quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

REDIMUNHO GANHA APCA DE MELHOR AUTOR!!!

Veja quem levou o APCA em 2011


 


A APCA (Associação Paulista dos Críticos de Artes) divulgou os vencedores da edição 2011

Por Miguel Arcanjo Prado, editor do R7
gloria gabriel foto Veja quem levou o APCA em 2011Gabriel Braga Nunes e Gloria Pires foram os melhores atores da TV em 2011 pela APCA

Um dos prêmios mais consagradores do país no mundo artístico foi decidido na noite desta segunda (12), na sede do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, onde 55 críticos se reuniram para escolherem os melhores de São Paulo no ano de 2011 nas seguintes categorias: Arquitetura, Artes Visuais, Cinema, Dança, Literatura, Música Popular, Música Erudita, Rádio, Teatro, Teatro Infantil e Televisão. A cerimônia de entrega de todos os prêmios acontecerá em 13 de março de 2012, às 20h, no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Veja quem vai levar o troféu:

ARQUITETURA

Homenagem pelo conjunto da obra: Marcello Fragelli Cliente /promotor: Otávio Zarvos/Idea!Zarvos

Difusão: Raul Juste Lores/Folha de S. Paulo

Urbanidade: Mauro Munhoz e Casa Azul / Flip – Feira Literária Internacional de Paraty

Obra de arquitetura em São Paulo: Biblioteca São Paulo / Aflalo e Gasperini + Dante Della Manna + Univers Design

Obra de arquitetura no Brasil: João Batista Martinez Corrêa / Mirante da Paz – Complexo Elevador Rubem Braga, Rio de Janeiro

Projeto referencial: João Filgueiras Lima, Lelé / Projeto alternativo para o programa Minha Casa, Minha Vida

Votaram: Abílio Guerra, Fernando Serapião, Guilherme Wisnick, Maria Isabel Villac, Mônica Junqueira de Camargo, Nadia Somekh e Renato Anelli

ARTES VISUAIS

Grande Prêmio da Crítica: Olafur Eliasson

Exposição Internacional: Em Nome dos Artistas / Coleção Museu de Arte Moderna Astrup Fearnley da

Noruega / Bienal de São Paulo

Exposição: Jac Leirner – Estação Pinacoteca

Design: Anticorpos – Irmãos Campana – CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil

Fotografia: Emidio Luisi – Sesc Consolação

Retrospectiva: No Ateliê de Portinari – 1920-1945 / MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo

Iniciativa Cultural: Vídeo Guerrilha 2º Edição/ Arte Pública: Imagens Originais Projetadas em Prédios da Rua Augusta

Votaram: José Henrique Fabre Rolim, João Spinelli, Luiz Ernesto Machado Kawall, Rubens Fernandes

Junior, Dalva Abrantes,Antonio Zago, Antonio Santoro e Emília Okubo.

CINEMA

Filme: Bróder, de Jefferson De

Documentário: Corumbiara, de Wagner Carelli

Diretor: Selton Mello, por O Palhaço

Prêmio Especial do Juri: A Turma do Alumbramento, pelos filmes: Estrada para Ythaca e Os Monstros

Roteiro: Riscado, de Karine Telles e Gustavo Pizzi

Ator: Fernando Bezerra, por O Transeunte

Atriz: Simone Spoladore, pelos filmes: Elvis e Madonna, Natimorto, Não se pode viver sem Amor.

Votaram: Luiz Carlos Merten, Rubens Ewald Filho, Orlando Margarido (por escrito),Neusa Barbosa, Flavia Guerra, Walter Cezar Addeo.

DANÇA

Concepção em Dança: Adriana Banana, por Desenquadrando Euclides e Necessário a Posteriori

Intérprete criador em Dança: Eliana de Santana, por ...E das Outras Doçuras de Deus

Ação política em Dança: Sandro Borelli

Percurso em Dança: Angel Vianna

Formação, Difusão, Produção e Criação em Dança: Núcleo do Dirceu

Grande Prêmio da Crítica: Ballet Stagium – 40 anos

Votaram: Ana Teixeira, Christine Greiner, Helena Katz e Renata Xavier

LITERATURA

Romance: Mano, A Morte Está Velha (Planeta), de Wilson Bueno

Ensaio/Crítica: Coleção História do Brasil Nação -1808-2010, organização de Lilia Moritz Schwarcz (Objetiva)

Infanto-Juvenil: Filhote de Cruz Credo, de Fabrício Carpinejar (Girafinha)

Poesia: O Metro Nenhum, de Francisco Alvim (Companhia das Letras)

Tradução: Guerra e Paz, de Tolstói, por Rubens Figueiredo (Cosac Naify)

Prêmio Especial: Reedição de História da Literatura Ocidental, de Otto Maria Carpeaux (Leya/Cultura)

Votaram: Luiz Costa Pereira Junior, Sérgio Miguez, Ricardo Nicola, Terciane Alves e Ubiratan Brasil

MÚSICA POPULAR

Grande Prêmio da Crítica: Cauby Peixoto, pelo conjunto da obra

Disco: Poesia Musicada , Dori Caymmi

Compositor: Erasmo Carlos, pelo disco Sexo

Grupo: Forgotten Boys

Instrumentista: DaLua

Show: Tangos & Tragédias

Revelação: Criolo

Votaram: Ayrton Mugnaini Jr., José Norberto Flesch e Inês Fernandes Correia

MÚSICA ERUDITA

Grande Prêmio da Crítica: Edmundo Villani-Côrtes - Compositor

Recitalista: Silvia Malthese Moysés - pianista

Prêmio Especial: Conjunto da Carreira – Claudio de Britto – pianista e musicólogo

Prêmio Especial In Memorian: Osvaldo Lacerda - compositor

Prêmio Especial Cultural: Fundação Cultural do Exército Brasileiro

Projeto Musical: Panorama da Música Brasileria – Unicamp (Diretora Dra. Denise Garcia)

Revelação: Leandro Gardini – Compositor

Votaram: Eduardo Escalante, Léa Vinocour Freitag e Luís Roberto A. Trench

RÁDIO

Grande Prêmio da Crítica: Rádio CBN – 20 anos no ar

Prêmio Especial do Juri: Dois Diretores em Cena – Rádio Jovem Pan AM

Musical: O Sul em Cima – USP FM

Internet: Web Rádio Faap – emissora educativa da Fundação Armando Álvares Penteado

Humor: O Palhacinho – Energia 97 FM

Esportivo: Papo de Craque – Transamérica FM

Variedades: Gira Brasil – Rádio Estadão-ESPN

Votaram: Cesário Oliveira, Marco Antonio Ribeiro e Sílvio Di Nardo

TEATRO

Grande Prêmio da Crítica: Daniela Thomas, pelo conjunto da obra nas áreas de direção de arte, cenografia e figurino

Espetáculo: Luis Antonio – Gabriela (Cia. Mungunzá)

Diretor: Leonardo Moreira (por O Jardim)

Autor: Rudifran Pompeu (por Marulho: o Caminho do Rio)

Ator: Joca Andreazza (por A Bilha Quebrada e A Ilusão Cômica)

Atriz: Lavínia Pannunzio (por A Bilha Quebrada, A Ilusão Cômica e A Serpente no Jardim)

Prêmio Especial: Dez anos de história do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, referência de políticas públicas para a cultura no Brasil

Votaram: Afonso Gentil, Evaristo Martins de Azevedo, Jefferson del Rios, Luiz Fernando Ramos, Mauro Fernando, Maria Lúcia Candeias, Michel Fernandes, Vinício Angelici, Valmir Santos e Edgar Olímpio de Souza

TEATRO INFANTIL

Espetáculo: Histórias por Telefone, da Cia. Delas

Direção: Carla Candiotto, por Histórias por Telefone, Sem Concerto e A Volta ao Mundo em 80 Dias

Texto Adaptado: Pedro Brício, por O Menino Que Vendia Palavras

Cenografia: José de Anchieta, por Biliri e o Pote Vazio

Figurino: Chris Aizner, por A História do Soldado

Ator: Bruno Rudolf, por A Volta ao Mundo em 80 Dias

Atriz: Gabriella Argento, por A História do Soldado

Votaram: Dib Carneiro Neto, Mônica Rodrigues da Costa, Gabriela Romeu e Gabriella Mancini

TELEVISÃO

Novela: Cordel Encantado (TV Globo)

Seriado: Tapas e Beijos (TV Globo)

Infanto-Juvenil: Julie e os Fantasmas (Band/Mixer/Nickelodeon)

Atriz: Gloria Pires (Insensato Coração/TV Globo)

Ator: Gabriel Braga Nunes (Insensato Coração/TV Globo)

Programa: Chegadas e Partidas (GNT)

Revelação: Elisa Volpato (atriz de Mulher de Fases/HBO)

Votaram: André Mermelstein, Cristina Padiglione, Edianez Parente, Leão Lobo, Paulo Gustavo Pereira e Robinson Borges

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011


Relato de Luis Aranha

Primeira ida do Grupo Redimunho de Investigação Teatral à Rua – FIGURAS

 

Minha tarefa nesta primeira ida a rua foi a de ir a frente do grupo com a função de apontar o trajeto a ser seguido.

Munido de um gravador, fui registrando o “passo a passo” de minhas impressões durante todo a trajeto. Isto, claro, sempre em linhas gerais  já que cada “figura” tinha seu relator individual.

Pontualmente fiz alguns comentários sobre uma e outra figura.

 

Como minhas impressões estão relatadas pormenorizadamente em áudio, não irei me ater a detalhes e sim as linhas gerais e questionamentos levantados a partir desta primeira ida à rua.

 

Vamos lá!

 

A saída

 

O grupo teve a sua saída do Casarão da Major Diogo por volta das 20:00hs. Todos ainda tímidos, em silêncio e muito próximos uns dos outros. Seus relatores com seus cadernos a tiracolo andando feito sombras atrás de sua figura, evidenciando ao público o caráter experimental desta ação. Essa postura dificultava a interação da figura com o meio e com as pessoas da rua já que conduzia claramente o olhar externo “....Ah, são atores que estão pesquisando...” dificultando a imersão da mesma.

Outro ponto a ser destacado foi a quantidade de figuras juntas. Essa postura também induzia uma leitura “teatral” das pessoas ao redor, diminuindo o estranhamento almejado na criação da proposta e, conseqüentemente, dificultando a “mistura” RUA/FIGURA.

 

Esse relato feito acima foi rapidamente percebido. Os relatores se afastaram e tentaram “sumir na população”. Assim feito continuaram a fazer seus relatos, percebendo em muitos casos, coisas que as figuras não perceberam devido a essa distância.

 

As figuras gradativamente foram se dispersando a medida que cada ator ganhava segurança e encontrava o seu ritmo de “descobertas”. Mais isolados, o trabalho de cada figura foi adquirindo seus contornos pessoais. O retorno ao Casarão da Major Diogo teve um intervalo de aproximadamente meia hora entre a chegada da primeira e da última figura.

 

Indagações musicais sobre a Figura e a criação do ator a partir da nossa ida a rua


 

Foi pedido por mim atenção as influências sonoras da rua como estímulo a permear essa Figura oca. Esse pedido não foi cumprido ou se foi não apareceu em nenhum dos relatos feitos pelos atores e por seus relatores. Aliás muitas das figuras sequer emitiam som (fala). Esse dado é apenas uma constatação e não  tem nenhum julgamento de valor.

 

    A partir desta constatacão levanto as seguintes questões:
A idéia de INFLUÊNCIA SONORA é muito abstrata? O que é INFLUÊNCIA SONORA? Som de carros? De TVs? De rádios? De gente conversando?
Como seria essa interação SOM e ator? Essa interação já seria considerada criação do ator, estrapolando dessa forma o papel da FIGURA?
Um som pode desencadear uma reação não sonora? E o inverso?
O ator pode propor uma influência sonora? Ela precisa ter um objetivo claro?
É possível separar o som dos outros elementos da Rua?

Essas são algumas questões para iniciar a reflexão sobre uma possível dramaturgia sonora com elementos colhidos do espaço público ou colocados em conflito nele.

Para os atores refletirem....

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

E no principio criou-se a Figura...

(Ou ainda: encontros, descobertas, surpresas e acasos)

 

O pedido a neutralidade em quase todos os sentidos, foi o comando inicial dado pela Bela,

para que déssemos início a construção daquilo que depois chamaríamos de FIGURA.

Aquilo que não se conhecia, que nem ainda era.

 

E começaram: roupas espalhadas pelo chão, adereços, cores, pedaços de tecidos, fivelas, vestidos, velas, novelos, fotos, corda, chapéus, óculos, saias, meias, sapatos, escritos, máscara, maquiagens, tubo, capacete....

Dava-se assim a grande surpresa de todos. Interprete virando FIGURA, e o novo-desconhecido surgindo.

 

Aqui faço um paralelo com o que discutimos ontem (06/12)

 – E quanto a nós, relatores? Meros escreventes? Passivos d’Ela?

    Ou também a construir e buscar algo?

 

Logo percebi, que não era apenas observar – e sim, ver e sentir ali, a transmutação dos companheiros; a criação no amontoado de coisas; sentidos que chegavam, palavras e pensamentos que começavam a pipocar em cada um ali, disponíveis ao trabalho.

 

Para nós, relatores, havia também revelações, de novas sensações, idéias, algumas coisas começavam a ter sentido. Nós, co-criadores de algo, começávamos a ser contaminados pela criação que fazia brotar a vida da FIGURA. Já era possível ver no olhar dela, as mudanças da (des)construção do ser, olhando, tocando, vendo na outra figura, talvez o rascunho de si.

 

No exercício proposto, acordado e dividido por todos – seriamos o olhar de fora,

O sentir e olhar a distância entre FIGURA e as situações que a vivência em rua nos traria.

 

Pois bem, voltemos a ela – a FIGURA.

A que acompanho já não é mais Diana Pinzigher; é agora um ser de vestido longo e branco,

fitas vermelhas como se fossem cabelos, uma bolsa e uma chapéu, ambos vermelho.

Com a boca tapada e calada por uma fita. Tem um olhar mais sobressaltado, mais saído, mais vivo,

que descobre pouco a pouco. A FIGURA começa então a tomar forma, corpo, olho, 

mas ainda é casca, ainda é oco, ainda é criatura sendo criada.

 

Bixiga, casarão, major Diogo, yayá, entorno familiar, e ainda sim, novo pra ela.

Estamos na rua. Logo na saída do casarão, vejo que a FIGURA começa a estabelecer um jogo,

que nem a mesma conhece; é como se também pedisse ajuda, como se ainda

precisasse ser amparada para andar pelas ruas do centro, também povoada por seres.

Sentia como se ela ainda não se conhecesse, como se não soubesse a potência que tinha sua imagem,

o quanto era estranho aos olhos dos outros vê-la assim: Despida da forma humana, sendo apenas ela, ser estranho.

 

Havia uma quantidade grande de desconhecidos nas ruas:

Moradores, curiosos, traficantes, crianças, bêbados, crentes, mendigos, cachorros, motoristas e outros, outros, outros...Os encontros e as trocas eram das mais inusitadas possíveis; alguns identificavam como teatro vendo o bando de figuras passar; outros iam mais além, queriam conversar com ela, perguntavam coisas, davam ou queriam tirar-lhe algo, e surpresos alguns a seguiam – uma outra figura, até cerveja bebeu.

Notava que ‘minha’ FIGURA, com os outros seres do grupo não tinha interesse em se relacionar, afinal todas as histórias, olhares, curiosidades, xingos e afagos tinha só pra si.

 

No trajeto, saído do casarão da major Diogo, 91, passando pelas ruas Maria José, conselheiro ramalho,

Manuel Dutra, rui Barbosa, treze de maio, santo Antônio, era visível e sentido a receptividade das pessoas,

tanto pro bem quanto pro mal, não havia exceção, a FIGURA era sim, notada na rua, e isso lhe dava força, poder, audácia; a troca com o outro lhe dava novas possibilidades de se e estar ali.

 

A FIGURA deu pétalas de si e de suas flores; deu olhares; acarinhou, riu sem sorriso,

Foi questionada, negada, recebida e mandada embora. Dos velhos as crianças, todos pelo menos a notaram. Se a alguém disse alguma coisa, acho que não, pois palavra falada não tinha.

 

Não havia trabalho intencional, a troca se dava no sentido de ser FIGURA.

O diálogo com a sociedade da rua foi estabelecido assim:

Estando na rua, pisando na rua, ouvindo a rua, entregando e recebendo da rua.

Como disse um figura aí...talvez o verbo da rua, seja o sentir...

 

Figura: Diana Pinzigher

Relator: Rafael Ferro

terça-feira, 6 de dezembro de 2011


 



 



O relato da FIGURA... 

 



 




Criar uma figura. Criar. Partindo do quê?

Uma figura que registra outras figuras.
Cores, imagens e estranhamento.

Pensamentos que vão e voltam, sem mais e nem menos, sem dar nenhum tipo de satisfação.

Saudade. Balas. Avô italiano que não conhecí. Sentava nos muros baixos das casas da época, vestido sempre com um de seus paletós, com os bolsos cheios de balas que ia distribuindo para as crianças que brincavam na rua. Era alfaiate. Seus ternos sempre tinham muitos bolsos.

Todas essas coisas passaram pela minha cabeça sem que eu tivesse o menor controle e certamente fizeram parte da idéia da minha figura, não como material psicológico, mas como escolhas práticas, materiais que eu poderia escolher para criar minha figura. Talvez pontos de partida.

Uma figura colorida, cheia de balas e que tem como objetivo registrar outras figuras. As balas, inicialmente eram oferecidas para as pessoas que se aproximavam e que porventura fossem fotografadas. Elas recusavam. Crianças recusavam. Pensamento inevitável: as crianças já não aceitam balas como no tempo do meu avô e não querem mais tirar retratos...

Registrar outras figuras. Uma bala cai no chão. Passei a deixar um rastro de balas pelos caminhos que passávamos.

Balas coloridas passaram a ser deixadas pelo caminho, registrando que passamos por ali.

O que as balas causarão nas pessoas que as acharem? O que elas pensarão? Elas as perceberão? Uma oferenda? Ou possibilidades infinitas que a imaginação pode criar?

Minha figura pouco se relacionou. Ela observou. Registrou.

Giovanna Galdi






Rel'ator:sobre os caminhos possiveis...

Investigação teatral: Figuras nas ruas do entorno do casarão da escola Paulista de restauro

Figura: Anísio Clementino
Relator: Leandro Borges

Descrição: Capacete de bicicleta vermelho, camisa azul larga e aberta,
shorts areia com manchas, sapato marrom claro, um tapete de chão colorido,
pedaço de tubo ligando a cabeça à boca. Uma imagem. Uma alegoria.
Uma figura. Um invólucro a procura de uma gênese: personagem.

29/11/2011 - Investigação no casarão:

Um primeiro olhar para o mundo, um primeiro olhar para o espelho, um
primeiro olhar para si nesse universo de cada ambiente. Enfileiradas figuras,
onde o próprio espectro impacta o lugar, onde as imagens cruzam, e olhares
vão em busca de um desnudar do mundo. A figura em busca de estímulos
exteriores, a procura de gestos, movimentos, locomoção.
Após o giro pela casa, então o primeiro embate com a rua é feito. Os olhos da
 figura que vê o olho do lugar. Os olhos curiosos no outro lado da rua. A busca
do próprio corpo, coça a barriga, brinca com o gato que passa, acena com o
pano, assopra o cano, faz graça, coça as costas...
Uma busca por um ser, um caminho, um caminhar, e pelo movimento se encontrar
como um caminhante.

30/11/2011 - Investigação pelas ruas:

Reações múltiplas de repulsa e curiosidade, pela frente da igreja, do
supermercado econ, na frente da sapararia. Pessoas a procura de
entender o que essa figura é. Surpresas causadas, o embate da figura
e o cotidiano das pessoas na rua, um inesperado encontro. Por baixo
de viadutos, pessoas seguem o cortejo. Uma resignificação da figura
em movimento, encontra novos gestos, a troca com moradores de rua.
A quebra da distância social via figura teatral, onde hierarquias sociais
e máscaras socias se enfraquecem. Anda e caminha, e para, interage
 com as pessoas, nos olhares, no barulho do assoprar do cano.
Quando para o cortejo, já há até pessoas filmando, encarando como
espetáculo teatral, e segue a figura pelas ruas, um cortejar pelo pano,
passam carros, olhares curiosos, alguns riem, alguns ignoram,
curiosidade de vários transeuntes. A figura continua em ações fixas.
Olhares e comentários, considerado um artísta, um doido, um demônio.
Anoitece por completo, a relação fica mais estreita, o movimento aumenta
pela rua repleta de bares. A figura segue, brinca com as pessoas, faz
graça, rouba sorrisos e desprezos. Passa muitos carros, a figura então
balança o lenço ao mundo, recebendo-o, como se reverênciasse as
pessoas. Elas sorriem ou ignoram; imcompreendidos ou dados atenção
e admiração. Então a reta final para o retorno do casarão. Com um
passar mais devagar, a figura encontra os últimas pessoas para
interagir. Um maior número de pessoas abertas pela troca é encontrado.
Falam, refletem sobre a própria figura. Como se o soprar pudesse ventilar
as idéias. Então termino o relato com uma frase condensadora:

                        “Fazer a troca da (in)sanidade pela possibilidade.”
O ator...a figura...e o espaço...

por Jandilson Vieira

 

A Rua Major Diogo foi o ponto de partida do “eu - figura” (Vestes: vestido preto, camiseta manga longa preta, pedaços de tecidos grudados na camiseta, chapéu cheio de botões, uma bolsa vermelha cheia de novelos de lã, pedaços e rolo de fita e quatro óculos). Iniciei a minha caminhada observando o mercado ECON sem a intenção de fazer algum gesto para chamar a atenção, as pessoas não olhavam.

 

À frente, num salão de cabeleireiros, fico na porta de vidro olhando as mobílias sem dirigir o olhar para alguma das pessoas que estavam ali. Logo em seguida a dona do salão chega e pergunta se aquilo é teatro, fujo do assunto e faço uma pergunta obvia: - Você corta cabelo? E ela Responde: Somente feminino!

 

Continuando a caminhada eu sentia uma imensa necessidade de procurar coisas na bolsa e dar funcionalidade a algumas das coisas que estavam dentro, atravessei a rua e me deparei com uma viela de casas cujo o número era 338 ( Neste momento tive vontade de somar 3 + 3 + 8 = 14. Para chegar em um outro numero fiz a somatória de 1 + 4 =5. O numero cinco naquele momento parecia não fazer sentido, mas durante o trajeto eu ia contando as coisas que eu via).

 

Durante o caminho eu amarrava fitas em arvores e postes que somatizados dariam 5. Havia pouquíssimas arvores naquele entorno e muitos postes de luz. Havia preocupação da figura em demarcar os lugares por onde passava.

 

Tentei atravessar a rua 5 vezes, os motoristas não paravam mesmo vendo que pessoas queriam atravessar. Quando cheguei do outro lado da rua me deparei com varias crianças e adolescentes atrás de um cercado de arame, elas xingavam e jogavam coisas, me afastei.

 

Segui a diante e me deparei com vários moradores de rua, um deles me chamou a atenção por que estava com o pé esquerdo enfaixado (estava inchado e parecia ser trombose) ele estava sentado no chão conversando com uma mulher, quando interrompi a conversa e comecei a falar com ele:

 

Eu – Figura: - O Sr fica sempre aqui?

 

Morador de Rua: Sim!

 

Eu – Figura: (Vejo que há uma caixa da bicicleta CALOI, que supostamente ele usaria para se cobrir durante a noite e a perna enfaixada e pergunto) – O Sr Caiu de bicicleta?

 

Morador de Rua: (Olha a perna e a caixa da bicicleta que esta ao lado e começa a rir.

 

(Continuei observando a conversa deste senhor com uma moça e logo fui embora)

 

 

 

Ao chegar na esquina havia uma senhora baixinha sentada na mureta, tive a impressão que ela estava passando mal e comecei a dialogar com ela.

 

Eu- figura: A senhora está bem?

 

Senhora: Sim! (silêncio)

 

Eu- figura: A senhora está esperando alguém?

 

Senhora: Não! É que eu fui à casa de uma amiga e ela já tinha saído....foi para a escola e só volta as 22:30.

 

Eu- figura: (tirei um novelo de lã da bolsa e ela me pergunta)

 

Senhora: Você faz tricô?

 

Eu- figura: Não!

 

Senhora: Crochê?

 

Eu- Figura: Não! ( E começo a desenrolar o novelo) Gosto mesmo é de desenrolar novelos de lã.

 

Senhora: Para quê?

 

Eu- figura: Gosto de chegar no fim das coisas, quero achar a ponta....o fim. Desenrolo, desenrolo, desenrolo...acho o final e depois começo a enrolar tudo de novo para achar o começo.

 

Senhora: ( Ri não acreditando no que ouvia).

 

Depois apareceu um senhor bêbado perguntando se eu tinha alguma coisa a ver com religião. Eu disse que não e o ignorei.

 

Teve um momento de um senhor na janela que estava olhando a rua, olhei para ele e ele estava assustado, não queria muita conversa. Falei para ele que ele era um homem de sorte, por ter uma janela daquele tamanho e uma noite calorenta. Ele somente balançava a cabeça concordando.

 

Estava do outro lado da rua quando o meu relator indica com a cabeça para eu passar no salão de cabeleireiro. Havia uma janela imensa aberta, permaneci em frente olhando fixamente a televisão. A cabeleireira que estava concentrada no afazer da escova demorou para ver que eu estava ali. Foi parando devagar e se dirigiu até a janela, perguntou: - A senhora quer alguma coisa?  Eu dizia que não queria incomodar somente queria assistir televisão. Desconcertada ela não sabia se ficava na janela ou se ia cortar o cabelo, olhava para os lados como se estivesse procurando alguém. Retirei um pedaço de fita e deixei na janela, ela olhou com um olhar de recusa e eu disse que aquela fita traria sorte.

 

No farol fechado eu estendia uma imensa fita laranja e ficava observando o bonequinho verde do farol de pedestre. Quando o sinal abria eu saia correndo e começava a enrolar a fita, fiz isso 3 vezes e cansei.

 

As pessoas me olhavam com estranheza, parei num bar onde tinha 2 moças tomando cerveja. Uma das moças era muito sorridente e a outra emburrada. Tinham acabado de chegar de bicicleta que estava à frente delas. Amarrei uma fita em cada bicicleta solicitei que tomassem cuidado, se beber não dirija, empurre a bicicleta até em casa.

 

Deitei na calçada e varias pessoas começaram a se perguntar se era um homem ou uma mulher. Diziam: É um homem, olha a mão dele. Outros: É uma mulher, ta de saia. Uma das pessoas ameaçou pegar água para jogar em mim. Escutei a figura da Aline falando: - Pega água e joga nele.

 

Um pouco mais a frente com o rolo de lã na mão, peço ajuda para algumas pessoas que segurem o fio. Quatro pessoas seguraram o fio e quando eu estava distante pedi que soltassem e enrolei o novelo desfeito.

 

Entrego um elástico para um casal que estava em frente a um bar chamado PIU PIU. Eles me perguntam o que eu sou, eu não respondo. Pergunto para eles se preferem o caminho mais longo ou o caminho mais curto com sofrimento. Respondem-me que o mais longo, viver é sofrer. Questionam o meu nome, relacionando a figura que acabara de passar que se chamava VAZIO. Perguntei que nome me daria: (A mulher) – LOTAÇÂO.

 

Quando parecia que a trajetória já havia terminado por que as ruas estavam vazias. Vi uma placa: GREVE DE PADEIROS. Neste momento eu achei que ali era uma brincadeira, eu nunca ouvi falar de greve de padeiro, era algo revelador. Perguntei para o segurança o que significava aquilo. Ele dizia que os padeiros entraram em greve. Questiono que está fazendo pão?

 

Segurança: - Ninguém! Fala ali com o dono da padaria que está no caixa.

 

Eu – Figura: (Me dirigi até o Dono da padaria) Senhor que está fazendo pão?

 

Dono da padaria: - Ninguém, os padeiros estão em greve.

 

Eu- figura: Mas como estão de greve meu senhor, como uma padaria pode ficar sem pão?

 

Dono da padaria: Não pergunte para mim, pergunte para os padeiros que estão ai em frente.

 

Quando olho para frente vejo uma kombi branca com duas caixa de som na parte de cima e duas cadeiras dentro, uma faixa de GREVE e dois padeiros – um muito sorridente e outro muito sério . Entrei dentro da kombi e questionei os padeiros para saber o que estava acontecendo.

 

Padeiro sério: Estamos em greve por que o dono da padaria não quer aumentar o nosso salário.

 

Eu- figura: Mas todos os padeiros estão em greve?

 

Padeiro sério: A maioria das padarias já aumentaram o salário, somente aqui que está com essa palhaçada.

 

Eu- figura: (Falando para o padeiro sorridente) Por que você tanto ri? Seu salário ta baixo e o senhor ainda tem motivo para rir.

 

Eu não sabia se ele estava rindo da minha figura ou do fato de estar numa Kombi de greve.

 

Sai indignado com a situação, nunca tinha visto uma greve de padeiro, onde eu moro nunca faltou pão. Eu não tinha noção nem de onde eu estava de tão abismado com aquela situação. Eu ia questionando as pessoas na rua sobre a greve do padeiro.

 

Uma experiência reveladora que acontece quando você está aberto para ouvir, sentir, vivenciar. As coisas se desvelam com o mínimo proposto. Houve momentos que eu tinha a necessidade de querer ser observado, mas acho que as coisas se revelavam justamente no momento em que não havia a preocupação de FAZER.

SEGUIMOS...

EXERCÍCIO :FIGURA/RUA/ESPAÇO...O MOVIMENTO ...


Atriz: Alline Sant'ana


Saída ou chegada


 

29-11-11

 

Quando tivemos o estímulo de pensarmos em uma figura-criatura logo me veio à imagem uma mulher gorda que limpa nomes, a relação com o argumento que iniciei em um exercício anterior foi apenas imagético, não criei uma gênese para este imagem, tanto que no primeiro dia de construção e experimentação da criatura no Casarão me detive à manipulação dos objetos, às sensações e ações proporcionadas pelo espaço, assim como, ao incomodo e às possibilidades que a vestimenta gerava. Ainda neste primeiro exercício me chamou atenção à dilação do olhar para os detalhes, para o silêncio e para o caminhar... Como se tudo fosse nosso a esta criatura e sendo esta uma suspensão entre o ator, a imagem e o espaço, sem a necessidade de uma relação linear ou lógica com o espaço.

 

30-11-11

Em um jogo: Quanto realmente nos permitirmos jogar e quanto optamos (consciente ou inconscientemente) por manipulá-lo?

 

Quando saímos em bando para a rua a primeira imagem que me fitou e que se “re-significou” foi o lambe-lambe no poste, quase sujo e quase rasgado, escrito LIMPE O SEU NOME. Já havia desistido da minha primeira imagem, pois percebi que ela sugeria uma ação e não apenas uma condição. Ex: a imagem de uma “mulher gorda” não carrega nenhum gestual, agora a imagem de uma mulher gorda que limpa nomes indica uma ação física: limpar nomes. A figura deixa de ser pura em sua condição, pois já exerce uma função social. Mas no momento não tive essa reflexão e seja apegada na idéia de que eu sabia uma ação, mas não a forma desta, logo, partia do nada.

 

A primeira mulher que conversei foi a Raquel Cabeleleira, perguntei o seu nome, ela demorou á me responder, ria, desconversava e depois me respondeu com outra indagação:

Raquel: - Pra quê?

Criatura: - Para limpá-lo.

Raquel: Oxe... Não tá sujo (risos). Muito obrigada. Pode ir embora.

Criatura: Não quer mesmo?

Raquel: (vendo a prancheta, a caneta e as outras criaturas) É pra anotar aí?!(risos) é Raquel meu nome. Olha lá o que vai fazer com ele.

Criatura: Só vou limpar. Grata!

 

Retomei uma ação que havia testado no casarão: trocar os óculos, sem ter uma condição ou motivação específica para este ato. Sentei-me no chão e espalhei todos os óculos na calçada. Trocava-os incessantemente, depois guardei todos e segui caminhada. Por todo o percurso era impressionante o número de lambe-lambes colados nos postes, nas paredes e nas caixas luz contendo os dizeres: Limpe o seu nome. Parecia-me que algo tinha que ser retomado. Voltei a observar o nome das pessoas que eram ditos na rua, os nomes de travestis e garotas de programa colados nos orelhões, tentava ligar para estes números a cobrar, apenas um atendeu e desligou antes de completar a ligação, então me sentei no chão do bar e chupei uma laranja.

 

O que gera a curiosidade? O que gera a pausa de apreciação? E o que resulta no estranhamento?

 

Estar neste entremeio é estar o tempo todo se dando rasteiras, se enchendo e se esvaziando. Sem controle tanto das sensações, das ações e reações, e da racionalização. Não há tempo para criar uma linda história com fina feliz, pois as intervenções, a continum ruptura da rua te leva para um espaço muitas vezes acrônico e incontrolável... O silêncio e o caos engravidam!

 

Na ponte a caminho da treze de maio, um moço com um celular na mão nos acompanhava, ofereci um óculos para ele a primeira vez que nos olhamos, ele não aceitou, ofereci outra vez que nos encontramos...ele sorriu e na terceira vez que nos encontramos ele aceitou. Em nenhum momento trocamos palavras, apenas gestos e onomatopéias.

 

Depois me com a sede, parava em todos os bares pedindo um gole de água. As pessoas me olhavam com suspeita (me deslocava do bando para realizar este pedido), pareciam não entender aquela figura estranha fazendo um pedido tão cotidiano, algo era friccionado.

 

Me deparei depois de uma ladeira, com um menino sentado no ponto de táxi, observando admirado aquele bando de criaturas que subia ladeira, quando sentei ao seu lado de pronto me recebeu, então eu disse:

Criatura: Esta bolsa esta cheia de óculos

Menino: Jura

Criatura: Juro...quer ver

Menino: Sim

Criatura: (mostrando a bolsa) Ta vendo...

Menino: Nossa

Criatura: Quer um?

Menino: Sim

Criatura: Qual é o teu nome?

Menino: Renan..

Criatura: É seu Renan

Menino: Jura

Criatura: Sim

 

Continuei a caminhada e na frente da igreja cujo nome é de uma santa que nunca ouvi falar, reencontrei o Renan que me disse que estava indo para casa do primo, então lhe entreguei um óculos e pedi para que entregasse ao seu primo. Ele aceitou de pronto e saiu saltitante com o seu óculos na sua mão direita e o óculo de seu primo na mão esquerda, gritando para todos o amigos que jogavam futebol na rua: TENHO QUE CORRER VOU PARA CASA DO MEU PRIMO, GANHAMOS ÓCULOS...DOIS!

 

Fiquei imaginando como essa história iria se desdobrar...

 

Quando percebi já havia dado meu óculos para um menino, meu cachecol para um cachorro, meu lenço para outro cachorro e tirei meu chapéu para beber uma cerveja com um homem que não acreditava em mulheres de chapéu vermelho.

 

Perdi minha caneta, tinha que anotar o nome do Renan, ao pedir a caneta perguntei o nome do garçom, dois nomes na lista de uma vez só... Comecei a pedir caneta em todos os restaurantes com a mesma estratégia, perguntava o nome da pessoa e depois pedia a caneta. Teve um homem que desconfiado me disse:

Homem: Para que quer saber meu nome?

Criatura: Para anotar aqui?

Homem: Pra que?

Criatura: Nada demais...

Homem: Não falo meu nome para estranhos

Criatura: Só limpá-lo

Homem: (observando o resto do bando que se aproximava) Ah... é teatro! Tinha que vir de Sab ou domingo tem mais gente, mais público para ver vocês, porque vocês se arrumam, se preparam para ninguém... Tem que valorizar mais o trabalho de você, porque o povo não quer saber de cultura não. Meu nome é Wesley

 

Na treze de maio entrei em uma pizzaria, sentei-me à mesa, a mulher perguntou o que eu queria... Disse que precisa ir ao banheiro, ela desconfiada me deu a chave... Eu entrei tirei a calça xadrez. Fiquei apenas com o vestido e sai correndo. Ela se assustou e depois foi até a porta ver o que acontecia.

 

Desci até um estacionamento, sentei-me ao lado do vigia e coloquei minha plaquinha no chão... Aos poucos um bando de crianças de me rodeou, fazendo inúmeras perguntas, lhes apresentei a bolsa de óculos, eles ficaram aproximadamente meia hora experimentando todos os modelos da bolsa.

 

Eu já estava ficando cansada e aos poucos meu cansaço se mistura a imagem em transformação da criatura. Tudo tinha outro significado, não mais a necessidade de gerar situações ou mesmo estar em um ritmo acelerado, mas permitir realmente olhar e ver as coisas, o cheiro, o movimento... Sem a necessidade de interferir, mas interagir... Mire, veja.

 

Já perto do casarão me deparei com uma faixa escrita: GREVE DE PADEIROS. Logo pensei: Nunca soube que padeiro fazia greve.

 

Enfim, chegamos ao casarão... Ainda reverberando todo o ritmo e histórias da rua.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Relatos de uma atriz...por Izabela...

Relato de uma "atriz-relatora".

 

Dia 29 de novembro terça-feira. No casarão...

 

Exercício de pré construção da figura.Propus que os atores fossem a procura de objetos e figurinos, reunimos todo o material na sala marrom e gradativamente os atores foram se construindo e montando suas figuras. Fizemos uma caminhada pelo casarão e paramos na entrada para olhar a rua. Olhar de dentro da casa para fora, a rua. Voltamos para a sala marrom e todos escreveram suas impressões, a escrita de cada um, a escolha do que fica e do que sai.

 

Aline em construção: cores dos tecidos eram próximas, bolsinha com folhas, potinho de metal com anel, um capacete vermelho e uma calça xadrez. Sua expressão era atenta e curiosa, camadas de roupas, camisolas, bota de homem. Ficou uma figura cheia, sem pescoço, uma bolsa cheia de óculos, a escolha dos óculos ja lhe propos uma primeira ação constante. Tinha um caderno, anotava sempre.

 

Dia 30 de novembro quarta-feira. Na rua...

 

Indo...definimos um caminho e saímos para nossa experiência na rua, no entorno.

A figura que eu estava acompanhando mantinha a mesma composição estética do dia anterior, levava nas mãos além da bolsa com óculos, uma prancheta com papéis que estava escrito: LIMPE O SEU NOME. Nós relatores nos distanciamos e deixamos que as figuras tivessem a liberdade de criar. Silenciosa, ela passava entre as pessoas, a estranha caminhava no meio da suposta normalidade, mantinha um ar sério, falava com calma, parava em todos os orelhões, recolhia as etiquetas e colava-as na prancheta, tentava sempre ligar para alguem, quem ? Um ato mecanico, parava para escrever, perguntava o nome das pessoas que estavam nas portas dos estabelecimentos, pedia a caneta para escrever o nome, pedia água nos bares, a sede constante. Trocava de óculos e parecia que enchergava sempre a mesma coisa, foi adquirindo pequenas manias da rua, como por exemplo andar pisando nos pisos mais escuros, alternado com os claros. Ela se utilizava de tudo que tinha na rua, o chão, a água e cerveja dos bares, os orelhões, os nomes das pessoas. No final da caminhada ela foi se desfazendo, se desfigurando, tirou peças de roupas, se descompos, foi tomando outro formato, se apagando e perdendo a força.

 

 

 

 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Postando sem correção...na pureza da caneta e do momento..

Segundo relato de "rel-ator"...
Exercício realizado em 30/11
Relator: Keyth Pracanico

Figura: Denise Ayres

 

O fato de relatar uma figura faz, já por si só uma coisa muito estranha. Não sabia por onde começar. Resolvi tentar entendê-la. Bom: vestida toda de azul, uma peruca imensa, um rádio que nada diz e uma foto de Carmen Miranda? Quem é ela, meu Deus? Ela não diz nada! Engano. Diz, sim. Só foi vê-la melhor e, por si só, criei toda uma estória para ela. Sem ela me dizer. Era só uma figura andando. Só a Denise.

Então comecei segui-la. Aflita.Minha nossa, ela sozinha na rua. Nós sozinhas na rua! 

A rua é um mistério para mim. Nunca fiz nada nela. Nunca interferi, nunca dei um grito, chorei. Acho que no máximo xinguei alguém....

E atrás da minha Carmen azul, percebi que ela queria dizer muitas coisas para aqueles seres que passavam por ali. Eles podiam gostar ou não. Mas que ela incomodava, ah, isso incomodava!

Porque mesmo que você só olhe, mesmo que de relance, aquele ser solitário te deu uma informação.

As pessoas daquela rua já estão acostumadas a passar por tantas circunstâncias! Tanta gente estranha anda no Centro! Tanta tragédia acontece, que minha primeira impressão foi crer que a Carmen não causaria estranheza: é mais uma mendiga solitária, louca, falando com árvores.

Mas aconteceu algo ali. Tem algo diferente naquela atriz sozinha. Algo que fez as famílias saírem na janela e darem tchau para ela. Será que é porque pensavam que era teatro? Talvez. Mas o mistério está aí. O teatro traz as pessoas para você.Nem sempre, ou quase nunca eles querem ver seu espetáculo, mas quando você passa na frente de suas casas, eles querem te ver, comentar, querem conversar.....E aí cada um vê o que quer: uma mulher perdida, a sósia da Carmen, uma louca, uma atriz fingindo que está fazendo uma cena na rua. Enfim.....

É uma interferência naquele cotidiano: alguém andar na sua direção, te responder, falar. Já se causou um movimento.

Confesso que como relatora, às vezes eu interferi nesse jogo. As pessoas percebiam que era uma atriz. Acho sabiam desde o início, mas comigo lá......era como se eu soubesse os segredos que eles compartilhavam com ela. Se só eu estou falando com a Carmen, quem vai saber? Sou só eu e ela. Mas quem é essa menina com um grande caderno? Ah! É parceira dela! Então vou mudar meu modo de falar. Elas estão trabalhando, fazendo uma pesquisa, uma cena.

E aí o segredo ia embora.

Tenho certeza uma, daquelas muitas que encontramos ontem, comentou com alguém hoje: você viu? Ontem o teatro passou por aqui.....


 



 

Sobre o "relator"...

Dentro desse exercício proposto, consideramos a subdivisão do grupo em pequenas células de trabalho e fizemos um sorteio entre o elenco a fim de deixar ao acaso a construção desses núcleos.

O núcleo ou célula de trabalho era composto por um ator criador e um relator.

Cada “figura” era acompanhada por alguém que seria responsável por descrever a sua trajetória nessa peregrinação pelas ruas ...

A tarefa desse relator era justamente escrever suas impressões durante a trajetória de construção e criação disso que estamos chamando de figura , mas que talvez venha a ser em algum momento uma referencia de personagem e dramaturgia teatral...

PRIMEIRO RELATO DE UMA "ATRIZ RELATORA":

RELATÓRIO EXERCÍCIO “FIGURA”

Ator figura: Mendes (Carlos Mendes)

Atriz relatora: Nataly Cavalcanti

Primeiro dia:                                CASA

Figura sinistra, algo de lobo, algo de homem, algo de demônio.

Acorrentado a uma cruz.

* Uma curiosidade: O ator, durante o processo de construção, no primeiro dia, cantou, em um dado momento, a frase: “acho tão bonito...” contrapondo com a figura feia/bizarra da qual ele criava.

 

A cruz está presa a ele, ou ele a cruz?

 

Segundo dia:                                  RUA

O andar é pesado sobre calçadas esburacadas...

A cruz que carrega lhe pesa?

Ou é a corrente que lhe pesa?

O olhar da figura quase sempre se mantém no horizonte enquanto caminha.

As vezes pára, olha para o alto, ou para lua?

 

As velas da cruz se apagam com o vento...

Luz, luz..

Ele pára, tenta acende, algumas se mantém acesas, mas, por pouco tempo.

 

Passam carros, pessoas, crianças... crianças...

Elas param seu jogo de futebol e gritam alvoroçadas, grudadas nas grades do campinho:

“Sai diabo!!!”

“Vaza demônio!!!”

A figura, do outro lado da grade, os olha, parado... (algo de curioso?) depois se vai...

Pedras são lançadas.

 

O cão vem correndo e se depara com a figura, frente a frente. Latidos contínuos do cão... e ar de estranhamento da figura o observa parado, depois sai... e o cão a latir.

 

Adultos, eles quase se nunca se aproximam. Apenas comentam a distancia:

“Olha o satanás!”

“Que isso?”

“O diabo!”

 

Três senhorinhas sentadas na porta de uma casa observam a figura passar do outro lado da rua, uma delas exclama para as outras, com seriedade:

“Deus é mais...”

As outras riem.

Uma figura solitária.

Muitas vezes olha para cima.

Tenta acender as velas.

 

O farol, a faixa de pedestre, carros, muitos carros...

A figura atravessa um lado e pára na encruzilhada...

Ali fica, junto com o farol... e sua cruz.

(Ali houve um distanciamento do restante do grupo, a figura estava só, entre os carros... que passavam buzinando, gritando.. pessoas olhavam pela janela... despertou interesse.)

 

Um bêbado, sentado numa mesa de bar vê a figura e imediatamente uiva:

OOUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!

 

*A única pessoa até então que relacionou a figura a um lobo.

Detalhe: havia uma lua linda no céu... fazendo link com a imagem do lobo.

 

Só.

Se apóia na cruz, parado, entre casas de rua escura.

 

Imagem:

A figura tantas vezes intitulada como demônio se depara com a igreja.

Ele para diante de seus portões fechados, olha os muros de cima abaixo com aquela cruz na mão, de costas para rua, depois olha por algum tempo para o céu e sai.

O vento apagou a última vela acesa.

 

Por um bom tempo caminha reto, sem olhar para os lados, no mesmo ritmo, algo de cansado.

 

Mais uma vez crianças:

“Sai diabo!”

“Vai embora coisa ruim”

 

Imagem:

Na treze de maio... a figura parada ergue a cruz, com algumas velas acesas, acorrentada ao seu pescoço de frente para rua, no fundo um portão grande e preto e o som de um rock tocando no bar ao lado.

(ar sinistro).

 

 

 

 

 

 

* Em geral as pessoas não se aproximaram da figura, a não ser as crianças que chegaram até a encostar, mas sempre com insultos.

Os adultos observam distanciadamente, comentam com outras, riem, às vezes fazem piadas.

O estranhamento maior ocorre quando não há mais pessoas grupo por perto, o que acaba por “confortar” quem está vendo por perceber que se trata de algum “evento” (teatro, carnaval, festa a fantasia).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Figuras...terceiro relato...

30 de Novembro de 2011

 

A Figura e a Rua

Um Homem vestido de branco com os seguintes dizeres em sua roupa:

“Estou vazio – Um pedaço de ti – Um pedaço – Uma parte”

Não posso falar sobre o dia 30, sem antes citar o ocorrido no dia anterior... Realizamos no casarão um exercício para “um primeiro rascunho das figuras”, minha figura já vinha em meu imaginário, desde o momento da proposição do exercício de incursão na rua, foi quando surgiu à palavra VAZIO.

Durante o exercício fizemos um reconhecimento do espaço, até que todas as figuras ficassem no para peito do casarão de frente para a rua... Do outro lado da rua vinha uma mulher, de longe ela notou a presença daquelas figuras/seres que ocupavam aquele espaço.

Quando ela atravessou a rua pude estabelecer um vinculo, ficamos nos olhando, nos reconhecendo durante algum tempo, foi quando eu disse para ela: “Estou vazio. Você me daria uma parte sua para que eu fosse completo?” Ela disse: Sim.

Desci as escadas correndo, entreguei-lhe uma caneta e ela escreveu: “Eu estou triste, mas me renovo amanhã”

Minha figura já não era tão vazia assim! Fui para a rua levando em minha roupa 14 riscos, 04 bolas, 02 corações, a palavra som, e a frase “Eu estou triste, mas me renovo amanhã”...

Uma figura que já não é tão vazio assim, precisa reelaborar o seu discurso e talvez o seu significado.

Na rua a coisa é bem diferente...

Interferimos diretamente no cotidiano das pessoas. Numa cidade onde encontramos figuras a todo instante, como se fazer visível? Como alcançar? Como dialogar com o outro?

Um homem vestido de branco, pode ser só, um homem vestido de branco. Porém, se esse homem vestido de brando quer interferir e se comunicar diretamente com as pessoas que passam pela rua, é necessário que se encontre um corpo, um ritmo, um olhar, algo que sais do comum. E para isso não adianta uma super-elaboração da personagem. É necessário estar sensível, é necessário ouvir.

O verbo da rua é SENTIR.

Sentir a repulsa.

Sentir o medo.

Sentir o estranhamento.

Sentir o aconchego.

Interessante perceber que quando estou na rua como homem comum; com minhas contas a pagar e meus interesses, eu quero ser invisível. Mas quando estou na rua exercendo meu oficio de ator, quando estou na rua como figura, ser, personagem eu quero que me notem! Não quero passar despercebido.

            Dessa experiência na rua citarei aqui algumas situações que me chamaram a atenção:

 

1ª Um menino de uns dez anos de idade escreveu em minha roupa a palavra PAZ. Eu perguntei para ele:

- Paz é bom?

Ele disse:

- É.

Então eu perguntei:

- E como a gente faz pra conseguir?

E ele respondeu:

- Não sei. Só sei que bom!

 

 

2ª Um rapaz de longe tentava ler os escritos de minha roupa, me aproximei e perguntei “Para um homem que um dia foi vazio, o que você daria para que ele fosse completo? – O rapaz pegou a caneta de minhas mãos, ficou um tempo em silêncio e escreveu emocionado: IGUALDADE.

Parti dizendo:

- Igualdade para você. Para mim. Para todos nós.

 

 

3ª Um casal perguntou do que se tratava a minha figura, minha resposta foi “Para um homem que um dia foi vazio, o que você daria para que ele fosse completo?” A moça escreveu a palavra AMOR e o rapaz FELICIDADE, quando fui embora, pude ouvir ela dizer: Nossa que legal poesia a essa hora do noite!

 

 

4ª Parei em frente a um senhor que bebia cerveja num bar, mostrei os escritos da roupa e ele disse:

- Eu sou três vezes mais velho que você rapaz! Você é muito jovem pra ser triste.

 

 

 

Paulo Henrique Sant” Anna

01 de Dezembro de 2011

14:30hs

 

Segundo relato:A ATRIZ CONVERSA CONSIGO...


 














FIGURA EM CONTATO COM A RUA Descrição: Azul na cabeça e no corpo, algumas cores por cima do azul, na mão direita uma foto da Carmem Miranda de cabeça para baixo e na esquerda uma caixa com uma antena, dentro da caixa um puxador de armário.

O que procurar na rua? É para procurar algo na rua?
É diferente a rua, é estranhamento, medo(das pessoas mesmo) e vontade, é atenção e percepção: onde pisar, onde me debruçar e ficar um pouco mais, onde não parar, onde parar mas com muito cuidado...

Debrucei-me com as árvores que tinham flores e frutos só lá no alto, nas pontas e com árvores de folhas secas e com troncos sem árvores - relação de olhar, fazer barulho...o que buscava ainda não sabia naquele momento e talvez nem saiba ainda...
Debrucei-me um pouco mais com as crianças da grade: lá fui xingada e também ajudada, descobri o nome da mulher da foto: Carmem - a menina do lado de fora da grade me disse - então eu procuro Carmem

Debrucei-me com o senhor que estava embaixo do Viaduto, alguém lhe entregou algo (que parecia uma folha) e ele não sabia porque tinham entregado aquilo...e eu, sabia? Mostrei-lhe a foto e ele não me deu mais bola...então segui
Parei um pouco com os moços de sotaque estrangeiro que estavam no bar...lá descobri: A Carmem foi para o alto...é um anjo

Algumas pessoas pelo caminho indicavam um outro caminho a seguir na busca pela pessoa da foto, outros diziam que estava mostrando minha foto, alguns arrumavam a posição correta da foto, outros nem me olhavam quando passavam, outros só balançavam a cabeça, os do alto dos prédios davam tchau...menos o senhor cabeludo que nem olhou...um cachorro latiu atrás de uma porta com vidro e quando eu me aproximei ele fugiu e ficou latindo de longe...

Desci a rua das estrelas...muitas por sinal, tentei conversar com duas meninas mas, elas não queriam conversa aquela noite

Encontrei o senhor que amarrava o papelão na carrocinha...ele me disse que eu não is encontrar a moça da foto porque eu andava muito devagar, ele mora dentro da pizzaria e trabalha todo dia o dia inteiro e estava cansado...ele tinha 3 carrocinhas cheias porque naquela rua tinha bastante papelão.

Esperando o farol para atravessar um moço em frente a uma porta me chama e eu vou...ele também tinha sotaque estrangeiro e me disse que a Carmem estava no Inferno...porque no Céu só tem gente boba, não pode-se fazer nada por lá, no inferno não, tem cerveja, tem dança, te até teatro ele disse...eu perguntei para onde ele ia e ele disse que ia para o Inferno também porque é muito mais divertido e a gente (ou eles) combinou de se encontrar lá daqui algum tempo...

Deixei o som da caixa de lado em alguns momentos, outras coisas passavam a ter mais importancia e depois ele voltava como se nunca tivesse ido, onde chamava mais atenção é para onde ia, mesmo abrindo mão de coisas...

- Uma figura, mulher, que procura alguém, talvez procura a si mesma (alguns encontros diziam que era ela mesma que estva na foto, que era um espelho), talvez esteja perdida e procure se reencontrar - talvez - para se perder novamente. *essa parte já é coisa da minha cabeça que escrevi no caderno*.

Denise Ayres





Primeiro Exercício...

Começamos um exercício de saída...

O primeiro passo era o de tentar compor uma “casca”,  uma figura que fosse “vazia”, e o fizemos evidentemente dentro daquilo que seria possível...

Levávamos como regra básica daquele jogo o fato de que as “figuras” não tivessem passado ou futuro...teríamos como norteador do exercício a idéia de que quem as preencheria seria mesmo esse “contato subjetivo”, com o mundo externo...

Talvez essa possibilidade de construção pudesse ser um fator relevante de compartilhamento da criação com o público e conseqüentemente com o espaço...

Segue primeiro relato de um dos atores...
Uma figura.
Sem boca, vestida de branco, cabelos de fitas vermelhas que lhe caem pelas costas, com um chapéu coco vermelho, traz na mão uma maleta quadrada da mesma cor.

Dentro da mala, um pequeno ramalhete de rosas brancas, secas e cheias de sal mas que ainda mantém seu cheiro e uma carta sem remetente, nem destinatário.

Apenas uma  imagem, oca, sem passado, presente ou futuro, sem argumentos nem proposições, sem história nem objetivo.

Assim me senti, quando passei pelo portão do casarão centenário na Major Diogo, pleno centro de São Paulo.

Quando iniciamos a caminhada, lembrei que eu mesma não conhecia aquelas ruas, não conhecia quase nada além do trajeto diário, 

dos meus passos diariamente marcados pela repetição.

Resolvi então, me atentar as ruas, aos prédios,casas, postes... mas a máscara dá uma liberdade tão poucas vezes  concedida no dia a dia, concedida por outros e por nós mesmos, e a figura é algo tão forte, que é quase  irresistível relacionar -se com as pessoas que passam. 

Comecei a abrir a maleta, cheirar as rosas e pedir que as pessoas as cheirassem. E as diversas sensações, comentários,ações e reações foram dando uma espécie de significação fragmentada a essa imagem, como alguém sendo descrito por várias pessoas, que o conheceram em épocas e circunstâncias diversas.

A carta mostrei apenas para poucas pessoas,  diziam que eu procurava o amor, que era o amor, uma noiva morta, que procurava alguém ou simplesmente me chamavam de perdida.Houve um senhor que disse: -" Representa a alma humana que está muda e rosas murchas que ainda cheiram, significam a morte que estamos plantando." Bom; talvez ele não tenha dito com estas palavras, mas disse isso.

De fato a figura altera o meio e os olhares alteram a figura, mas quem sou eu ? Quem me vê ou quem me concebe?



Diana Pinzigher