PAUTAS PARA 2014 NO ESPAÇO REDIMUNHO
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
ESSES VAZIOS...
Ela nasceu no mar e era inteirinha amor ao mar.
Ela bebia do mar tudo o que via,
e o mar nela morava e o mar ela o namorava:
a imensidão azul mistério,
as coisas que viviam nas suas funduras...
Sua pele brincava com a água
e se arrepiava toda quando a brisa lhe fazia cócegas.
Em seus olhos se viam gaivotas de brancas asas
e barcos a vela ao vento.
Quem lhe ouvisse o coração a bater
juraria que eram ondas...
Mas havia uma coisa que ela não podia entender:
era uma tristeza, suave, nostalgia.
Não lhe bastava o mar infinito.
Havia os vazios, desejos, ausência imensa,
saudade de algo que lhe faltava.
E ela sonhava com coisas longínquas, e as amava:
floresta que nunca vira
e pensava que seria bom se um dia
o mar e a selva se encontrassem
e o azul e o verde se misturassem...
giovanna galdi
Ela bebia do mar tudo o que via,
e o mar nela morava e o mar ela o namorava:
a imensidão azul mistério,
as coisas que viviam nas suas funduras...
Sua pele brincava com a água
e se arrepiava toda quando a brisa lhe fazia cócegas.
Em seus olhos se viam gaivotas de brancas asas
e barcos a vela ao vento.
Quem lhe ouvisse o coração a bater
juraria que eram ondas...
Mas havia uma coisa que ela não podia entender:
era uma tristeza, suave, nostalgia.
Não lhe bastava o mar infinito.
Havia os vazios, desejos, ausência imensa,
saudade de algo que lhe faltava.
E ela sonhava com coisas longínquas, e as amava:
floresta que nunca vira
e pensava que seria bom se um dia
o mar e a selva se encontrassem
e o azul e o verde se misturassem...
giovanna galdi
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Silêncio, companheira de si. A menina que se arruma, come, dormi frenética, acorda a noite e briga com as memórias. Tem unhas cor de coral, olheiras. Ela morra num quarto com varanda marrom. Esta fabricando um altar de santos amigos seus, quer ter sua "igrejinha" perto da cama, ao alcance das mãos, na hora do pesadelo. Tem uma nossa senhora pequenina pendurada no peito. Nesses dias de festa no mundo, resolveur ir atrás da FÉ, que sumiu à bastante tempo sem lhe dizer pra onde foi e quando voltará.
Tudo tão vago... Sei que havia um rio...
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...
O menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...
E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...
Eras tu... que ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!...
(Mario Quintana)
giovanna galdi
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...
O menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...
E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...
Eras tu... que ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!...
(Mario Quintana)
giovanna galdi
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Marulho, o caminho do rio...
Vídeo do processo de Marulho, o caminho do rio:
http://www.youtube.com/watch?v=0CTJ-UL_25g
giovanna galdi
http://www.youtube.com/watch?v=0CTJ-UL_25g
giovanna galdi
domingo, 27 de dezembro de 2009
HISTORA DE LA NOCHE
A lo largo de sus generaciones
lo hombres erigieron la noche.
En el principio era ceguera y sueño
y espinas que laceran el pie desnudo
y temor de los lobos.
Nunca sabremos quién forjó la palabra
para el intervalo de sombra
que divide los dos crepúsculos;
nunca sabremos en qué siglo fue cifra
del espacio de estrellas.
Otros engendraron el mito.
La hicieron madre de las Parcas tranquilas
que tejen el destino
y le sacrificaban ovejas negras
y el gallo que presagia su fin.
Doces casas le dieron los caldeos;
infinitos mundos, el Pórtico.
Hexámetros latinos la modelaron
y el terror de Pascal.
Luis de León vio en ella la patria
de su alma estremecida.
Ahora la sentimos inagotable
como un antiguo vino
y nadie puede contemplarla sin vértigo
y el tiempo la ha cargado de eternidad.
Y pensar que no existiría
sin esos tenues instrumentos, los ojos.
Borges (La rosa profunda, 1975)
lo hombres erigieron la noche.
En el principio era ceguera y sueño
y espinas que laceran el pie desnudo
y temor de los lobos.
Nunca sabremos quién forjó la palabra
para el intervalo de sombra
que divide los dos crepúsculos;
nunca sabremos en qué siglo fue cifra
del espacio de estrellas.
Otros engendraron el mito.
La hicieron madre de las Parcas tranquilas
que tejen el destino
y le sacrificaban ovejas negras
y el gallo que presagia su fin.
Doces casas le dieron los caldeos;
infinitos mundos, el Pórtico.
Hexámetros latinos la modelaron
y el terror de Pascal.
Luis de León vio en ella la patria
de su alma estremecida.
Ahora la sentimos inagotable
como un antiguo vino
y nadie puede contemplarla sin vértigo
y el tiempo la ha cargado de eternidad.
Y pensar que no existiría
sin esos tenues instrumentos, los ojos.
Borges (La rosa profunda, 1975)
sábado, 26 de dezembro de 2009
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Grafite
O que resta da gente quando tudo está pintado de branco?
Que venha uma parede azul, outra vermelha, outra verde e ainda outra amarela... intensas!!!
Cores injetadas, introjetadas e expurgadas. O que se vê se consome ou pelo menos queria assim: comer cores e expurgá-las.
Que venha uma parede azul, outra vermelha, outra verde e ainda outra amarela... intensas!!!
Cores injetadas, introjetadas e expurgadas. O que se vê se consome ou pelo menos queria assim: comer cores e expurgá-las.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Saudade
saudade é o revés de um parto
saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu
postado por giovanna galdi
saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu
postado por giovanna galdi
ABERTURA MICRO SERIE "A CASA"
EXTERNA/DIA CAMERA MOSTRA UM SERTÃO COM SOMBRA, RIO, UMA VEREDA ENORME, UMA LONGA EXTENSÃO DE TERRA E AO LONGE SE VE UM TREM PASSANDO DISTANTE DE TUDO. TUDO ISSO DE MUITO LONGE. LENTAMENTE A CAMERA SE APROXIMA E VAI FOCANDO UMA PEQUENA MULTIDÃO NUMA ESTRADINHA DE TERRA...AOS POUCOS VAI APROXIMANDO...
CENA 1- EXTERNA / DIA / SERTÃO IMAGEM DE UMA PROCISSÃO DE PÉS DESCALÇOS, BOTINAS E CHINELAS...SOBRE UMA RUA DE CHÃO E CAPIM, MARCHAM COM UMA CANTORIA RELIGIOSA...OUVE-SE O BARULHO DE TREM SE CONFUNDINDO LENTAMENTE COM O CANTO.
CENA 2 - EXTERNA/DIA/TREM CAMERA APROXIMADA EM CLOSE-UP NOS OLHOS DE MESSIAS QUE DORME NO BANCO DO TREM E ACORDA DE SOBRESSALTO. OLHANDO PARA FORA PELA JANELA DO TREM, VE A PROCISSÃO AO MESMO TEMPO EM QUE A MÃE QUE VAI À FRENTE NA PROCISSÃO DESFERE UM OLHAR PARA MESSIAS NA DIREÇÃO DO TREM.
CENA 3- EXTERNA/DIA/ESTAÇÃO DE TREM DE CORDISBURGO MESSIAS DESCE DO TREM COM A CAMERA FOCANDO SEU ROSTO E SUAS MÃOS EM PLANO DETALHADO, ELE SEGUE EM DIREÇÃO AO ARMAZEM QUE FICA EM FRENTE DA ESTAÇÃO.
MESSIAS – Boa tarde?
João – Boa tarde moço, deseja algo pra comer?A comida casera ta saindo agorinha..
MESSIAS-(OBSERVA UM QUADRO NA PAREDE ONDE TEM UMA FOTO DE UM GAROTO COM UM PEIXE NA MÃO) Ah...Sim eu vou almoçar...
João- O moço veio pra visitar argúem ou veio pras festas de santá?
MESSIAS-Eu vim pra visitar uns amigos e também pra festa da santa...o senhor sabe se ainda existe a casa do rio?
João- a casa do rio?o senhor cunhece lá? O senhor tem parente aqui?
MESSIAS-Minha mãe viveu aqui...e eu sai daqui ainda guri...mas isso aqui ta muito mudado...aff...quase nem se vê mais o pasto...
João- é o futuro que chegou em cordis e arrasou toda a cidade...é uma vergonha o que fizeram cum isso aqui...
MESSIAS- Deixe eu lhe perguntar uma coisa...esse menino da foto é seu parente?
João-Ah...esse ai é meu parente por parte de esposa...é o vilsinho pescador...ele morreu menino ...o povo todo daqui adora ele até hoje..o prefeito mais antigo já colocou até nome de praça pra ele aqui...o senhor conheceu? (MESSIAS OLHA FIXO PRA IMAGEM NA PAREDE (RETRATO)
TRANSIÇÃO PARA O PASSADO SOB O PONTO DE VISTA DE MESSIAS A CAMERA APROXIMA NO QUADRO NA PAREDE E A IMAGEM DA FOTO GANHA VIDA E O PASSADO SE FAZ PRESENTE O JOVEM VILSINHO ESTA FELIZ COM O AMIGO XININHO ACABA DE PEGAR UM PEIXE...ESTÃO NA BEIRA DO RIO.
1º BREAK COMERCIAL
EXTERNA/DIA CAMERA MOSTRA UM SERTÃO COM SOMBRA, RIO, UMA VEREDA ENORME, UMA LONGA EXTENSÃO DE TERRA E AO LONGE SE VE UM TREM PASSANDO DISTANTE DE TUDO. TUDO ISSO DE MUITO LONGE. LENTAMENTE A CAMERA SE APROXIMA E VAI FOCANDO UMA PEQUENA MULTIDÃO NUMA ESTRADINHA DE TERRA...AOS POUCOS VAI APROXIMANDO...
CENA 1- EXTERNA / DIA / SERTÃO IMAGEM DE UMA PROCISSÃO DE PÉS DESCALÇOS, BOTINAS E CHINELAS...SOBRE UMA RUA DE CHÃO E CAPIM, MARCHAM COM UMA CANTORIA RELIGIOSA...OUVE-SE O BARULHO DE TREM SE CONFUNDINDO LENTAMENTE COM O CANTO.
CENA 2 - EXTERNA/DIA/TREM CAMERA APROXIMADA EM CLOSE-UP NOS OLHOS DE MESSIAS QUE DORME NO BANCO DO TREM E ACORDA DE SOBRESSALTO. OLHANDO PARA FORA PELA JANELA DO TREM, VE A PROCISSÃO AO MESMO TEMPO EM QUE A MÃE QUE VAI À FRENTE NA PROCISSÃO DESFERE UM OLHAR PARA MESSIAS NA DIREÇÃO DO TREM.
CENA 3- EXTERNA/DIA/ESTAÇÃO DE TREM DE CORDISBURGO MESSIAS DESCE DO TREM COM A CAMERA FOCANDO SEU ROSTO E SUAS MÃOS EM PLANO DETALHADO, ELE SEGUE EM DIREÇÃO AO ARMAZEM QUE FICA EM FRENTE DA ESTAÇÃO.
MESSIAS – Boa tarde?
João – Boa tarde moço, deseja algo pra comer?A comida casera ta saindo agorinha..
MESSIAS-(OBSERVA UM QUADRO NA PAREDE ONDE TEM UMA FOTO DE UM GAROTO COM UM PEIXE NA MÃO) Ah...Sim eu vou almoçar...
João- O moço veio pra visitar argúem ou veio pras festas de santá?
MESSIAS-Eu vim pra visitar uns amigos e também pra festa da santa...o senhor sabe se ainda existe a casa do rio?
João- a casa do rio?o senhor cunhece lá? O senhor tem parente aqui?
MESSIAS-Minha mãe viveu aqui...e eu sai daqui ainda guri...mas isso aqui ta muito mudado...aff...quase nem se vê mais o pasto...
João- é o futuro que chegou em cordis e arrasou toda a cidade...é uma vergonha o que fizeram cum isso aqui...
MESSIAS- Deixe eu lhe perguntar uma coisa...esse menino da foto é seu parente?
João-Ah...esse ai é meu parente por parte de esposa...é o vilsinho pescador...ele morreu menino ...o povo todo daqui adora ele até hoje..o prefeito mais antigo já colocou até nome de praça pra ele aqui...o senhor conheceu? (MESSIAS OLHA FIXO PRA IMAGEM NA PAREDE (RETRATO)
TRANSIÇÃO PARA O PASSADO SOB O PONTO DE VISTA DE MESSIAS A CAMERA APROXIMA NO QUADRO NA PAREDE E A IMAGEM DA FOTO GANHA VIDA E O PASSADO SE FAZ PRESENTE O JOVEM VILSINHO ESTA FELIZ COM O AMIGO XININHO ACABA DE PEGAR UM PEIXE...ESTÃO NA BEIRA DO RIO.
1º BREAK COMERCIAL
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
TEXTO MEU COM PROTOCOLO DA CENSURA FEDERAL...
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Garrafa de Lágrimas
Se eu for embora de mim
te mando o endereço,
te mando o contexto
da vinda e do fim.
Pode ser que eu volte
e revolte e retorne de novo
insistindo em olhar de novo e renovo.
Misturança de semelhança.
Suas pegadas são marcas amargas
de véu e grinalda
na porta de entrada do meu coração,
que por fim se fechou e de roxo pintou
a esperança de mim.
Se sob o orvalho sinto
o retalho de uma história sem fim,
repico de vermelho todo o espelho
da ausência de ti.
(por Patricia Ferreira)
te mando o endereço,
te mando o contexto
da vinda e do fim.
Pode ser que eu volte
e revolte e retorne de novo
insistindo em olhar de novo e renovo.
Misturança de semelhança.
Suas pegadas são marcas amargas
de véu e grinalda
na porta de entrada do meu coração,
que por fim se fechou e de roxo pintou
a esperança de mim.
Se sob o orvalho sinto
o retalho de uma história sem fim,
repico de vermelho todo o espelho
da ausência de ti.
(por Patricia Ferreira)
sábado, 19 de dezembro de 2009
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
sábado, 12 de dezembro de 2009
CARREGO COMIGO
CARREGO COMIGO
Carrego comigo
há dezenas de anos
há centenas de anos
o pequeno embrulho.
Serão duas cartas?
sré uma flor?
será um retrato?
um lenço talvez?
Já não me recordo
onde o encontrei.
Se foi um presente
ou se foi furtado.
Se os anjos desceram
trazendo-o nas mãos,
se boiava no rio,
se pairava no ar.
Não ouso entreabri-lo.
Que coisa contém,
ou se algo contém,
nunca saberei.
Como poderia
tentar esse gesto?
O embrulho é tão frio
e também tão quente.
Ele arde nas mãos,
é doce ao meu tato.
Pronto me fascina
e me deixa triste.
Guardar um segredo
em si e consigo,
não querer sabê-lo
ou querer demais.
Guardar um segredo
de seus próprios olhos,
por baixo do sono,
atrás da lembrança.
A boca experiente
saúda os amigos.
Mão aperta mão,
peito se dilata.
Vem do mar o apelo,
vêm das coisas gritos.
O mundo te chama:
Carlos! Não respondes?
Quero responder.
A rua infinita
vai além do mar.
Quero caminhar.
Mas o embrulho pesa.
Vem a tentação
de jogá-lo ao fundo
da primeira vala.
Ou talvez queimá-lo:
cinzas se dispersam
e não fica sombra
sequer, nem remorso.
Ai, fardo sutil
que antes me carregas
do que és carregado,
para onde me levas?
Por que não me dizes
a palavra outra
oculta em teu seio,
carga intolerável?
Seguir-te submisso
por tanto caminho
sem saber de ti
senão que te sigo.
Se agora te abrisses
e te revelasses
mesmo em forma de erro,
que alívio seria!
Mas ficas fechado.
Carrego-te à noite
se vou para o baile.
De manhã te levo
para a escura fábrica
de negro subúrbio.
És, de fato, amigo
secreto e evidente.
Perder-te seria
perder-me a mim próprio.
Sou um homem livre
mas levo uma coisa.
Não sei o que seja.
Eu não a escolhi.
Jamais a fitei.
Mas levo uma coisa.
Não estou vazio,
não estou sozinho,
pois anda comigo
algo indescritível.
Drummond – A Rosa do Povo
Carrego comigo
há dezenas de anos
há centenas de anos
o pequeno embrulho.
Serão duas cartas?
sré uma flor?
será um retrato?
um lenço talvez?
Já não me recordo
onde o encontrei.
Se foi um presente
ou se foi furtado.
Se os anjos desceram
trazendo-o nas mãos,
se boiava no rio,
se pairava no ar.
Não ouso entreabri-lo.
Que coisa contém,
ou se algo contém,
nunca saberei.
Como poderia
tentar esse gesto?
O embrulho é tão frio
e também tão quente.
Ele arde nas mãos,
é doce ao meu tato.
Pronto me fascina
e me deixa triste.
Guardar um segredo
em si e consigo,
não querer sabê-lo
ou querer demais.
Guardar um segredo
de seus próprios olhos,
por baixo do sono,
atrás da lembrança.
A boca experiente
saúda os amigos.
Mão aperta mão,
peito se dilata.
Vem do mar o apelo,
vêm das coisas gritos.
O mundo te chama:
Carlos! Não respondes?
Quero responder.
A rua infinita
vai além do mar.
Quero caminhar.
Mas o embrulho pesa.
Vem a tentação
de jogá-lo ao fundo
da primeira vala.
Ou talvez queimá-lo:
cinzas se dispersam
e não fica sombra
sequer, nem remorso.
Ai, fardo sutil
que antes me carregas
do que és carregado,
para onde me levas?
Por que não me dizes
a palavra outra
oculta em teu seio,
carga intolerável?
Seguir-te submisso
por tanto caminho
sem saber de ti
senão que te sigo.
Se agora te abrisses
e te revelasses
mesmo em forma de erro,
que alívio seria!
Mas ficas fechado.
Carrego-te à noite
se vou para o baile.
De manhã te levo
para a escura fábrica
de negro subúrbio.
És, de fato, amigo
secreto e evidente.
Perder-te seria
perder-me a mim próprio.
Sou um homem livre
mas levo uma coisa.
Não sei o que seja.
Eu não a escolhi.
Jamais a fitei.
Mas levo uma coisa.
Não estou vazio,
não estou sozinho,
pois anda comigo
algo indescritível.
Drummond – A Rosa do Povo
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
RECADO DE UMA ESTRELA CADENTE
Vim do alto
Com as eternas luzes das estrelas
E também de fogo
Sem jeito
À terra me jogo
Quem me socorre das pernas?
Meu coração aos poucos anoitece.
(giovanna galdi)
Com as eternas luzes das estrelas
E também de fogo
Sem jeito
À terra me jogo
Quem me socorre das pernas?
Meu coração aos poucos anoitece.
(giovanna galdi)
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
De-janeiro
"Ainda o senhor estude:agorinha mesmo,nestes dias de época,tem gente porfalando que o Diabo próprio parou de passagem,no Andrequicé"(Grande Sertão:Veredas)
Nos diversos pontos o capim insiste em beijar os joelhos.Com altos passos vou avançando mais.A estradela é serpentiosa no sertão.À destra só o fechado verde-escuro.Se paro a marcha ouço a música:orquestra de Deus...juriti do papo amarelo...o ronque-chonque imparável de águas que não vejo.Na canhota,o touro apraz me observa.O mormaço as vezes até incomoda.Por trás taurino,serras se fogem dos olhos.Vez e outra o fétido perfume de mangas já caídas.Pista que começa a se abarrancar ao baixio.Nova chusma de vapor no rosto.Bem mais baixo,toco o moribundo corguinho.Ele vem de não sei bem longe...fica todo alegre só de saber seu fim.Todo fim não é uma forma de (re)começo?Fui traído pela pinguela de improviso.É as águas no querer me tragar.Me agarro à raízes:pé molhado é lama certa;a subida é cuidadosa;deve.Estou me apequenando...gigantes são sempre maiores que nós.Estou mudo.Contemplo:a luta da barrenta é inútil."Vou berando...",o Chico é isso:maior grande.Na revoada o pena-branca é pescador.Devia de se existir peixes que voam...esqueço de tudo.
Primavera do Ser-tão
Cordisburgo,23 de novembro de 2009
(por Marcus Martins)
Nos diversos pontos o capim insiste em beijar os joelhos.Com altos passos vou avançando mais.A estradela é serpentiosa no sertão.À destra só o fechado verde-escuro.Se paro a marcha ouço a música:orquestra de Deus...juriti do papo amarelo...o ronque-chonque imparável de águas que não vejo.Na canhota,o touro apraz me observa.O mormaço as vezes até incomoda.Por trás taurino,serras se fogem dos olhos.Vez e outra o fétido perfume de mangas já caídas.Pista que começa a se abarrancar ao baixio.Nova chusma de vapor no rosto.Bem mais baixo,toco o moribundo corguinho.Ele vem de não sei bem longe...fica todo alegre só de saber seu fim.Todo fim não é uma forma de (re)começo?Fui traído pela pinguela de improviso.É as águas no querer me tragar.Me agarro à raízes:pé molhado é lama certa;a subida é cuidadosa;deve.Estou me apequenando...gigantes são sempre maiores que nós.Estou mudo.Contemplo:a luta da barrenta é inútil."Vou berando...",o Chico é isso:maior grande.Na revoada o pena-branca é pescador.Devia de se existir peixes que voam...esqueço de tudo.
Primavera do Ser-tão
Cordisburgo,23 de novembro de 2009
(por Marcus Martins)
Barqueiro
O pesca-peixe vai a bordo do seu Pepe Medina;avista o gigante à frente:"diante de ti admito-me um fraco".(Marcus Martins)
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Para uma saudade de Cordisburgo
Da MINHA ALDEIA vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
O Guardador de Rebanhos - VII (1911-1912)
Ricardo Reis / Fernando Pessoa
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
O Guardador de Rebanhos - VII (1911-1912)
Ricardo Reis / Fernando Pessoa
Ao Comandante Rudifran travestido de Dom Diniz
SEXTO / D. DINIZ
Na NOITE escreveu um seu Cantar de Amigo
O planador de naus a haver,
E ouve um silêncio murmurou consigo:
É o rumor dos pinhaes que, como um trigo
De Imperio, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar:
E a falla dos pinhaes, marulho obscuro,
É o som presente d'esse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
Fernando Pessoa
O Eu Profundo e os Outros Eus
Na NOITE escreveu um seu Cantar de Amigo
O planador de naus a haver,
E ouve um silêncio murmurou consigo:
É o rumor dos pinhaes que, como um trigo
De Imperio, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar:
E a falla dos pinhaes, marulho obscuro,
É o som presente d'esse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
Fernando Pessoa
O Eu Profundo e os Outros Eus
Assinar:
Postagens (Atom)