quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

“Marulho” capta com maestria inquietantes mistérios campestres



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Afonso Gentil, colunista e crítico teatral do Aplauso Brasil


Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

Com pouco mais de quatro anos de vida, o Redimunho de Investigação Teatral tem se mantido coerente à trilha proposta desde o início, a de um teatro de feições
Elenco de "Marulho: o Caminho do Rio"

antropológicas que reflete um pouco conhecido e pouco explorado Brasil “profundo”. Mais especificamente da população campesina, aquela das crendices seculares, que acabaram se incorporando a esse mundo  aparentemente prosaico, mas de profundos mistérios.  Em Marulho: o Caminho do Rio, há, como nos belos A Casa e Vesperais nas Janelas, suas duas primeiras montagens, aquele movimento surdo, quase imperceptível,  de ondas “cristalinas e permanentes” permeando a ação e deixando as personagens em mágico estado de suspensão entre o real e o imaginário.

No universo repaginado com raros vigor e rigor criativos, entre os novos encenadores, por Rudifran Pompeo, primeiramente como dramaturgo e, igualmente como diretor, com inconfundível e personalíssima  visão estética da perenidade das tradições populares, das gentes simples do interior, Marulho capta o telúrico que emana daqueles seres tão rudes quanto ingênuos. Por isso mesmo, tão distantes e alheios às mazelas de nós citadinos, para sua própria felicidade.

O crítico teatral Edgar Olimpio de Souza, em sua revista eletrônica Stravaganza se demorou, com invejável perspicácia, cena a cena, intenção por intenção, o quanto Rudifran e sua equipe formam um todo coeso nesse “relato de densidade poética, que transpira delicadeza em um clima mágico e fabular”. E imune, acrescentamos agora nós, a certas assertivas descabidas (para dizer o menos) enfileiradas em jornal de grande prestígio, notadamente quando se demora na prosódia utilizada pelo elenco, totalmente equivocada, segundo o articulista. Justamente aquela prosódia que vem desde os tempos dos gregos, é mole?

O que causa polêmica (saudável, aliás) é a inserção, entre as cenas, dos conflitos vivenciados pelo Redimunho, durante a construção do espetáculo, criando um clima pirandeliano pelos seus pungentes e doloridos questionamentos do “ser ator” e do “ser ficção”, jogo muito teatral e muito atraente quando colocado em cena, como aqui.

Ao mesmo tempo, o recurso do carteiro que adentra a cena fictícia (real, para nós) trazendo cartas ameaçadoras para a equipe, sacode o ritmo por si contemplativo (mas, jamais monótono) dos causos, com o “frisson” (arrepio) das fofocas e indagações das coxias.

É tranquilizante e salutar termos em atividade um grupo como o Redimunho. Prazer um tanto raro, em meio a tanta egolatria que grassa em palcos bajulados pela mídia.

SERVIÇO:

MARULHO O CAMINHO DO RIO/  Espaço Redimunho à rua Álvaro de Carvalho, 75, Centro / fone 3101-9645 /R$ 30,00 (inteira) / 12 anos / Sábados às 2l horas e aos domingos às l9h/ Duração: 140 minutos / Até Junho.

SAMBA NA SEXTA!

Espaço Redimunho

 convida à todos para sua 

 “Roda  de música”

Samba e música brasileira

Sexta-feira dia 25/2 à partir das 21:00hs

Rua Álvaro de Carvalho, 75 - Bela Vista - São Paulo/SP.

 Próximo à estação Anhangabaú do metrô

 Entrada Franca, é só aparecer...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

BRASIL FIO A FIO-BORDAR...

 BRASIL  FIO A FIO – BORDAR, CRIAR E COMPARTILHAR


Uma viagem pelo bordado brasileiro, através das tradições, criação e produção de grupos de várias regiões do país. 

O evento terá exposição, oficinas, Prosa e Bordado (bate-papo com os grupos) e Diálogos (palestras).

 

De 18 de fevereiro a 13 de março de 2011

Sala de Oficinas 1 e Sala de Leitura – 2º andar - SESC Pinheiros – São Paulo

Grupo Matizes Dumont

 

 

ABERTURA:

 

Dia 18 de fevereiro de 2011, 6ª. Feira,  às 19 horas

Apresentação do projeto de bordados numa roda com a Beth Ziani, curadora da Exposição.

 

Narração de histórias com a participação  das contadoras  Dôra Guimarães e Elisa de Almeida, do Grupo Tudo Era Uma Vez de Belo Horizonte-MG

                               Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

                               Sala de Oficinas 1, 2º andar 

 

EXPOSIÇÃO

 

De 18/02 a 13/03. Terça a sexta, das 10h30 às 21h30. Sábados, domingos e feriado, das 10h30 às 18h

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Mostra Integrada de Bordado

 Exposição de trabalhos de 14 grupos de diferentes partes do Brasil.

Cenografia – Anne Vidal

Sala de Oficinas 1, 2º andar. Grátis

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ATIVIDADES DURANTE A EXPOSIÇÃO:

 

Oficinas de Bordado

Narração de histórias

Prosa e Bordado ( bate papo com os expositores)

Diálogo e reflexões sobre o bordado na contemporaneidade ( palestras)

Show musical

      Obs: todos os dias tem múltiplas atividades.

 

 

PROGRAMAÇÃO DE ATIVIDADES:

 

 

Dia 19 e 20 de fevereiro, Sábado e Domingo

das 10:30 às 13 hs, e das 15  às 17:30Hs.

Sala de Oficinas 1, 2º andar. 

 

OFICINA

Bordar o Ser
Oficina que visa estimular o olhar e a escuta sensíveis, fundamentais ao momento atual, estabelecendo o diálogo e revelando o bordado como forma de expressão. Trata-se de uma vivência psico-pedagógica, onde se utiliza o bordado, história de vida, práticas corporais, e outras linguagens da arte. Mediador do processo de discussão, o ato de bordar favorece e estimula a participação, o prazer e a alegria de criar dos integrantes do grupo. Com o (grupo Matizes Dumont Pirapora/ MG).

25 vagas. Grátis. Inscrições no local 30' antes.

 

 

 

 

Dia 19 de fevereiro, sábado

às 14 horas – Sala de leitura – 2º andar

 

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

Histórias Contadas

Narração de histórias de tradição oral e literária para crianças, jovens e adultos. Com a narradora mineira Elisa Almeida do grupo Tudo Era Uma Vez de Belo Horizonte/MG.

Grátis, acesso livre até o limite de vagas.

 

 

 

 

Dia 19 de fevereiro, sábado

das 18:30 às 20:30 Hs, na sala de leitura – 2º. Andar.

 

PROSA E BORDADO

Relato de experiência e bate papo -  Matizes Dumont: formado por seis artistas plásticos de uma mesma família de Pirapora-MG. São arte-educadores, ambientalistas que integram o Instituto de Promoção Cultural Antônia Diniz Dumont – ICAD. Há mais de uma década se dedicam às artes plásticas, à ilustração de livros bordados e à arte-educação. Ainda que trabalhando em grupo, cada um dos integrantes tem seu caminho, de acordo com a sua formação profissional. Principais áreas de atuação dos integrantes do grupo Matizes Dumont: inclusão Social por meio da Arte; Educação Popular; Cultura Popular; Saúde e Meio Ambiente; Processos de grupo; Planejamento. Alguns livros publicados : Abc do rio São Francisco, Menino do rio Doce, Amazonas águas, pássaros, seres e milagres, Exercícios de ser criança.

Acesso livre até o limite de  vagas. Grátis.

 

 

 

 

Dia 20 de fevereiro -  Domingo,

das 18h30 às 20h30.

Sala de Leitura, 2º andar.

PROSA E BORDADO

Relato de experiência e bate papo - Grupo Teia de Aranha: composto por nove mulheres que há 10 anos se reúnem semanalmente, no bairro do Butantã em São Paulo, para criar e expressar, através do bordado, imagens sugeridas pela literatura e pela tradição cultural.  Em 2009, realizou: De Danúbio ao São Francisco – Guimarães Rosa para Todos, uma leitura da vida e obra do escritor em oito painéis bordados, em comemoração ao centenário do seu nascimento. Além dessas iniciativas, o bordado foi difundido em vários espaços culturais e núcleos sociais. Foram realizadas oficinas com o MST – Movimento dos sem terra, em Ribeirão Preto(2007/2008), - com jovens da periferia da cidade(2008), com moradores de albergue(homens), com a terceira idade, no SESC e em comunidades de Minas Gerais (Cidades do Circuito Literário Guimarães Rosa). Atualmente, trabalha com a obra do escritor moçambicano Mia Couto e participa do projeto Bordar São Paulo com os grupos de bordadeiras: Mãos de Ariadne, Laços e Traços e Ponto a Ponto

Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

 

A partir do dia 22 de fevereiro

 

OFICINAS

Bordescrevendo Guimarães Rosa

 22/02, 23/02, 24/02, 25/02. Terça a sexta, das 10h às 12h30

Sala de Oficinas 1, 2º. andar

A oficina será inspirada no universo sertanejo estimulado a partir de trechos da obra do escritor conterrâneo do grupo de bordadeiras Estrelas do Sertão. Os participantes escolherão cenas para bordar a partir de textos lidos . Os bordados serão integrados em um painel coletivo. As técnicas de preenchimento no bordar serão destacadas no processo da oficina. Com Grupo Estrelas do Sertão (Cordisburgo/MG).

30 vagas. Inscrições 30' antes no local. Grátis.

Cenários do Rosa

22/02, 23/02, 24/02, 25/02. Terça a sexta, das 14h30 às 17h

Sala de Oficinas 1, 2º. andar

A oficina tem a proposta de estimular uma viagem bordada pela imaginação através do conto “Uma Estória de Amor (Festa de Manuelzão)” do livro Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa, sobre vivências na Vila de Andrequicé (Três Marias – Minas Gerais). Serão desenvolvidas técnicas de aplicação e bordado com Bordadeiras de Andrequicé/Três Marias-MG.

30 vagas. Inscrições no local 30' antes. Grátis.

 

 

 

Dia 22 de fevereiro, terça feira, às 19h30 Hs.

Sala de Oficinas 1,  2º.andar

DIÁLOGO E REFLEXÕES SOBRE O BORDADO NA CONTEMPORANEIDADE

BORDAR E COMPARTILHAR -  bordar em grupo constitui uma força criativa, propicia a junção do pensar e do fazer, reaviva nossa memória afetiva, provoca uma troca que ultrapassa o limite do verbal e fortalece a sensação de estarmos inseridos no mundo. Com Rioco Kayano, que trabalhou de 1977 a 2004 no Centro de Saúde-Escola do Butantã,vinculado a Faculdade de Medicina da USP na área de Saúde Coletiva, Saúde Mental e de Educação em Saúde. Em 2001, participou da criação do grupo Teia de Aranha interagindo a arte do bordado com a literatura. Estimulou a criação de mais três grupos de bordado: Mãos de Ariadne(2004), Laços e Traços(2004) e Ponto a Ponto(2006). Participa dos quatro grupos que têm a finalidade do encontro para criar coletivamente pela arte do bordado.

OS USOS DO BORDADOS - seu trabalho alinhava todos os usos desse fazer manual, mostrando sua funcionalidade e aplicação no mundo contemporâneo, como forma de pertencimento, sociabilidade e resgate de identidade, como arte e até como item exclusivo. Com Cleide Floresta, bacharel em comunicação, com habilitação em jornalismo pela Universidade Metodista, com pós-graduação em jornalismo cultural pela PUC-SP e mestrado em moda, cultura e arte pelo Senac-SP. É co-autora do livro Técnicas de reportagem e entrevista: roteiro para uma boa apuração (2009), da editora Saraiva.

Acesso Livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

 

 

Dia 23 de fevereiro. Quarta feira,  às 19h30 Hs.

Sala de Oficinas 1, 2º andar.

 

PROSA E BORDADO

Relato de experiência e bate papo  - Grupo  Estrelas do Sertão (Codisburgo/MG): criado em 2003, pela Associação dos Amigos do Museu casa Guimarães Rosa, surgiu nos Encontros da Terceira Idade nas Semanas Roseanas, em Cordsiburgo/MG, cidade natal do escritor João Guimarães Rosa. Atualmente o grupo é composto por 35 componentes entre 50 a 97 anos, que se encontram duas vezes por semana. São mães, tias, avós, irmãs que aceitam o convite e se debruçam sobre mais um desafio, a trama de um fio tênue: a lembrança vivida no sertão. Vários projetos foram desenvolvidos com o estímulo de retratar a literatura Roseana e por consequência a paisagem e a cultura sertaneja. O grupo publicou o livro O coração do lugar – Depoimentos para Guimarães Rosa, com ilustrações em bordado.

Grupo Bordadeiras de Morro da Garça (Morro da Garça/MG): surgiu em atividades da cidade e fortaleceu-se nas Semanas Culturais da cidade, a partir de oficinas propostas pelo Teia de Aranha. Vários painéis coletivos foram desenvolvidos, entre os quais um que  representa a história do Morro da Garça e contou com a participação de aproximadamente 50 pessoas da comunidade.

Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

Dia 24 de fevereiro. Quinta, às 19h30.

Sala de Oficinas 1, 2º andar.

 

PROSA E BORDADO

Relato de experiência e bate papo - Grupo Bordadeiras de Andrequicé: nasceu em julho de 2004, na Semana Cultural Festa de Manuelzão,no Distrito de Andrequicé/Três Marias .  A  convivência com  tradições culturais, a memória de  personagens e paisagens da literatura do escritor Guimarães Rosa e as transformações do cerrado trazem  inspiração para tecerem suas impressões  artísticas sobre o fazer sertanejo e a paisagem da região, bordando com linhas coloridas imagens vividas no cotidiano.

As onze senhoras, atualmente,  demonstram sua sensibilidade em telas, em linha e cor e produzem  obras únicas com técnica apurada e design próprio,  elaborando trabalhos representativos das artes existentes nas veias do sertão.

O grupo participa de outros projetos e grupos culturais no Ponto de Cultura Memorial Manuelzão.  Iniciaram com jovens meninas o grupo Gatas Bordadeiras e criaram  oficinas de bordado para os garotos interessados. Com bordadeiras de cidades da margem do rio São Francisco,  desenvolvem o projeto Artes em Ambientes Aquáticos em que divulgam por meio do bordado a relevância das veredas e do cerrado para o sistema hídrico do Rio.

Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

 

Dia 25 de fevereiro, Sexta Feira, às 19h30 Hs.

Sala de Oficinas 1, 2º.andar

 

DIÁLOGO E REFLEXÕES SOBRE O BORDADO NA CONTEMPORANEIDADE

NAS TRAMAS DA VIDA - reconstruindo histórias, fruto de uma experiência coletiva, o encontro entre o narrar e o bordar propiciou uma experiência integradora da alma, da voz e do gesto. Ensaiando pontos, juntando fios e cores, as mulheres da ACTC trazem para o bordado seus saberes e vão compondo um tempo em que é possível lidar com a angústia e com a espera. Com Cristina Macedo, mestre em Ciências Sociais, atua como professora na Biblioteca da Escola Vera Cruz e como educadora, no projeto Maria Maria da Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração (ACTC). Publicou os livros, De boca em boca: histórias de todos os cantos do Brasil e Memórias e olhares

TECENDO NOSSA HISTÓRIA - trajetória, metodologia e perspectivas, o projeto Tecendo Nossa História completou nove anos e estimula os participantes das oficinas a contarem suas histórias, olharem para a realidade em que vivem, darem uma forma para esse olhar, expressando-o no bordado. Com Valdirene Gomes, graduada em Ciências Sociais/UNESP, pós-graduada em Arte Integrativa (Universidade Anhembi Morumbi). Especializada em The Expressive Stitch  (curso baseado numa tradição indiana em que as mulheres bordam contando a sua própria história num painel construído coletivamente)  pela Metchosin International Summer School of the Arts, no Canadá. Criou o Projeto Tecendo Nossa História, em 2002, resultado da busca por uma forma de trabalhar com pessoas em situação de miséria econômica, abordando os problemas coletivos e ao mesmo tempo possibilitando o desenvolvimento da individualidade.

Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

Dias 26 e 27 de fevereiro-  Sábado e domingo- das 10h30 às 13h e das 15h às 17h30 Sala de Oficinas 1, 2º. andar

 

OFICINA

A Cidade de São Paulo
A proposta da oficina é alinhavar um conceito da cidade de São Paulo. Os participantes irão representar o cotidiano e os elementos da realidade urbana, a partir de técnicas de aplicação de tecido e bordado. Com Grupo São Joaquim (Carapicuíba/SP).

30 vagas. Inscrições no local 30' antes. Grátis.

 

 

Dia 26 de Fevereiro,  Sábado, das 18h30 às 20h30 Hs.

Sala de Oficinas 1, 2º andar.

PROSA E BORDADORelato de experiência e bate papo - Grupo Mãos de Ariadne (São Paulo): na mitologia grega, Ariadne foi a heroína que deu a seu amado um novelo de lã para que ele conseguisse sair com vida de um perigoso labirinto – bastava seguir o fio para achar o caminho. A lenda inspirou o grupo Mãos de Ariadne, formado em 2004 por amigas que queriam desvendar os segredos do bordado. As linhas e tramas cresceram, entrelaçaram-se e o resultado foi um grupo que hoje conta com doze integrantes, de idades e profissões diferentes. O que elas têm em comum? Todas se reúnem uma vez por mês com o objetivo de colocar seus pontos em projetos coletivos que servirão para decorar o quarto de uma criança, a cama de um casal, o berço de um recém-nascido.... Além disso, é claro, objetivam o prazer de estar juntas, arrematando os preciosos fios que ajudam a atravessar o “labirinto” do dia-a-dia.

Grupo  Ponto a Ponto (São Paulo): no início de 2008, Iara, Rioco, Enid, Isadora e Cleuzer, mulheres de diferentes origens e atividades,  reuniram-se para bordar a maternidade: um painel para presentear a "Casa de Parto Ângela" da Comunidade Monte Azul.

O grupo coordenou uma oficina na Comunidade rural Canta Galo, em Gonçalves, MG que resultou num grande painel retratando a história da  cidade e o seu cotidiano. Participaram 28 pessoas de diferentes  idades.

Atualmente desenvolve o projeto Mata Atlântica e dedica-se ao projeto Bordar São Paulo  em conjunto com os grupos Teia de Aranha, Laços e traços e Ariadne.

 

Grupo Laços e Traços (São Paulo): nasceu em 2004, é composto por 15 mulheres de uma mesma família: irmãs, cunhadas e tias que bordam como forma de  enriquecer os laços afetivos. A maioria dos projetos acontece a partir dos eventos familiares, aniversários, nascimentos e  datas comemorativas. .

Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

 

Dia 27 de fevereiro,  Domingo, das 18h30 às 20h30.

Sala de Leitura 1, 2º andar.

 

PROSA E BORDADO

Relato de experiência e bate papo - Grupo Bordadeiras do São Joaquim (Carapicuíba/São Paulo): constituído por doze senhoras ligadas à Associação São Joaquim. Trabalham temas relacionados ao dia a dia, como a cidade, a família, a casa. Utilizam em seus painéis técnicas de aplicação e bordado. Desenvolveram um projeto relacionado à história de Carapicuíba que resultou em um painel.

Grupo Maria Maria - ACTC-SP/SP (Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração) tem como objetivo fortalecer as mães/acompanhantes no enfrentamento da situação-problema, por meio da criação de um espaço sócio-educativo que contribua para a valorização da cultura de sua região de origem e a ampliação de seu repertório de conhecimento.
Um dos mais belos frutos dessa atividade é a produção do Artesanato Maria Maria, com o desenvolvimento de produtos como almofadas, panos de prato, jogos americanos, bolsas, colchas, entre outros.  Este material, rico em arte, histórias de vida e cultura, retrata a dedicação de todas as mães/acompanhantes no desenvolvimento de seus bordados. Assim, encontram a oportunidade de superar o momento de crise.

Publicaram o livro  Linhas da vida  que reúne narrativas da tradição oral brasileira, contadas e ilustradas com bordados de mães/acompanhantes e adolescentes da ACTC.
Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

 

De 01 a 04 de março, - terça a 6ª.feira – das 10 Hs. às 12:30 Hs.

Sala de Oficinas 1, 2º. andar

 

OFICINA

A Magia do Bordar
A oficina foca-se no fazer artístico a partir do ato de bordar. Uma vivência coletiva em que os participantes são envolvidos no universo tátil e visual do pano de juta, das lãs e suas cores, possibilitando trocas nas vivências individuais e enriquecendo o repertório dos participantes. Na experiência única do fazer artístico, sobre o pano de juta, áspero, cru e tenso depositam-se flores e pássaros, máscaras e imagens, coisas e sonhos, tudo aquilo que preenche de alegria nosso universo interior, nosso sonho em busca de um despertar do humano que habita em nós. Com Pedro João Cury (São Paulo/SP).

Acima de 15 anos, ambos os sexos, desde que não sofra com alergia a poeira/rinite alérgica. 25 vagas. Inscrições no local 30' antes..

 

 

 

 

 

De 01 a 04 de março, Terça a Sexta das 14:30 às 17 Hs.,

Sala de Oficinas1, 2º. andar

 

OFICINA

Ilustrando Bordando
A partir das técnicas de colagem de tecido e bordado, busca-se proporcionar a vivência de ilustrar as próprias histórias escritas. A proposta é trabalhar a poesia como estímulo à criação de texto e do desenho usando depois  técnicas de ilustração em tecido e bordado. Com Ana Thaís e Maria do Carmo (Ceará).

25 vagas. Inscrições no local 30' antes. Grátis.

 

 

 

 

 

Dia 01de março, terça, às 19:30 hs.

Sala de Oficinas 1, 2º.andar

 

PROSA E BORDADO

A ARTE COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO, um breve histórico sobre a arte de bordar e o bordado na literatura infantil. Com Ana Thaís, nascida no interior do Ceará , teve sua infância povoada de histórias, brincadeiras e cantigas. Na educação encontrou o caminho para a sua realização pessoal. Atua em programas de formação de professores e coordena o projeto Nas ondas da Leitura, mobilizando a família e a escola para o estímulo à leitura e à escrita. É autora dos livros A Gata Borralheira, entre outros, ilustrados com bordados.

LITERATURA E BORDADO, a experiência de bordar a partir de textos literários e a aplicação desses resultados como novos meios de estimulo à leitura e à criação. Com Beth Ziani, pós-graduada em Literatura, participa da organização de Semanas Culturais em cidades do Circuito Literário Guimarães Rosa/ MG. Integra o grupo Teia de Aranha. Idealizadora do projeto De Danúbio ao São Francisco, Guimarães Rosa para todos, iconografia bordada da vida e obra do escritor mineiro. Desenvolve o projeto Memória Viva com ações em São Paulo e Minas Gerais. Atualmente, estrutura o Núcleo de Pesquisa Literatura Viva.

Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

 

 

Dia 02 março, Quarta-feira ,às19h30hs.

Sala de Oficinas 1, 2º andar.

PROSA E BORDADO

Relato de experiência e bate papo  - Grupo  Bordadeiras do Morro de São Bento (Santos-SP), inicialmente composto por seis mulheres nascidas na Ilha da Madeira (Portugal), que tinham a tradição do bordado em suas mãos. Em meados de 1980 aproximadamente 60 senhoras fundaram a União das Bordadeiras do Morro São Bento. Começaram a dar aulas de bordado, ampliando os horizontes para que esta arte não morresse aqui no Brasil. Gisela Kodja publicou o livro - Bordadeiras do Morro São Bento – A vida tecida entre o linho e as linhas, em que a jornalista descreve a importância da vida dessas mulheres..

Tecendo nossa História (São Paulo) – o projeto  trabalha para que o ser humano reconheça suas potencialidades e permita nascer o desejo e a capacidade para planejar o próprio futuro. Atua junto àqueles que sofrem com a exclusão – cultural, social e/ou econômica – para que eles possam buscar e criar outras realidades.

Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.

 

 

 

 

 

Dias 05 e 06 de março,  Sábado e domingo, das 10h30 às 13h e das 15h às 17h30.

Sala de Oficinas 1, 2º. Andar

 

OFICINA

Tecendo Imagens de Carnaval
A oficina  aproveita o período de carnaval para estimular essa tradição através do bordado. A partir de canções carnavalescas, cantigas de roda, da memória de fantasias, adereços e dos bailes de carnaval, os participantes desenvolverão um painel coletivo que retrate essa festa tradicional da cultura brasileira a partir de suas referências pessoais. Com o Grupo Teia de Aranha.

A partir de 10 anos. 30 vagas. Inscrições no local 30' antes. Grátis.

 

 

 

 

 

Dia 03 de março, Quinta Feira, às 19:30 Hs.

Sala de Oficinas 1, 2º. andar

 

PROSA E BORDADO

OS FIOS QUE DÃO SENTIDO, o trabalho com bordado constitui uma caminhada, que se distingue por um construir não apenas de imagens que nos falam “costuradas” sobre pano, mas, acima de tudo o que se descortina. É o entendimento do bordar como um passo a passo mais próximo de uma reflexão sobre o que significa o ato de fazer. O tempo de bordar torna-se o do próprio viver. Com Pedro João Cury, instrutor na área de Criatividade, Valores Humanos e Empreendedorismo em programas motivacionais para grupos de jovens e adultos em situação de risco e conflito com a lei, professores e agentes sociais, profissionais de segurança pública e privada, e com executivos. Artista plástico e gestor do Movimento = + trabalha com bordados produzidos com pano de juta, lãs, linhas e barbantes e na idealização e construção de uma escola de arte-educação, para a formação do artesão-aprendiz através do lema A Arte Vale Uma Escola.

COMO FAÇO E PORQUE FAÇO - a importância do bordado na atualidade. Com Claudia Johnsen, Arte- educadora, coordenadora do Grupo de Bordadeiras da São Joaquim (São Paulo/Carapicuíba), desenvolve trabalhos com o Grupo de Bordadeiras de Andrequicé (Minas Gerais).

Acesso livre até o limite de vagas. Grátis.


 SHOW

 

Dia 03 de Março, 5ª. Feira às 19:30 Hs.

Sala de Oficinas 1, 2º. andar
Canto Livro – História de Mulher
No mês da mulher, Joana e Jean Garfunkel e Natan Marques contam e cantam histórias de mulheres, formando um caleidoscópio de facetas femininas.

Acesso livre até o limite de Vagas. Grátis.

ENCERRAMENTO

Dia 13 de março, domingo às 18 Hs.

OBS: Se você se interessar pelo trabalho dos grupos, procure os coordenadores de cada um deles. Tem bordados, livros, cartões, calendários para serem vendidos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Se eu fosse você, iria conferir a peça em questão e tiraria minhas conclusões... Afinal, será que esse cara tem razão? E a quem importa tudo isso? Essa é a questão. À quem?

O universo de Rosa, por Márquez e Jorge Amado


14 de fevereiro de 2011
César Augusto - O Estado de S.Paulo



Marulho: O Caminho do Rio é um espetáculo concebido pelo Grupo Redimunho, que vem construindo sua história no teatro com obras nascidas do processo de imersão em determinado universo. Desta vez, o grupo foi a Cordisburgo beber mais uma vez na fonte de Guimarães Rosa, mas o itinerário, que incluiu ainda Andrequicé, De Janeiro e o Rio São Francisco, lhes deu também, segundo eles mesmos, Gabriel García Márquez e Jorge Amado.

Para construir a dramaturgia do espetáculo, o autor e diretor Rudifran Pompeu optou por cenas episódicas, alinhavadas pelo mensageiro/carteiro que ora remetem ora são transposições diretas dos autores citados. O mensageiro conduz a plateia a diferentes lugares. São três mudanças de ambiente e o deslocamento não chega a cansar o público, trazendo até um respiro importante para as mais de duas horas de peça. Nesse campo, a luz de Osvaldo Gazotti ajuda na composição dos ambientes. Embora o argumento do texto entrecruze dois discursos, o dos artistas e o dos personagens, a ideia parece ser uma só: a do ser humano que busca sentido para sua existência. O ator fracassado, o personagem redivivo Aristides, o carteiro, o cego oracular, o delegado João, o travesti - todos querem saber quem são ou, antes, o que são. Nesse sentido, há certo parentesco com alguns personagens de Rosa, mas enquanto este faz Riobaldo passar por um caminho de individuação, a dramaturgia do espetáculo parece não pular no abismo dos arquétipos, deixando os personagens na planície do prosaico. Nem mesmo as sugestões do fantástico, apreendidas de Márquez, conseguiram fazer com que muitas cenas deixassem de parecer um melodrama novelesco.

Com relação às interpretações, elas acompanham o caminho escolhido pelo autor e diretor. Os atores tentam se aproximar do universo arquetípico de Guimarães, do fantástico de Márquez e do despudoramento de Jorge Amado (quem sabe não fosse preciso pensar essa falta de pudor não só do ponto de vista do nu físico e sim do nu moral?), mas isso não ocorre efetivamente. Talvez porque, e é preciso cuidado para dizer isso, a prosódia tenha sido trabalhada numa linha de naturalidade, que iguala as caracterizações dos atores e os coloca no mundo cotidiano. Partindo do princípio de que a proposta do espetáculo é narrar e mostrar à plateia os universos estudados e pesquisados, a interpretação, em vez de aproximar o público do transcendente, do maravilhoso, do amoral, da metáfora e da criação estética, afasta-o, mantendo-o no fenômeno do prosaico. Será que nessa proposta uma criança, tida como uma entidade viva ou um oráculo, pode falar com a mesma prosódia de um carteiro de Cordisburgo? Será que um ente da mitologia indígena pode falar da mesma maneira que um delegado? Será possível afirmar que uma pessoa fale igual à outra ou respire da mesma forma? Se a maneira de falar pode revelar o caráter de uma pessoa, sua conduta moral, seu movimento psíquico, enfim, suas idiossincrasias, é preciso pensar sobre isso no teatro, da mesma maneira que um pintor escolhe se vai usar vermelho ou amarelo, porque a fala, assim como a tinta, é signo.

Talvez o Redimunho não tenha conseguido, desta vez, transpor suas vicissitudes artísticas. Talvez isso importe menos do que reerguer um espaço teatral e dar continuidade a uma investigação artística, mas será que se contentar com isso é o bastante?
MARULHO: O CAMINHO DO RIO

Espaço Redimunho. Rua Álvaro de Carvalho, 75, Consolação, tel. 3101-9645. Sáb., às 21 h; dom., às 19 h. R$ 30. Até 24/6.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Marulho:o caminho do rio

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Por Edgar Olimpio de Souza,
 
 

 

Em seu novo espetáculo, o irrequieto  Redimunho de Investigação Teatral bebe na fonte do Rio São Francisco para extrair histórias dos ribeirinhos. Durante quase um mês a trupe percorreu o De Janeiro, rio que desemboca no Velho Chico e foi citado no clássico Grande Sertão: Veredas. Valeu a caminhada. É uma montagem de fôlego, não pela duração de duas horas e meia, a que o público acompanha com interesse e envolvimento, mas por alinhavar habilmente lendas, mitos e tramas e convertê-los em partitura teatral. Um rico material que se deixou pincelar ainda pelo universo de Jorge Amado, Gabriel Garcia Marquez e Guimarães Rosa. A companhia apropriou-se do lirismo poético da prosa do escritor baiano. O romancista colombiano forneceu ingredientes de seu realismo mágico, o imaginário da fictícia cidade de Macondo e a chuva de passarinhos mortos do conto Um Dia Depois do Sábado. Do autor mineiro, capturou-se o ambiente e a gente rude do sertão, que já serviu de inspiração para outros dois trabalhos do grupo – A Casa (2006), centrado num homem que rememorava a sua infância e adolescência, e Vesperais nas Janelas (2008), passado num vilarejo perdido no tempo. Nesta montagem, que inaugura sua nova e descolada sede, o Redimunho volta a celebrar a importância do passado, da memória e das narrativas. O ator, diretor e dramaturgo Rudifran Pompeu convida o espectador a transitar pelas dependências, fazendo com que interaja no multifacetado espaço onde o texto é desembrulhado. O enredo, emoldurado por trilha musical original, envolvente e festiva, retoma o hálito popular do folclore interiorano e a mitologia que cerca o rio e seus personagens. Nada escapou ao olhar esperto e curioso da trupe. Por exemplo: um túmulo que descobriram na estrada, onde foi enterrado um boiadeiro da região, serviu de argamassa para a construção de uma das mais belas cenas da montagem. Da mesma forma que retalhos de histórias colhidas e ouvidas ganharam sentido teatral, com começo, meio e fim.    

O eficiente entrelaçamento dessas tramas fantasiosas, pescadores, vaqueiros e ciganos forjaram a boa dramaturgia que escora o trabalho. Trata-se de um relato de densidade poética, marca registrada no repertório do Redimunho. Toda a montagem transpira certa delicadeza, um clima mágico e fabular, um apelo à imaginação. Há uma cena em que um casal de primos, num aquário que simboliza o fundo do mar, conversa sobre um pescador morto de sede em alto mar e sobre um boi entristecido por ter sido, finalmente, apanhado. A poesia está impregnada nas imagens concebidas, sons e ruídos na arquitetura dos ambientes – gaiolas de pássaros, uma casinha/capela, o chão de areia, fios de musgos que descem dos tetos, a iluminação esmaecida, a boiada humana que passa. Duas meninas (Aline Sant´Anna e Keyth Pracanico) brincam e uma delas, que perdeu o pai afogado, garante que ele foi sugado para uma cidade submersa e mandou recado para a família utilizando-se de uma garrafa deslizando no leito das águas. Um cego (Carlos Mendes) explica a um devoto (Rafael Ferro), que afirma ter visto Nossa Senhora, que a imagem vista não é a da mãe de Jesus. Segundo este colecionador de almas, seria a do espírito de uma mulher má que ainda perambula pela região. Alegoria simples da permanente luta entre o bem e o mal dentro de cada um. A peça busca captar e expressar o que existe de comum nessas histórias, nessas singelas passagens, nesses estados de alma. Personagens evocados rapidamente numa cena reaparecem depois em outros contextos. Alfinete (Jandilson Vieira), um sujeito que entedia tanto de rio e mar a ponto de conversar com tubarão, mistura-se a uma procissão a caminho do cemitério. Subitamente o cortejo é interrompido por um vaqueiro que faz questão de fazer valer o combinado com o morto, que queria ser enterrado na estrada para poder ouvir a boiada passar. Nesta pungente sequência, o tempo é subvertido e se regressa ao passado. Nas entrelinhas, a discussão da ética, sem cair num discurso intelectual. Uma adolescente conta à amiga que foi com a mãe ao médico para examinar uma nódoa suspeita no peito. Ela acredita que a mancha é o sinal da sua paixão por um pescador. Num momento seguinte é a própria alma da mãe (Denise Ayres) que faz a travessia do rio para o outro lado, oportuna recriação da mitológica barca de Caronte. Em outra cena, o criador de passarinhos Gabo (apelido de Garcia Marquez na vida real) não se conforma com a perda das aves e culpa a molecada vizinha. O sistemático delegado João (prenome de Guimarães Rosa) encontra no fenômeno do tempo suspenso a explicação para a queda dos pássaros do céu. Sutil diálogo que homenageia dois fundamentais escritores.

Ao mesmo tempo em que teatraliza esse ir e vir do rio, metáfora do movimento da vida, a peça expõe teatralmente os conflitos internos que o grupo vivenciou durante o processo de construção do espetáculo. Mais do que incorporá-la à dramaturgia, a crise adquiriu a feição de um desabafo contra um estado de coisas, sobre o valor e a função do teatro nos dias de hoje. Ao longo da encenação, um carteiro (Izabela Pimentel) entrega correspondências misteriosas aos integrantes da trupe. O conteúdo das cartas detona os questionamentos.  Talvez o grande equívoco da montagem tenha sido justamente o de inserir e alavancar uma discussão árida num trabalho com outro sotaque e feição. São assuntos que, no caso, correm em leitos diferentes. É uma peça dentro de outra, num difícil e desequilibrado diálogo entre planos real e ficcional – no prólogo, dentro de um bar, ambas as dimensões se condensam. A metalinguagem resulta em um ruído que, antes de somar, subtrai. Um artista (Rudifran Pompeu) carrega uma cabeça do Pateta, personagem que representou numa festa infantil, e outro encarna um travesti (Carlos Mendes). Ambos estão amargurados com os novos tempos. Eles atuam à margem, como sub-trama, e são acessados pela figura deste carteiro, espécie de corifeu das tragédias e das comédias do teatro grego. O tema da desvalorização da arte no mundo atual, da obra de arte que não interessa mais a ninguém, poderia render outro espetáculo mais focado, menos superficial e ligeiro. A cena em que a cabeça de um ator é servida numa bandeja ilustra a esquizofrenia. Afinado com a proposta, o elenco acumula papéis e explicita a pulsação de personagens que combinam o banal e o maravilhoso. Como alguns atores ainda tateiam em busca da afirmação técnica, emerge a força do conjunto. Às vezes, a dramaturgia barroca e poética de Rudifran Pompeu peca pelo excesso, pela índole palavrosa e ausência de síntese. No entanto, tem o mérito de evitar a auto-compaixão, o estereótipo fácil, o retrato caricatural. Ao contrário, funde e confunde com talento as pulsões lírica e narrativa. Ao investigar um Brasil esquecido, o Redimunho produz oportuna reflexão em torno deuma cultura e de um modo de vida que teima em resistir num tempo predisposto a estimular e cultuar cada vez mais a indistinção.  

(Edgar Olimpio de Souza – eolimpio@uol.com.br)

(Foto: Kátia Kuwabara)

 

Avaliação: Bom

Marulho: o Caminho do Rio...                                                                                                                   

Autor e Diretor: Rudifran Pompeu                                                                                                          

Elenco: Alline Sant´Ana, Izabela Pimentel, Carlos Mendes e outros                                            

Estreou: 15/01/2011                                                                                                                                

Espaço Redimunho (Rua Álvaro de Carvalho, 75, Centro. Fone: 3101-9645). Sábado, 21h; domingo, 19h. Ingresso: R$ 30. Em cartaz por tempo indeterminado.

 



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Papo de Teatro


Rudifran de Almeida Pompeu é ator, diretor e dramaturgo. Gaúcho, natural de Uruguaiana, extremo sul do Brasil.


Rudifran de Almeida Pompeu 


 

Como surgiu o seu amor pelo teatro?

Não sei bem se é mesmo esse lance de amor... é mais uma vontade e prazer de fazer, saca? Nem sempre se relaciona com uma palavra tão intensa como julgo ser o amor, que eu conheço do meu jeito e nem sempre é o mesmo que o seu. Teatro, para mim, é mesmo algo vital e intenso...,  mas daí a ser amor... Tenho amor por muitas coisas, pelo teatro tenho muita fé. Acredito por demais em sua capacidade de mudar tudo. Tudo começou quando tinha 13 anos e assisti a uma peça na minha escola. Vi pendurado na grade, porque não tinha mais lugar no ginásio. A peça era “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”. Ali percebi a potência que aquilo tudo tinha de mudar a gente. E lá se vão 30 anos... 

Lembra da primeira peça que assistiu?

Não tenho certeza mesmo se foi “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, mas foi a que me marcou e me motivou a querer me aproximar do teatro.

 



Como foi?

Uma experiência... Verdadeira e eterna.

Qual foi a última montagem que você viu?

“Policarpo Quaresma”,  do Antunes Filho.

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.

Eu não sei bem responder essa pergunta... A gente muda o modo de ver todo dia, não?

Um espetáculo que mudou a sua vida.

Gostei muito de “Paraíso Zona Norte”, de 1992.

Você teve algum padrinho no teatro?

O que é um padrinho no teatro? Alguém que gosta da gente e por isso nos estimula? Se for isso, aprendi muito com um espetáculo em que atuei e que tinha um grande cara como diretor, Roberto Lage.

 Já saiu no meio de um espetáculo?

Normalmente, fico muito constrangido de sair, mas às vezes é preciso, né?

Teatro ou cinema?

Ambos. Porque são complementares, se a gente quiser.

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado.

Putz, não sei responder. Seriam muitos. Algumas peças viram lendas e a gente sempre tem um sutil desejo de ter vivido ao lado de uma lenda.
Já assistiu mais de uma vez um mesmo espetáculo?

Sim. Tem espetáculos que nos chamam muitas vezes.

Qual dramaturgo brasileiro e/ou estrangeiro você mais gosta?

Eu gosto de tantos...  Estrangeiros? Muitos, mas especialmente aqueles que fizeram um teatro de protesto. Dramaturgos que costuraram o mundo botando as “tripas” pra fora. A gente pode sentir em suas obras o tamanho de seu alcance, Ibsen, Brecht, Shaw, Ionesco, Strindberg... 

 



Qual companhia brasileira você mais admira?

Gosto mais de grupos. Existe umas diferenças nessas nomenclaturas, vocês sabem, né? Mas não tenho nenhum problema com companhias. Gosto do teatro que essa gente de São Paulo faz, sejam grupos ou companhias. Mas ainda gosto mais dos grupos. São mais apaixonados, mais românticos... Sei lá, algo assim..

Qual lugar da platéia você costuma sentar?

Gosto do meio. Por quê? Sei lá, superstição, acho.

Qual o pior lugar que você já sentou na platéia?

Atrás de uma coluna.

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?

O que é melhor? Com cadeiras confortáveis? E o que é pior? Com cadeiras de madeira? Se os artistas que ali convivem forem intensos, como eu sou pelo teatro, eu assisto até debaixo d’água. O melhor espaço de teatro é aquele que propõe a libertação do homem dessa mesmice da qual estamos vivendo. E o pior espaço é aquele que aprisiona e reproduz o padrão massificador que o mercado propõe.

Já assistiu a alguma peça documentada em vídeo? O que acha do formato?

Já vi coisas muito boas. Acho que é possível essa inteiração, apesar de não ter uma ideia formada sobre isso.

 



Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?

E que diferença isso faz? Se é ruim ou se foi o encenador. A gente vive fazendo coisas boas e ruims não é? Tá bom... Existem as duas coisas!

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?

Seria numa fazenda antiga, duraria um dia inteiro e estariam três grandes escritores: Guimarães Rosa, Érico Veríssimo e Gabriel García Márquez, com meu grupo, a quem eu devo todo meu intenso dia a dia teatral.

Cite um cenário surpreendente.

Três ou quatro almofadas e um tapete.

Cite uma iluminação  surpreendente.

As velas e lâmpadas à guache de “A Casa”. Nem eu acreditei que funcionou.

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.

Marcus Martins.

O que não é teatro?

Terapia e coisas autorais demais que parecem blogs.

Que texto você foi ler depois de ter assistido a sua encenação?

“Grande Sertão: Veredas”

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?

Não.

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?

O teatro está num “coma” lento, mas tem gente lutando, tem grupos resistindo. Não sou contra a tecnologia, mas teatro tem que ser ao vivo. Convençam-me que não.

O teatro é uma ação política?

Também. Porque ele é capaz de transmitir e comunicar um pensamento e tem a possibilidade de fazer ao vivo a comunicação com o homem. O teatro é tão potente que é capaz sim de mudar o mundo. Isso me torna romântico?

Quando a estética se destaca mais do que o texto e os atores?

Quando o encenador perde a mão, né?

Qual encenação lhe vem à memória agora?
Putz... Veio “Vesperais nas Janelas” (puta mala eu, né?*)

Alguma cena específica?

O Arauto fechando a porta, na última cena.

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?

As peças do Nelson Rodrigues, as do Plínio Marcos e outras tantas que admiro com igual fervor.

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.

Admiro tantos que é chato citar um ou dois. Pulo essa!

Qual o papel da sua vida?

Pois é, qual?

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.

Porque se preocupar tanto? Que “sirviço” é esse o do ator?

O teatro está vivo?

Ainda, mas tem precisado de musculatura.

* "Vesperais nas Janelas" é um espetáculo com texto e direção de Rudifran Pompeu.