sábado, 24 de abril de 2010

embriagado de clareza...

“Agora estou só.
Oh, como sou miserável, que escravo abjeto!
Não é monstruoso que esse ator aí,
Por uma fábula, uma paixão fingida,
Possa forçar a alma a sentir o que ele quer,
De tal forma que seu rosto empalidece,
Tem lágrimas nos olhos, angústia no semblante,
A voz trêmula, e toda sua aparência
Se ajusta ao que ele pretende? E tudo isso por nada!
Por Hécuba!
O que é Hécuba pra ele, ou ele pra Hécuba,
Pra que chore assim por ela? Que faria ele
Se tivesse os motivos e impulsos de dor que eu tenho?
Inundaria o palco de lágrimas.
E estouraria os tímpanos do público com imprecações horrendas,
Enlouquecendo os culpados, aterrorizando os inocentes,
Confundindo os ignorantes; perturbando, na verdade,
Até a função natural de olhos e ouvidos.
Mas eu,
Idiota inerte, alma de lodo,
Vivo na lua, insensível à minha própria causa,
E não sei fazer nada, mesmo por um rei
Cuja propriedade e vida tão preciosa
Foram arrancadas numa conspiração maldita.
Sou então um covarde? Quem me chama canalha?
Me arrebenta a cabeça, me puxa pelo nariz,
E me enfia a mentira pelo goela até o fundo dos pulmões?
Hein, quem me faz isso?
Pelas chagas de Cristo, eu o mereço!
Pois devo ter fígado de pomba, sem o fel
Que torna o insulto amargo,
Ou já teria alimentado todos os abutres destes céus
Com as vísceras desse cão.
Ah, sanguinário e obsceno canalha!
Perverso, depravado, traiçoeiro, cínico, canalha!
Ó, vingança!
Mas que asno eu sou! Bela proeza a minha.
Eu, filho querido de um pai assassinado,
Intimado à vingança pelo céu e o inferno,
Fico aqui, como uma marafona,
Desafogando minha alma com palavras,
Me satisfazendo com insultos; é; como uma meretriz;
Ou uma lavadeira!
Maldição! Oh! Trabalha, meu cérebro! Ouvi dizer
Que certos criminosos, assistindo a uma peça,
Foram tão tocados pelas sugestões das cenas,
Que imediatamente confessaram seus crimes;
Pois embora o assassinato seja mudo,
Fala por algum órgão misterioso. Farei com que esses atores
Interpretem algo semelhante à morte de meu pai
Diante de meu tio,
E observarei a expressão dele quando lhe tocarem
No fundo da ferida.
Basta um frêmito seu – e sei o que fazer depois.
Mas o espírito que eu vi pode ser o demônio.
O demônio sabe bem assumir formas sedutoras
E, aproveitando minha fraqueza e melancolia,
– Tem extremo poder sobre almas assim –
Talvez me tente para me perder.
Preciso provas mais firmes do que uma visão.
O negócio é a peça – que eu usarei
Pra explodir a consciência do rei.”


Hamlet – Ato II – Cena II

sexta-feira, 16 de abril de 2010

GRUPO ESTRÉIA MARIA-MEMÓRIA

MARIA MEMÓRIA - CHÁ TEATRAL

texto: Edmilson Cordeiro

direção: Rudifran Pompeu

música: Luis Aranha

Com: Izabela Pimentel, Giovanna Galdi, Carlos Mendes e Patrícia Ferreira



Maria Memória, resultado de um experimento cênico do Grupo Redimunho, estréia dia 16 de abril no Casarão da Escola Paulista de Restauro e aborda o conflito de quatro irmãos que se deparam com o fato de ter de deixar a casa onde nasceram e sempre viveram.

No último dia de permanência na casa, os irmãos convidam o público a compartilhar de suas lembranças e estórias.

O projeto tem o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura, Programa de Ação Cultural 2009, estreará na cidade de São Paulo e em seguida realizará apresentações pelo interior do estado.

Estréia: 16/04/10 às 21:00hs, no Casarão da Escola Paulista de Restauro, localizado à rua Major Diogo, 91 - Bela Vista.

INFORMAÇÕES: (11) 31019645.

domingo, 11 de abril de 2010

Alguém precisa te dizer a verdade

Um horóscopo é feito de microscópicas horas
a grande hora é calculada
por insetos geômetras
em procissão
Voam sobre as cartas estelares
e vagando sobre mapas celestiais
(os teus dedos as redor dos olhos deles)
demarcam como dardos
a verdade da tua aflição
Você quer saber?
Um amor como esse afronta
e faz chuva de coisas inesperadas
Vai daí que você pensa
que é ameça
o banquete que te sirvo
de saliva, sangue pisado e luz negra
num dia que amanhece cinza
de tantas cores misturadas
os ecos das risadas
rebocando os desvãos
de nós
Você precisa saber
que mapa astral
é areia para as ampulhetas
dados nem sempre da sorte
pra você brincar de certezas

Quem tampa o olho de um inseto
e lembra de uma música
é o que senão o guardião
do brejo das almas?

Alguém precisa te dizer a verdade:
um mapa astral...

Música: Chiquita / Letra: Juditinha

domingo, 4 de abril de 2010

pelo teatro...

Não existe nada que me deixe desesperado ou recalcado com as escolhas que o teatro um dia me fez reconhecer…tudo que fiz foi por querer…um querer infanto juvenil em dada época e depois um querer exato e certeiro na maior idade…
É um fato que tudo que sou agora, se deve ao que escolhi para minha vida nesses últimos trinta anos…
e o que acontecia trinta anos atrás?
…era o inicio dos anos 80…
E só deus sabe o que foi aquela década para quem como eu, ainda estava pensando na copa de 78…aquela do “kiroga” em que a Argentina do goleiro Fillol meteu 6 no peru e nos derrubou…
Então... depois disso, de alguma maneira fui mergulhar pelo teatro e aos poucos fui construindo uma personagem de mim mesmo... interessado em entender o universo cênico…
Mas vejam só vocês...depois de tanto tempo descubro que não entendi bulhufas…é pra se pensar né?

O texto que escrevo agora vem com esse meu pensamento desgovernado…imbuído de uma crise “onírica” e talvez ainda essencialmente teatral…quase farsista…mas que acreditei tanto, que me parece verdade…
Tudo isso só para dizer que não tenho nenhuma diferença com minhas escolhas e com esse universo teatral e que por ele sou um eterno apaixonado…só acho que não vai dar tempo nessa vida de entender e descobrir os segredos dessa manifestação maravilhosa que só o teatro é capaz de proporcionar…
seguimos…até onde der…até onde a vida couber...
Rudiflan boyan

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O QUE HÁ DE MAIS BELO PRA CUSPIR

O QUE HÁ DE MAIS BELO PRA CUSPIR

A lindeza maléfica do mundo

não cabe no mundo

é de cera carcomida e de origem torpe

extensos são os seus rios de enxofre

e vazia de dar dó é a sua existência

Grandiosa é a casca da beleza

porque está em toda parte

com suas ocultas verdades de vingança e traição

Tudo o que é belo tem perfume

e quanto mais perfume

maior sua podridão travestida

de anjos encardidos de gordura

mergulhados na perdição

Conheço as criaturas da noite

são as que tramam em segredo

sua principal atitude é a fuga acelerada

criaturas que são queimadas

pela vergonha

Eu preparo meu catarro

cansado de tanto cuspir

nessas doenças que proliferam

suas máscaras de fé mentida e sedução mortal

Os enganos que fabrica

merecem o desprezo do que são:

bueiros

Se você deixa a falsa beleza impune

os esgotos invadem sua casa

e haverá um dia em que não poderão distinguir

você da merda

O que há de mais belo pra cuspir é muito

guarda o que é pouco

que isso sim é que é grande

e belo

o resto são criaturas pútridas e mortas

a escória

o inferno

Jude

O QUE HÁ DE MAIS BELO PRA CUSPIR

O QUE HÁ DE MAIS BELO PRA CUSPIR

A lindeza maléfica do mundo

não cabe no mundo

é de cera carcomida e de origem torpe

extensos são os seus rios de enxofre

e vazia de dar dó é a sua existência

Grandiosa é a casca da beleza

porque está em toda parte

com suas ocultas verdades de vingança e traição

Tudo o que é belo tem perfume

e quanto mais perfume

maior sua podridão travestida

de anjos encardidos de gordura

mergulhados na perdição

Conheço as criaturas da noite

são as que tramam em segredo

sua principal atitude é a fuga acelerada

criaturas que são queimadas

pela vergonha

Eu preparo meu catarro

cansado de tanto cuspir

nessas doenças que proliferam

suas máscaras de fé mentida e sedução mortal

Os enganos que fabrica

merecem o desprezo do que são:

bueiros

Se você deixa a falsa beleza impune

os esgotos invadem sua casa

e haverá um dia em que não poderão distinguir

você da merda

O que há de mais belo pra cuspir é muito

guarda o que é pouco

que isso sim é que é grande

e belo

o resto são criaturas pútridas e mortas

a escória

Jude