sábado, 31 de outubro de 2009

"Acabavam de celebrar as bodas de ouro matrimoniais, e não sabiam viver um instante sequer um sem o outro, ou sem pensar um no outro, e o sabiam cada vez menos à medida que recrudescia a velhice. Nem ele nem ela podiam dizer se essa servidão recíproca se fundava no amor ou na comodidade, mas nunca se haviam feito a pergunta com a mão no peito, porque ambos tinham sempre preferido ignorar a resposta. Tinha ido descobrindo aos poucos a insegurança dos passos do marido, seus transtornos de humor, as fissuras de sua memória, seu costume recente de soluçar durante o sono, mas não os identificou como os sinais inequívocos do óxido final e sim como uma volta feliz à infância. Por isso não o tratava como a um ancião difícil e sim como a um menino senil, e esse engano foi providencial para ambos porque os pôs a salvo da compaixão." 

(O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez)

2 comentários:

  1. e pensar que um papagaio fugidio...ao escapar para as arvores lhe tira o sopro de la vida...

    ResponderExcluir
  2. sa vezes o que a vida quer é só uma arriscada subida no alpendre...só e mais nada...

    ResponderExcluir