alemães, Vsevolod Meyerhold nasceu em Penza, Russia, em 1874. Foi a Moscou estudar direito, mas deixou a escola em 1896 e se embrenhou nas aulas de Vladimir Nemirovich-Danchenko, no Moscow Philharmonia. Em 1898 foi convidado a se juntar a trupe do recém fundado Teatro de Arte de Moscou, de Stanislavski. Templo do naturalismo e do realismo psicológico, o Teatro de Arte foi a grande escola de Meyerhold, que em 1902 decide percorrer caminhos próprios fundando uma nova trupe, a Sociedade do Drama Novo. Farto do naturalismo, Meyerhold vai inspirar-se no impressionismo, no cubismo e finalmente no expressionismo alemão para desenvolver uma pesquisa de trabalho muito particular. Propôs uma nova abordagem: um teatro que “intoxicaria o espectador com força dionisíaca do eterno sacrifício”, um teatro estilizado como substitituto da “fantasia apolínea” sugerida pelo naturalismo. A partir de pesquisas com a commedia dell’arte, as improvisações, a pantomima, o grotesco e o simbolismo cênico, desenvolveu uma disposição frontal das personagens com pesquisas voltadas à dicção do ator e com a substituição da cenografia complexa do naturalismo pela iluminação como síntese. Criou o teatro de linha reta, no qual o ator, juntamente com o autor, o diretor e o público são criadores absolutos do fenômeno teatral. Embora a participação do público fosse apenas emocional, nunca física, através de sua imaginação que deveria ser empregada “criativamente a fim de preencher os detalhes sugeridos pela ação do palco”. Desta forma, libera o ator e força o espectador a passar de uma simples contemplação, ao ato criador: Também aproxima-se do movimento construtivista que buscava no campo das artes plásticas e da arquitetura uma arte baseada no materialismo, desvinculada de toda a herança cultural idealista do passado e, tomando o princípio da beleza funcional e utilitária, elabora a teoria da biomecânica. Desta forma, a criação artística deixa de ser uma cópia do real para se tornar uma reflexão da realidade, priorizando a relação do intérprete com o público através de jogos que pudessem revelar e intensificar os traços psicológicos de ambos. Meyerhold defendeu a teatralidade e a estilização e propôs uma dialética de opostos: a farsa contra a tragédia e a forma contra o conteúdo de modo a forçar o espectador a encontrar uma visão mais apurada da realidade e “decifrar o enigma do inescrutável”. Em 1905, Stanislavski estava perdido. Se por um lado gozava de respeito e prestígio por ter encenado as famosas produções de Tchekhov e Gorki, por outro era alvo fácil dos simbolistas que o consideravam ultrapassado. Até este momento, não havia desenvolvido nenhuma teoria significativa sobre o seu método de trabalho. Convida, então, Meyerhold para dirigir mais uma vez o seu Estúdio. Meyerhold traz para o Teatro de Arte algumas das questões que o haviam motivado a deixar a companhia anos atrás, nomeadamente sua aversão ao teatro naturalista e ao realismo psicológico. Mais uma vez, Stanislavski e Meyerhold irão se desentender artisticamente e o projeto de desenvolverem novamente um trabalho em conjunto é desfeito. Apesar de Meyerhold e Stanislavski serem tratados como opostos teatrais – um preocupado com a teatralidade, outro com o conteúdo interno – os dois se admiravam e respeitavam mutuamente. Meyerhold foi sempre um crítico e admirador persistente do Teatro de Arte e declarou certa vez: “serei sempre um aluno de Stanislavski”. Stanislavski, em outra ocasião, o chamou de “filho pródigo”. De fato, os dois estavam sempre em processo de troca. Quando a Revolução Russa aconteceu em 1917, Meyerhold rapidamente se juntou ao Partido Comunista e em 1920 foi apontado como o cabeça da divisão teatral do People's Commissariat for Education. Desde sempre inquieto, a partir de 1924 começa a divergir do percurso tomado pelo Partido Comunista Soviético, que exige que o teatro desempenhe uma proposta ideológica na construção do socialismo, com obras que reflitam o cotidiano, conceito básico do realismo socialista. Com a montagem de O Inspetor Geral, em 1926, Meyerhold irá atingir o auge e também prenunciar o fim de sua brilhante carreira. Foi perseguido pela crítica oficial, pela classe teatral e por toda uma geração de artistas. Isolado e solitário, passou a fazer frente ao período mais sombrio do stalinismo. Sua reputação, no entanto, não é de todo abalada. Em 1935, Stanislavski irá dizer: “o único encenador que conheço é Meyerhold”. Nos mais recentes anos comunistas, Meyerhold encenou várias produções notáveis incluindo a primeira produção de Mystery-Bouffe de Mayakovsky (1918). No começo de 1922, encenou várias produções construtivistas famosas, incluindo The Magnificent Cuckold de Fernand Crommelynk e The Death of Tarelkin de Alexander Sukhovo-Kobylin. Em 1923 tinha sua própria trupe em Moscou, encenando produções inovadoras de clássicos e novos trabalhos. Talvez as mais conhecidas dessas produções foram The Mandate de Nikolai Erdman (1925), Dead Souls de Nikolai Gogol (1926), e The Bedbug de Vladimir Mayakovsky (1929). Sempre contestadora, a carreira de Meyerhold é ameaçada quando, em 1938, o seu teatro é fechado por decreto, com a justificativa de que ali havia “difamações hostis contra o estilo de vida soviético”. Stanislavski irá surpreender a todos convidando Meyerhold a trabalhar com ele no novo Teatro Ópera Stanislavski. Era uma decisão valente oferecer proteção a alguém que caíra em desgraça diante do sistema. Mas Stanislavski sabia o que estava fazendo e, aceitando as responsabilidades de sua decisão, alegou: “Precisamos de Meyerhold no teatro. Ele é meu único herdeiro”. Stanislavski morreu em agosto de 1938, aos 75 anos, e foi enterrado ao lado de Tchekhov. Meyerhold morreu em fevereiro de 1940, aos 66 anos, fuzilado na prisão pelas tropas do regime de Stalin. Fora detido algum tempo antes, pelo Congresso Geral dos Diretores Teatrais, por ter se negado a participar da manifestação pública de submissão e retratação artística. Sua mulher, a atriz Zinaída Raikh e também primeira atriz de sua companhia, foi encontrada morta em seu apartamento, pouco tempo depois da prisão de Meyerhold. MAIS SOBRE A TEORIA BIOMECÂNICA O ápice das pesquisas ensejadas por Vsevolod Meyerhold foi a teoria que denominou de biomecânica, recurso que, de maneira genérica, transformava o corpo do ator em uma ferramenta, um títere a serviço da mente. As atuações pelo método da biomecânica possuíam movimentos amplos, exagerados (mas não supérfluos) e tensos, incrivelmente tensos. A capacidade comunicativa dos gestos e expressões, ou seja, a linguagem corporal, dentro da biomecânica, subjugou a linguagem oral a ponto de muitas entonações serem feitas de forma quase que inflexível. Dentro da biomecânica o cinético e o estático têm valores semelhantes, tal qual nos teatros populares nipônicos. E o corpo do ator é entendido como mais um objeto de cena, portanto sua disposição em relação ao cenário tem importante papel como elemento de comunicação visual. Por essas razões, outros elementos típicos do teatro de Meyerhold, como a iluminação, cenário e figurino estilizados e antinaturalistas são essenciais para o perfeito funcionamento da biomecânica. O cineasta, ex-aluno e amigo de Meyerhold, Sergei Eisenstein, utilizou a técnica da biomecânica em seus filmes Ivan, o Terrível Parte I e Ivan, o Terrível Parte II. Para maiores informações: www.meyerhold.org

CALIL NOVAMENTE INVESTE CONTRA A LEI QUE ELE PARECE NÃO GOSTAR!

Ataque à Lei de Fomento Convocamos todos os artistas de teatro e de dança e interessados solidários à cultura para comparecer ao ato em defesa das leis de fomento ao teatro e dança. Na ocasião, o Secretário Municipal de Negócios Jurídicos de São Paulo, Cláudio Lembo, irá receber o movimento teatral e vereadores para discutir as questões jurídicas referentes à Lei de Fomento. . Neste momento a lei do Fomento ao Teatro corre sério risco. O próximo edital poderá ser enquadrado no decreto do prefeito Kassab, que criou modelo de convênios para o Município de São Paulo que muda radicalmente o espírito democrático da lei e abre caminho para privatização da cultura. Queremos o cumprimento da Lei do Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo tal como foi elaborada, a partir de uma amplo debate que envolveu artistas, parlamentares e a sociedade paulistana. É IMPORTANTÍSSIMA A PRESENÇA DE TODOS. PEDIMOS QUE TODOS OS GRUPOS TRAGAM MATERIAIS (baneres, cartazes, figurinos, cenas) DE SEUS TRABALHOS, PARA EXIBIRMOS PUBLICAMENTE. Concentração: Teatro Municipal Horário: segunda-feira, 18/01/2010, às 9:30h Em seguida caminharemos até a sede da Prefeitura, próximo à Praça do Patriarca
"quando se está em alto mar, ele é uma imensidão sufocante."

Para imaginar...criar... Pinturas de Caravaggio

giovanna galdi

Nesse site vc pode baixar livros, musicas e filmes...

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do

por Marcelo de Almeida Toledo

Me lembro mesmo de uma noite na cidade de Arinos na beira do Urucuia.Estavamos sentados na calçada em frente do hotel.Calçada é modo de dizer porque era mais um terreiro que se continuava num gramado,até o rio. A prosa era geral e tratava de compra e venda de terras, especulaçoes de corretores e essas coisas.Gente atribulada com pressa de viver, ganhar e gastar. E eu quieto. Em certo ponto me perguntaram: "E o senhor, veio atras de terras também?" Disse que sim porque no pé da palvra era o que eu tinha ido ver.Mas como explicar a todos que eu estava seguindo o itinerario de uma pessoa que nao existiu, saída da cabeça de uma outra que ja tinha morrido?Desconversei.

*Este homem seguiu a trilha de Riobaldo em 1980.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Com ciência

"Havia já alguns anos que começara a ter consciência do peso do próprio corpo. Reconhecia os sintomas. Lera a respeito deles nos textos, confirmara-os na vida real, em pacientes mais velhos sem antecedentes graves que de repente começavam a descrever síndromes perfeitas que pareciam tiradas dos livros de medicina, e que no entanto se comprovavam imaginárias. Seu professor de clínica infatil de La Salpêtrière o aconselhara a pediatria como a especialidade mais honesta, porque as crianças só adoecem quando na realidade estão doentes, e não podem se comunicar com o médico com palavras convencionais e sim com sintomas concretos de doenças reais. Os adultos, em compensação, a partir de certa idade, ou bem tinham os sintomas sem as doenças, ou algo pior: enfermidades graves com sintomas de outras inofensivas. Ele os entretinha com paliativos, dando tempo ao tempo, até que aprendiam a não sentir seus achaques à força de conviver com eles na lixeira da velhice. Numa coisa nunca pensara o doutor Juvenal Urbino, e era que um médico da sua idade, que julgava ter visto tudo, não pudesse superar a inquietação de se sentir doente quando não estava. Ou pior: não crer que estava, por puro preconceito científico, quando talvez na realidade estivesse. Já aos quarenta anos, meio a sério meio de troça, dissera na cátedra: "A única coisa de que necessito na vida é que alguém me entenda.""

GGMárquez (O amor nos tempos do cólera)

Ibán

JULIEN DUPRÉ



giovanna galdi

PAUL CÉZANNE



giovanna galdi

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

diderot...

Verdade paradoxal do comediante em Diderot



Um dos aspectos mais relevantes das obras de Diderot (1713-1784) é a questão que ele propõe sobre as atividades do teatro francês e do ator de teatro. Para o primeiro, Diderot irá investir criticamente contra a estética que se apresenta, isto é, o teatro francês é inócuo, não suscita emoções, é convencional e incapaz de criar uma ilusão naquele que ao assiste e, por isso, peca pela artificialidade que se apresenta ao público. Ainda, regido por regras arbitrárias, o teatro francês é racional, discursivo e se expressa apenas para poucos espectadores, "escrito em um estilo alambicado, obscuro, tortuoso, empolado, está cheia de idéias comuns" (Diderot, René. Paradoxo sobre o comediante in A Filosofia de Diderot, Editora Cultrix, p. 165)

Embora se encontrem opiniões sobre os textos de Diderot que convergem para sentidos opostos, umas dizendo que a sua obra é entrecortada por inclinações opostas, outras dizendo que as inclinações se alteram no decorrer dos escritos, pois os objetos mudam e por isso as idéias, que por si só são pontos de reflexão e plenas de atividades, mudam de acordo com a complexidade do objeto, há uma insistência e constância nas suas concepções teóricas. Para Diderot, em toda a sua trajetória, a função do teatro continua a mesma, isto é, a arte cênica é a imitação da própria vida; a realidade com qual a platéia deve se fundir, um a outro, a ponto de tomar para si a ficção pela realidade. O teatro ultrapassa a barreira do preconceito e do mero entretenimento, Diderot acredita que este deve transtornar o espectador ao ponto de abalar e causar-lhe um efeito duradouro, uma impressão que não se dilua após o espetáculo. O filósofo e dramaturgo participa um teatro como meio de comunicação, inspirado e desempenhado a favor de uma moral social, que possa agir sobre o público a partir de uma estética bem elaborada que suscite emoções de certo modo permanente no espectador, fazendo vir à tona a finalidade comum das artes, que é: "fazer com que o homem ame a virtude e odeie o vício" (Matos, Franklin de, O Filósofo e o Comediante, Ed UFMG, p.29).

Desse modo, nesta trajetória, surge uma dramaturgia na obra de Diderot que promove a observação da natureza, não da natureza por ela mesma, mas uma observação refletida sobre modelos ideais, que ao reproduzi-los autor e ator se apliquem com ênfase na movimentação estilizada ao que é natural e ao abandono da proporção e da simetria. Pois, se por um lado o discurso elaborado é agradável aos ouvidos, por outro ordena as coisas e inibe as paixões. Assim, "compete à natureza dar as qualidades da pessoa, a figura, a voz, o julgamento, a sutileza. Compete ao estudo dos grandes modelos, ao conhecimento do coração humano, à prática do mundo, ao trabalho assíduo, à experiência e ao hábito do teatro, aperfeiçoar o dom da natureza. " (Diderot, opus cit, p. 165). Embora, como comenta o professor Franklin de Matos, este movimento da estética de Diderot nasça de um conceito de mimesis que se baseia na sensibilidade, espontaneidade, entusiasmo e se inclina, devido à experiência, quer como dramaturgo, quer como critico de arte; para a frieza, tranqüilidade e penetração, Diderot não abandona a sua crítica principal ao teatro clássico francês e a proposta de uma reforma da cena teatral.

Para o segundo, retomando: o ator, Diderot afirma: "o comediante que representar com deliberação, com estudo da natureza, com imitação constante segundo algum modelo ideal, com imaginação, com memória, será um e o mesmo em todas as representações, sempre igualmente perfeito, tudo foi medido, combinado, apreendido, ordenado em sua cabeça (...)Ele não será desigual: é um espelho sempre disposto a mostrar objeto e a mostrá-los com a mesma precisão, a mesma força e a mesma verdade" (Diderot, opus cit, p. 167-168). Em suma, o autor pode ser em si mesmo verdadeiro sendo outro. À medida que o ator se apresenta frio, tranqüilo e compenetrado, mais ele terá o controle e domínios das suas emoções e assim, formando o paradoxo, ele poderá representar (imitar) de modo verdadeiro as emoções da personagem diante do público.

O teatro é visto, neste momento das reflexões de Diderot, como um teatro das inflexões, que privilegia os componentes pré-verbais, isto é, a desarticulação de idéias, os monossílabos, os ruídos, os gritos, o que coloca a palavra em segundo plano com a ascensão das emoções. Mas isto não tira das mãos do poeta o valor da sua composição? Não, apesar do paradoxo que se forma mais uma vez, desde que o teatro seja visto como a voz do discurso do poeta, este movimento em verdade aproxima o ator da energia das palavras e das cenas que são postas aos seus cuidados, o verdadeiro palco, afirma Diderot, "é a conformidade das ações, dos discursos, da figura, da voz, do movimento, do gesto, com um modelo ideal imaginado pelo poeta, e muitas vezes exagerado pelo comediante. Eis o maravilhoso" (Diderot, opus cit, p. 175). Ainda que nenhuma língua seja capaz de dar conta da delicadeza e diversidade de uma emoção, as palavras do poeta, na perspectiva de Diderot, emergem da motricidade corporal com que o ator as representa no palco, a emoção brota da realidade observada e escrita pelo poeta, que pode agora indicar a energia passional que o seu texto exprime. O paradoxo de Diderot envolve duas "verdades" que aparentemente se afastam, mas que, de fato, se harmonizam a favor da perfeição. A perfeição das obras se medem pelo seu poder de iludir (Matos, Franklin de, opus cit, p.38), isto é, a cena de teatro perfeita é aquela que o público toma como verdadeira, sendo em si uma ilusão.

Porfírio Amarilla

Filósofo pela USP/FFLCH

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Da vez primeira em que me assassinaram

Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...

Depois, de cada vez que me mataram,

Foram levando qualquer coisa minha... 

(Mario Quintana)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Bonito isso...quem escreveu ? ela ? ele ?

ESSES VAZIOS...

Ela nasceu no mar e era inteirinha amor ao mar.

Ela bebia do mar tudo o que via,

e o mar nela morava e o mar ela o namorava:

a imensidão azul mistério,

as coisas que viviam nas suas funduras...

Sua pele brincava com a água

e se arrepiava toda quando a brisa lhe fazia cócegas.

Em seus olhos se viam gaivotas de brancas asas

e barcos a vela ao vento.

Quem lhe ouvisse o coração a bater

juraria que eram ondas...

Mas havia uma coisa que ela não podia entender:

era uma tristeza, suave, nostalgia.

Não lhe bastava o mar infinito.

Havia os vazios, desejos, ausência imensa,

saudade de algo que lhe faltava.

E ela sonhava com coisas longínquas, e as amava:

floresta que nunca vira

e pensava que seria bom se um dia

o mar e a selva se encontrassem

e o azul e o verde se misturassem...

giovanna galdi

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Silêncio, companheira de si. A menina que se arruma, come, dormi frenética, acorda a noite e briga com as memórias. Tem unhas cor de coral, olheiras. Ela morra num quarto com varanda marrom. Esta fabricando um altar de santos amigos seus, quer ter sua "igrejinha" perto da cama, ao alcance das mãos, na hora do pesadelo. Tem uma nossa senhora pequenina pendurada no peito. Nesses dias de festa no mundo, resolveur ir atrás da FÉ, que sumiu à bastante tempo sem lhe dizer pra onde foi e quando voltará.

Mas manteve-se firme, satisfeita por estar espiando a falta de haver sido feliz e haver deixado de sê-lo por sua livre vontade. Depois sorriu. E depois estirou-se na cadeira e humanizou-se por completo. GGM

Ele me calou e pediu o silêncio dos peixes. Cantou as águas, falou segredos aos meus pés. O rio em mim..beira de mim...o rio

Tudo tão vago... Sei que havia um rio...

Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...

E ao monótono embalo do acalanto

O choro pouco a pouco se extinguiu...




O menino dormira... Mas o canto

Natural como as águas prosseguiu...

E ia purificando como um rio

Meu coração que enegrecera tanto...




E era a voz que eu ouvi em pequenino...

E era Maria, junto à correnteza,

Lavando as roupas de Jesus Menino...




Eras tu... que ao me ver neste abandono,

Daí do Céu cantavas com certeza

Para embalar inda uma vez meu sono!...

(Mario Quintana)

giovanna galdi

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

HISTORA DE LA NOCHE

A lo largo de sus generaciones

lo hombres erigieron la noche.

En el principio era ceguera y sueño

y espinas que laceran el pie desnudo

y temor de los lobos.

Nunca sabremos quién forjó la palabra

para el intervalo de sombra

que divide los dos crepúsculos;

nunca sabremos en qué siglo fue cifra

del espacio de estrellas.

Otros engendraron el mito.

La hicieron madre de las Parcas tranquilas

que tejen el destino

y le sacrificaban ovejas negras

y el gallo que presagia su fin.

Doces casas le dieron los caldeos;

infinitos mundos, el Pórtico.

Hexámetros latinos la modelaron

y el terror de Pascal.

Luis de León vio en ella la patria

de su alma estremecida.

Ahora la sentimos inagotable

como un antiguo vino

y nadie puede contemplarla sin vértigo

y el tiempo la ha cargado de eternidad.

Y pensar que no existiría

sin esos tenues instrumentos, los ojos.

Borges (La rosa profunda, 1975)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Grafite

O que resta da gente quando tudo está pintado de branco?
Que venha uma parede azul, outra vermelha, outra verde e ainda outra amarela... intensas!!!
Cores injetadas, introjetadas e expurgadas. O que se vê se consome ou pelo menos queria assim: comer cores e expurgá-las.
SIM, É PRECISO FICAR!!!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

"Há viagens que só se fazem por dentro. Por isso é preciso ficar

giovanna galdi

Saudade

saudade é o revés de um parto
saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu

postado por giovanna galdi
ABERTURA MICRO SERIE "A CASA"

EXTERNA/DIA CAMERA MOSTRA UM SERTÃO COM SOMBRA, RIO, UMA VEREDA ENORME, UMA LONGA EXTENSÃO DE TERRA E AO LONGE SE VE UM TREM PASSANDO DISTANTE DE TUDO. TUDO ISSO DE MUITO LONGE. LENTAMENTE A CAMERA SE APROXIMA E VAI FOCANDO UMA PEQUENA MULTIDÃO NUMA ESTRADINHA DE TERRA...AOS POUCOS VAI APROXIMANDO...

CENA 1- EXTERNA / DIA / SERTÃO IMAGEM DE UMA PROCISSÃO DE PÉS DESCALÇOS, BOTINAS E CHINELAS...SOBRE UMA RUA DE CHÃO E CAPIM, MARCHAM COM UMA CANTORIA RELIGIOSA...OUVE-SE O BARULHO DE TREM SE CONFUNDINDO LENTAMENTE COM O CANTO.

CENA 2 - EXTERNA/DIA/TREM CAMERA APROXIMADA EM CLOSE-UP NOS OLHOS DE MESSIAS QUE DORME NO BANCO DO TREM E ACORDA DE SOBRESSALTO. OLHANDO PARA FORA PELA JANELA DO TREM, VE A PROCISSÃO AO MESMO TEMPO EM QUE A MÃE QUE VAI À FRENTE NA PROCISSÃO DESFERE UM OLHAR PARA MESSIAS NA DIREÇÃO DO TREM.

 CENA 3- EXTERNA/DIA/ESTAÇÃO DE TREM DE CORDISBURGO MESSIAS DESCE DO TREM COM A CAMERA FOCANDO SEU ROSTO E SUAS MÃOS EM PLANO DETALHADO, ELE SEGUE EM DIREÇÃO AO ARMAZEM QUE FICA EM FRENTE DA ESTAÇÃO.

MESSIAS – Boa tarde?

João – Boa tarde moço, deseja algo pra comer?A comida casera ta saindo agorinha..

MESSIAS-(OBSERVA UM QUADRO NA PAREDE ONDE TEM UMA FOTO DE UM GAROTO COM UM PEIXE NA MÃO) Ah...Sim eu vou almoçar...

 João- O moço veio pra visitar argúem ou veio pras festas de santá?

MESSIAS-Eu vim pra visitar uns amigos e também pra festa da santa...o senhor sabe se ainda existe a casa do rio?

 João- a casa do rio?o senhor cunhece lá? O senhor tem parente aqui?

MESSIAS-Minha mãe viveu aqui...e eu sai daqui ainda guri...mas isso aqui ta muito mudado...aff...quase nem se vê mais o pasto...

 João- é o futuro que chegou em cordis e arrasou toda a cidade...é uma vergonha o que fizeram cum isso aqui...

MESSIAS- Deixe eu lhe perguntar uma coisa...esse menino da foto é seu parente?

 João-Ah...esse ai é meu parente por parte de esposa...é o vilsinho pescador...ele morreu menino ...o povo todo daqui adora ele até hoje..o prefeito mais antigo já colocou até nome de praça pra ele aqui...o senhor conheceu? (MESSIAS OLHA FIXO PRA IMAGEM NA PAREDE (RETRATO)

 TRANSIÇÃO PARA O PASSADO SOB O PONTO DE VISTA DE MESSIAS A CAMERA APROXIMA NO QUADRO NA PAREDE E A IMAGEM DA FOTO GANHA VIDA E O PASSADO SE FAZ PRESENTE O JOVEM VILSINHO ESTA FELIZ COM O AMIGO XININHO ACABA DE PEGAR UM PEIXE...ESTÃO NA BEIRA DO RIO.

 1º BREAK COMERCIAL

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

TEXTO MEU COM PROTOCOLO DA CENSURA FEDERAL...

[caption id="attachment_271" align="aligncenter" width="232" caption="Tinha uma banca com sete policiais e eles ouviam(ja de saco cheio) os atores lerem o texto...."]texto meu solicitando autorizaçao da censura federal...[/caption]

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Garrafa de Lágrimas

Se eu for embora de mim
te mando o endereço,
te mando o contexto
da vinda e do fim.
Pode ser que eu volte
e revolte e retorne de novo
insistindo em olhar de novo e renovo.
Misturança de semelhança.
Suas pegadas são marcas amargas
de véu e grinalda
na porta de entrada do meu coração,
que por fim se fechou e de roxo pintou
a esperança de mim.
Se sob o orvalho sinto
o retalho de uma história sem fim,
repico de vermelho todo o espelho
da ausência de ti.

(por Patricia Ferreira)

sábado, 19 de dezembro de 2009

"Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmos sem vagas e aréias,
Há sempre um copo de mar
Para um homem navergar."
*Jorge de lima

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

CARREGO COMIGO

CARREGO COMIGO

Carrego comigo

há dezenas de anos

há centenas de anos

o pequeno embrulho.

Serão duas cartas?

sré uma flor?

será um retrato?

um lenço talvez?

Já não me recordo

onde o encontrei.

Se foi um presente

ou se foi furtado.

Se os anjos desceram

trazendo-o nas mãos,

se boiava no rio,

se pairava no ar.

Não ouso entreabri-lo.

Que coisa contém,

ou se algo contém,

nunca saberei.

Como poderia

tentar esse gesto?

O embrulho é tão frio

e também tão quente.

Ele arde nas mãos,

é doce ao meu tato.

Pronto me fascina

e me deixa triste.

Guardar um segredo

em si e consigo,

não querer sabê-lo

ou querer demais.

Guardar um segredo

de seus próprios olhos,

por baixo do sono,

atrás da lembrança.

A boca experiente

saúda os amigos.

Mão aperta mão,

peito se dilata.

Vem do mar o apelo,

vêm das coisas gritos.

O mundo te chama:

Carlos! Não respondes?

Quero responder.

A rua infinita

vai além do mar.

Quero caminhar.

Mas o embrulho pesa.

Vem a tentação

de jogá-lo ao fundo

da primeira vala.

Ou talvez queimá-lo:

cinzas se dispersam

e não fica sombra

sequer, nem remorso.

Ai, fardo sutil

que antes me carregas

do que és carregado,

para onde me levas?

Por que não me dizes

a palavra outra

oculta em teu seio,

carga intolerável?

Seguir-te submisso

por tanto caminho

sem saber de ti

senão que te sigo.

Se agora te abrisses

e te revelasses

mesmo em forma de erro,

que alívio seria!

Mas ficas fechado.

Carrego-te à noite

se vou para o baile.

De manhã te levo

para a escura fábrica

de negro subúrbio.

És, de fato, amigo

secreto e evidente.

Perder-te seria

perder-me a mim próprio.

Sou um homem livre

mas levo uma coisa.

Não sei o que seja.

Eu não a escolhi.

Jamais a fitei.

Mas levo uma coisa.

Não estou vazio,

não estou sozinho,

pois anda comigo

algo indescritível.

Drummond – A Rosa do Povo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

RECADO DE UMA ESTRELA CADENTE

Vim do alto
Com as eternas luzes das estrelas
E também de fogo
Sem jeito
À terra me jogo
Quem me socorre das pernas?
Meu coração aos poucos anoitece.


(giovanna galdi)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

De-janeiro

"Ainda o senhor estude:agorinha mesmo,nestes dias de época,tem gente porfalando que o Diabo próprio parou de passagem,no Andrequicé"(Grande Sertão:Veredas)

Nos diversos pontos o capim insiste em beijar os joelhos.Com altos passos vou avançando mais.A estradela é serpentiosa no sertão.À destra só o fechado verde-escuro.Se paro a marcha ouço a música:orquestra de Deus...juriti do papo amarelo...o ronque-chonque imparável de águas que não vejo.Na canhota,o touro apraz me observa.O mormaço as vezes até incomoda.Por trás taurino,serras se fogem dos olhos.Vez e outra o fétido perfume de mangas já caídas.Pista que começa a se abarrancar ao baixio.Nova chusma de vapor no rosto.Bem mais baixo,toco o moribundo corguinho.Ele vem de não sei bem longe...fica todo alegre só de saber seu fim.Todo fim não é uma forma de (re)começo?Fui traído pela pinguela de improviso.É as águas no querer me tragar.Me agarro à raízes:pé molhado é lama certa;a subida é cuidadosa;deve.Estou me apequenando...gigantes são sempre maiores que nós.Estou mudo.Contemplo:a luta da barrenta é inútil."Vou berando...",o Chico é isso:maior grande.Na revoada o pena-branca é pescador.Devia de se existir peixes que voam...esqueço de tudo.

Primavera do Ser-tão

Cordisburgo,23 de novembro de 2009

(por Marcus Martins)

Barqueiro

O pesca-peixe vai a bordo do seu Pepe Medina;avista o gigante à frente:"diante de ti admito-me um fraco".(Marcus Martins)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Para uma saudade de Cordisburgo

Da MINHA ALDEIA vejo quanto da terra se pode ver no Universo...

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena

Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,

Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,

Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos

nos podem dar,

E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

 

 

 

O Guardador de Rebanhos  - VII (1911-1912)

Ricardo Reis / Fernando Pessoa

Ao Comandante Rudifran travestido de Dom Diniz

SEXTO / D. DINIZ

Na NOITE escreveu um seu Cantar de Amigo

O planador de naus a haver,

E ouve um silêncio murmurou consigo:

É o rumor dos pinhaes que, como um trigo

De Imperio, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,

Busca o oceano por achar:

E a falla dos pinhaes, marulho obscuro,

É o som presente d'esse mar futuro,

É a voz da terra ansiando pelo mar.

 

 

Fernando Pessoa

O Eu Profundo e os Outros Eus

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Tobias e Dindi

Tobias é a melhor rima pra Dindi, e como Redimunho rima com o mundo, e o mundo o que mais tem é saudade... um dia eu morrerei na coleira pra não correr o risco de morrer longe de um amor.

Vocês estão entendendo o que é anáfora?

Pelo amor de Deus, a gente pode voltar naquela mesa daquela noite só pra explicar mais um pouquinho?

domingo, 29 de novembro de 2009

Meu barco es Caçacheiro....

Rio moreno, de costas largas
Com cheiro de mar e cor do sertão.


                                                   Gabriel Stippe

Meu barco é o “Andorinha”

“O barulho do encontro das águas de um rio é como o marulho das ondas do mar, que gargalha como que dizendo: água, aqui jamais voltarás!”

Carlos Mendes

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pisa, caboclo

Ôi

Pisa, caboclo,

quero ver você pisar

Pisa lá que eu piso cá

quero ver você pisar

*Pisa, caboclo, quero ver você pisar

Na batida do meu samba

quero ver você dançar

*Pisa, caboclo, quero ver você pisar

Pisa lá que eu piso cá

quero ver quem vai pular

*Pisa, caboclo, quero ver você pisar

Na batida do meu gunga

quero ver você pular

*Pisa, caboclo, quero ver você  pisar

ê Ogum ê

oi tada que o ma lembé

ê Ogum ê

oi tada que o ma lembé

ê Ogum ê

oi tada que o ma lembé

ê Ogum ê

oi tada que o ma lembé

ê Ogum ê

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

De repente, na altura, a manhã gargalhou: um bando de maitacas passava, tinindo guizos, partindo vidros, estralejando de rir. E outro. Mais outro. E ainda outro, mais abaixo, com as maitacas verdinhas, grulhantes, incapazes de acertarem as vozes na disciplina de um corpo.(...) E agora os periquitos, os periquitinhos de guinchos timpânicos, uma esquadrilha, sobrevoando... E mesmo, de vez em quando, discutindo, brigando, um casal de papagaios ciumentos. Todos tinham muita pressa: os únicos que interromperam, por momentos, a viagem, foram os alegres tuins, os minúsculos tuins de cabecinhas amarelas, que não levam nada a sério, e que choveram nos pés de mamão e fizeram recreio, aos pares, sem sustentar o alarido – rrrl, rrrl! rrrl-rrril!...
...Augusto Matraga

NA ESTRADA...

[caption id="attachment_182" align="alignleft" width="210" caption="a gente demora mas chega..."]Redimunho[/caption]

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Il Fabbro

"Senhor crê, sem estar esperando? Tal que disse. Ainda hoje, eu mesmo, disso, para mim, eu peço espantos. Qu' é que me acuava? Agora, eu velho, vejo: quando cogito, quando relembro, conheço que naquele tempo eu girava leve demais, e assoprado. Deus deixou. Deus é urgente e sem pressa. O Sertão é dele. Eh!"

 



GSV

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Pelos Sertões

[caption id="attachment_165" align="aligncenter" width="198" caption="'Pelos Sertões'. Gravura de Lívio Abramo"]pelos_sertoes[/caption]

Sôbolos rios que vão...

Sôbolos rios que vão

Por Babilônia me achei,

Onde sentado chorei

As lembranças de Sião

E quanto nela passei.

 



Ali, o rio corrente

De meus olhos foi manado;

E, tudo bem comparado,

Babilônia ao mal presente,

Sião ao tempo passado.

 



Ali, lembranças contentes

Na alma se representaram;

E minhas cousas ausentes

Se fizeram tão presentes

Como nunca se pasaram.

 



 



CAMÕES

um mundo ideal é um mundo feito de horas a toa...R.P

[caption id="attachment_159" align="aligncenter" width="300" caption="ah..o sertão..."]teleentrega de abacaxi[/caption]

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Quando a sabedoria está vestida de rugas!

"...os recordadores são, no presente, trabalhadores, pois lembrar não é reviver, mas re-fazer. É reflexão, compreensão do agora a partir do outrora; é sentimento, reaparição do feito e do ido, não sua mera repetição. O velho, de um lado, busca a confirmação do que se passou com seu coetâneos, em testemunhos escritos ou orais, investiga, pesquisa, confronta esse tesouro de que é guardião. De outro lado, recupera o tempo que correu e aquelas coisas que quando perdemos nos sentimos diminuir e
morrer."

Ecléa Bosi, "Memória e Sociedade - Lembranças de Velhos"

A Moreninha (Costumes)

"Neste momento a orquestra assinalou o começo do sarau. É preciso antecipar que nós não vamos dar ao trabalho de descrever este; é um sarau como todos os outros, basta dizer o seguinte:

Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram  o presente, ninguém  cuidou do futuro. Os solteiros fizeram por lembrar-se do casamento, os casados trabalharam por esquecer-se dele. Os homens jogaram, falaram em política e requestaram as moças; as senhoras ouviram finezas, trataram de modas e criticaram desapiedosamente umas às outras. As filhas deram carreirinhas ao som da música, as mães, já idosas, receberam cumprimentos por amor daquelas e as avós, por não terem que fazer nem ouvir, levaram todo o tempo a endireitar as toucas e a comer os doces. Tudo esteve debaixo destas regras gerais, só resta dar conta das seguintes particularidades:

D. Carolina sempre dançou a terceira contradança com Augusto, mas, para isso, foi preciso que a Srª D. Ana empenhasse todo seu valimento; a tirana princesinha da festa esteve realmente daspiedada; não quis passear com o estudante.

A interessante D. Violante fez o diabo a quatro: tomou doze sorvetes, comeu pão-de-ló, como nenhuma, tocou em todos os doces, obrigou alguns moços a tomá-la por par e até dançou uma valsa de corrupio.

Augusto apaixonou-se por seis senhoras com quem dançou; o rapaz é incorrigível. E assim tudo o mais.

 

In: A Moreninha; Joaquim Manuel de Macedo

Obs.: Pareceu-me oportuno resgatar da literatura brasileira algumas cenas que retratam costumes que orientam cada época. Nesse sentido, resolvi começar pelo começo, já que A Moreninha (1844) é considerado o primeiro romance do Brasil.

João-de-barro

[caption id="attachment_152" align="aligncenter" width="265" caption="'Questões de família'. Laerte"]João de barro[/caption]

sábado, 31 de outubro de 2009

"Acabavam de celebrar as bodas de ouro matrimoniais, e não sabiam viver um instante sequer um sem o outro, ou sem pensar um no outro, e o sabiam cada vez menos à medida que recrudescia a velhice. Nem ele nem ela podiam dizer se essa servidão recíproca se fundava no amor ou na comodidade, mas nunca se haviam feito a pergunta com a mão no peito, porque ambos tinham sempre preferido ignorar a resposta. Tinha ido descobrindo aos poucos a insegurança dos passos do marido, seus transtornos de humor, as fissuras de sua memória, seu costume recente de soluçar durante o sono, mas não os identificou como os sinais inequívocos do óxido final e sim como uma volta feliz à infância. Por isso não o tratava como a um ancião difícil e sim como a um menino senil, e esse engano foi providencial para ambos porque os pôs a salvo da compaixão." 

(O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez)

sábado, 24 de outubro de 2009

Ela mora no mar ela brinca na areia...

[caption id="attachment_122" align="aligncenter" width="200" caption="travessia..."]travessia...[/caption]

 

Oguntê, Marabô Caiala, e Sobá  Oloxum, Ynaê Janaina e, Yemanjá

São Rainhas do mar

 O mar misterioso mar que vem do horizonte...

O grupo se prepara para viajar até o pequeno rio- "Dejaneiro", donde se deu o encontro de Riobaldo com Diadorim...

[caption id="attachment_111" align="alignleft" width="180" caption="cirandando...pelo sertão...eu vouuuu!!!"]cirandando...pelo sertao...eu vouuuu!!![/caption]

Roda mundo, roda gigante...

microonibus

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

Chico Buarque