quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Bonito isso...quem escreveu ? ela ? ele ?

ESSES VAZIOS...

Ela nasceu no mar e era inteirinha amor ao mar.

Ela bebia do mar tudo o que via,

e o mar nela morava e o mar ela o namorava:

a imensidão azul mistério,

as coisas que viviam nas suas funduras...

Sua pele brincava com a água

e se arrepiava toda quando a brisa lhe fazia cócegas.

Em seus olhos se viam gaivotas de brancas asas

e barcos a vela ao vento.

Quem lhe ouvisse o coração a bater

juraria que eram ondas...

Mas havia uma coisa que ela não podia entender:

era uma tristeza, suave, nostalgia.

Não lhe bastava o mar infinito.

Havia os vazios, desejos, ausência imensa,

saudade de algo que lhe faltava.

E ela sonhava com coisas longínquas, e as amava:

floresta que nunca vira

e pensava que seria bom se um dia

o mar e a selva se encontrassem

e o azul e o verde se misturassem...

giovanna galdi

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Silêncio, companheira de si. A menina que se arruma, come, dormi frenética, acorda a noite e briga com as memórias. Tem unhas cor de coral, olheiras. Ela morra num quarto com varanda marrom. Esta fabricando um altar de santos amigos seus, quer ter sua "igrejinha" perto da cama, ao alcance das mãos, na hora do pesadelo. Tem uma nossa senhora pequenina pendurada no peito. Nesses dias de festa no mundo, resolveur ir atrás da FÉ, que sumiu à bastante tempo sem lhe dizer pra onde foi e quando voltará.

Mas manteve-se firme, satisfeita por estar espiando a falta de haver sido feliz e haver deixado de sê-lo por sua livre vontade. Depois sorriu. E depois estirou-se na cadeira e humanizou-se por completo. GGM

Ele me calou e pediu o silêncio dos peixes. Cantou as águas, falou segredos aos meus pés. O rio em mim..beira de mim...o rio

Tudo tão vago... Sei que havia um rio...

Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...

E ao monótono embalo do acalanto

O choro pouco a pouco se extinguiu...




O menino dormira... Mas o canto

Natural como as águas prosseguiu...

E ia purificando como um rio

Meu coração que enegrecera tanto...




E era a voz que eu ouvi em pequenino...

E era Maria, junto à correnteza,

Lavando as roupas de Jesus Menino...




Eras tu... que ao me ver neste abandono,

Daí do Céu cantavas com certeza

Para embalar inda uma vez meu sono!...

(Mario Quintana)

giovanna galdi

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

HISTORA DE LA NOCHE

A lo largo de sus generaciones

lo hombres erigieron la noche.

En el principio era ceguera y sueño

y espinas que laceran el pie desnudo

y temor de los lobos.

Nunca sabremos quién forjó la palabra

para el intervalo de sombra

que divide los dos crepúsculos;

nunca sabremos en qué siglo fue cifra

del espacio de estrellas.

Otros engendraron el mito.

La hicieron madre de las Parcas tranquilas

que tejen el destino

y le sacrificaban ovejas negras

y el gallo que presagia su fin.

Doces casas le dieron los caldeos;

infinitos mundos, el Pórtico.

Hexámetros latinos la modelaron

y el terror de Pascal.

Luis de León vio en ella la patria

de su alma estremecida.

Ahora la sentimos inagotable

como un antiguo vino

y nadie puede contemplarla sin vértigo

y el tiempo la ha cargado de eternidad.

Y pensar que no existiría

sin esos tenues instrumentos, los ojos.

Borges (La rosa profunda, 1975)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Grafite

O que resta da gente quando tudo está pintado de branco?
Que venha uma parede azul, outra vermelha, outra verde e ainda outra amarela... intensas!!!
Cores injetadas, introjetadas e expurgadas. O que se vê se consome ou pelo menos queria assim: comer cores e expurgá-las.
SIM, É PRECISO FICAR!!!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

"Há viagens que só se fazem por dentro. Por isso é preciso ficar

giovanna galdi

Saudade

saudade é o revés de um parto
saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu

postado por giovanna galdi
ABERTURA MICRO SERIE "A CASA"

EXTERNA/DIA CAMERA MOSTRA UM SERTÃO COM SOMBRA, RIO, UMA VEREDA ENORME, UMA LONGA EXTENSÃO DE TERRA E AO LONGE SE VE UM TREM PASSANDO DISTANTE DE TUDO. TUDO ISSO DE MUITO LONGE. LENTAMENTE A CAMERA SE APROXIMA E VAI FOCANDO UMA PEQUENA MULTIDÃO NUMA ESTRADINHA DE TERRA...AOS POUCOS VAI APROXIMANDO...

CENA 1- EXTERNA / DIA / SERTÃO IMAGEM DE UMA PROCISSÃO DE PÉS DESCALÇOS, BOTINAS E CHINELAS...SOBRE UMA RUA DE CHÃO E CAPIM, MARCHAM COM UMA CANTORIA RELIGIOSA...OUVE-SE O BARULHO DE TREM SE CONFUNDINDO LENTAMENTE COM O CANTO.

CENA 2 - EXTERNA/DIA/TREM CAMERA APROXIMADA EM CLOSE-UP NOS OLHOS DE MESSIAS QUE DORME NO BANCO DO TREM E ACORDA DE SOBRESSALTO. OLHANDO PARA FORA PELA JANELA DO TREM, VE A PROCISSÃO AO MESMO TEMPO EM QUE A MÃE QUE VAI À FRENTE NA PROCISSÃO DESFERE UM OLHAR PARA MESSIAS NA DIREÇÃO DO TREM.

 CENA 3- EXTERNA/DIA/ESTAÇÃO DE TREM DE CORDISBURGO MESSIAS DESCE DO TREM COM A CAMERA FOCANDO SEU ROSTO E SUAS MÃOS EM PLANO DETALHADO, ELE SEGUE EM DIREÇÃO AO ARMAZEM QUE FICA EM FRENTE DA ESTAÇÃO.

MESSIAS – Boa tarde?

João – Boa tarde moço, deseja algo pra comer?A comida casera ta saindo agorinha..

MESSIAS-(OBSERVA UM QUADRO NA PAREDE ONDE TEM UMA FOTO DE UM GAROTO COM UM PEIXE NA MÃO) Ah...Sim eu vou almoçar...

 João- O moço veio pra visitar argúem ou veio pras festas de santá?

MESSIAS-Eu vim pra visitar uns amigos e também pra festa da santa...o senhor sabe se ainda existe a casa do rio?

 João- a casa do rio?o senhor cunhece lá? O senhor tem parente aqui?

MESSIAS-Minha mãe viveu aqui...e eu sai daqui ainda guri...mas isso aqui ta muito mudado...aff...quase nem se vê mais o pasto...

 João- é o futuro que chegou em cordis e arrasou toda a cidade...é uma vergonha o que fizeram cum isso aqui...

MESSIAS- Deixe eu lhe perguntar uma coisa...esse menino da foto é seu parente?

 João-Ah...esse ai é meu parente por parte de esposa...é o vilsinho pescador...ele morreu menino ...o povo todo daqui adora ele até hoje..o prefeito mais antigo já colocou até nome de praça pra ele aqui...o senhor conheceu? (MESSIAS OLHA FIXO PRA IMAGEM NA PAREDE (RETRATO)

 TRANSIÇÃO PARA O PASSADO SOB O PONTO DE VISTA DE MESSIAS A CAMERA APROXIMA NO QUADRO NA PAREDE E A IMAGEM DA FOTO GANHA VIDA E O PASSADO SE FAZ PRESENTE O JOVEM VILSINHO ESTA FELIZ COM O AMIGO XININHO ACABA DE PEGAR UM PEIXE...ESTÃO NA BEIRA DO RIO.

 1º BREAK COMERCIAL

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

TEXTO MEU COM PROTOCOLO DA CENSURA FEDERAL...

[caption id="attachment_271" align="aligncenter" width="232" caption="Tinha uma banca com sete policiais e eles ouviam(ja de saco cheio) os atores lerem o texto...."]texto meu solicitando autorizaçao da censura federal...[/caption]

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Garrafa de Lágrimas

Se eu for embora de mim
te mando o endereço,
te mando o contexto
da vinda e do fim.
Pode ser que eu volte
e revolte e retorne de novo
insistindo em olhar de novo e renovo.
Misturança de semelhança.
Suas pegadas são marcas amargas
de véu e grinalda
na porta de entrada do meu coração,
que por fim se fechou e de roxo pintou
a esperança de mim.
Se sob o orvalho sinto
o retalho de uma história sem fim,
repico de vermelho todo o espelho
da ausência de ti.

(por Patricia Ferreira)

sábado, 19 de dezembro de 2009

"Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmos sem vagas e aréias,
Há sempre um copo de mar
Para um homem navergar."
*Jorge de lima

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

CARREGO COMIGO

CARREGO COMIGO

Carrego comigo

há dezenas de anos

há centenas de anos

o pequeno embrulho.

Serão duas cartas?

sré uma flor?

será um retrato?

um lenço talvez?

Já não me recordo

onde o encontrei.

Se foi um presente

ou se foi furtado.

Se os anjos desceram

trazendo-o nas mãos,

se boiava no rio,

se pairava no ar.

Não ouso entreabri-lo.

Que coisa contém,

ou se algo contém,

nunca saberei.

Como poderia

tentar esse gesto?

O embrulho é tão frio

e também tão quente.

Ele arde nas mãos,

é doce ao meu tato.

Pronto me fascina

e me deixa triste.

Guardar um segredo

em si e consigo,

não querer sabê-lo

ou querer demais.

Guardar um segredo

de seus próprios olhos,

por baixo do sono,

atrás da lembrança.

A boca experiente

saúda os amigos.

Mão aperta mão,

peito se dilata.

Vem do mar o apelo,

vêm das coisas gritos.

O mundo te chama:

Carlos! Não respondes?

Quero responder.

A rua infinita

vai além do mar.

Quero caminhar.

Mas o embrulho pesa.

Vem a tentação

de jogá-lo ao fundo

da primeira vala.

Ou talvez queimá-lo:

cinzas se dispersam

e não fica sombra

sequer, nem remorso.

Ai, fardo sutil

que antes me carregas

do que és carregado,

para onde me levas?

Por que não me dizes

a palavra outra

oculta em teu seio,

carga intolerável?

Seguir-te submisso

por tanto caminho

sem saber de ti

senão que te sigo.

Se agora te abrisses

e te revelasses

mesmo em forma de erro,

que alívio seria!

Mas ficas fechado.

Carrego-te à noite

se vou para o baile.

De manhã te levo

para a escura fábrica

de negro subúrbio.

És, de fato, amigo

secreto e evidente.

Perder-te seria

perder-me a mim próprio.

Sou um homem livre

mas levo uma coisa.

Não sei o que seja.

Eu não a escolhi.

Jamais a fitei.

Mas levo uma coisa.

Não estou vazio,

não estou sozinho,

pois anda comigo

algo indescritível.

Drummond – A Rosa do Povo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

RECADO DE UMA ESTRELA CADENTE

Vim do alto
Com as eternas luzes das estrelas
E também de fogo
Sem jeito
À terra me jogo
Quem me socorre das pernas?
Meu coração aos poucos anoitece.


(giovanna galdi)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

De-janeiro

"Ainda o senhor estude:agorinha mesmo,nestes dias de época,tem gente porfalando que o Diabo próprio parou de passagem,no Andrequicé"(Grande Sertão:Veredas)

Nos diversos pontos o capim insiste em beijar os joelhos.Com altos passos vou avançando mais.A estradela é serpentiosa no sertão.À destra só o fechado verde-escuro.Se paro a marcha ouço a música:orquestra de Deus...juriti do papo amarelo...o ronque-chonque imparável de águas que não vejo.Na canhota,o touro apraz me observa.O mormaço as vezes até incomoda.Por trás taurino,serras se fogem dos olhos.Vez e outra o fétido perfume de mangas já caídas.Pista que começa a se abarrancar ao baixio.Nova chusma de vapor no rosto.Bem mais baixo,toco o moribundo corguinho.Ele vem de não sei bem longe...fica todo alegre só de saber seu fim.Todo fim não é uma forma de (re)começo?Fui traído pela pinguela de improviso.É as águas no querer me tragar.Me agarro à raízes:pé molhado é lama certa;a subida é cuidadosa;deve.Estou me apequenando...gigantes são sempre maiores que nós.Estou mudo.Contemplo:a luta da barrenta é inútil."Vou berando...",o Chico é isso:maior grande.Na revoada o pena-branca é pescador.Devia de se existir peixes que voam...esqueço de tudo.

Primavera do Ser-tão

Cordisburgo,23 de novembro de 2009

(por Marcus Martins)

Barqueiro

O pesca-peixe vai a bordo do seu Pepe Medina;avista o gigante à frente:"diante de ti admito-me um fraco".(Marcus Martins)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Para uma saudade de Cordisburgo

Da MINHA ALDEIA vejo quanto da terra se pode ver no Universo...

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena

Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,

Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,

Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos

nos podem dar,

E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

 

 

 

O Guardador de Rebanhos  - VII (1911-1912)

Ricardo Reis / Fernando Pessoa

Ao Comandante Rudifran travestido de Dom Diniz

SEXTO / D. DINIZ

Na NOITE escreveu um seu Cantar de Amigo

O planador de naus a haver,

E ouve um silêncio murmurou consigo:

É o rumor dos pinhaes que, como um trigo

De Imperio, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,

Busca o oceano por achar:

E a falla dos pinhaes, marulho obscuro,

É o som presente d'esse mar futuro,

É a voz da terra ansiando pelo mar.

 

 

Fernando Pessoa

O Eu Profundo e os Outros Eus

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Tobias e Dindi

Tobias é a melhor rima pra Dindi, e como Redimunho rima com o mundo, e o mundo o que mais tem é saudade... um dia eu morrerei na coleira pra não correr o risco de morrer longe de um amor.

Vocês estão entendendo o que é anáfora?

Pelo amor de Deus, a gente pode voltar naquela mesa daquela noite só pra explicar mais um pouquinho?

domingo, 29 de novembro de 2009

Meu barco es Caçacheiro....

Rio moreno, de costas largas
Com cheiro de mar e cor do sertão.


                                                   Gabriel Stippe

Meu barco é o “Andorinha”

“O barulho do encontro das águas de um rio é como o marulho das ondas do mar, que gargalha como que dizendo: água, aqui jamais voltarás!”

Carlos Mendes

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pisa, caboclo

Ôi

Pisa, caboclo,

quero ver você pisar

Pisa lá que eu piso cá

quero ver você pisar

*Pisa, caboclo, quero ver você pisar

Na batida do meu samba

quero ver você dançar

*Pisa, caboclo, quero ver você pisar

Pisa lá que eu piso cá

quero ver quem vai pular

*Pisa, caboclo, quero ver você pisar

Na batida do meu gunga

quero ver você pular

*Pisa, caboclo, quero ver você  pisar

ê Ogum ê

oi tada que o ma lembé

ê Ogum ê

oi tada que o ma lembé

ê Ogum ê

oi tada que o ma lembé

ê Ogum ê

oi tada que o ma lembé

ê Ogum ê

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

De repente, na altura, a manhã gargalhou: um bando de maitacas passava, tinindo guizos, partindo vidros, estralejando de rir. E outro. Mais outro. E ainda outro, mais abaixo, com as maitacas verdinhas, grulhantes, incapazes de acertarem as vozes na disciplina de um corpo.(...) E agora os periquitos, os periquitinhos de guinchos timpânicos, uma esquadrilha, sobrevoando... E mesmo, de vez em quando, discutindo, brigando, um casal de papagaios ciumentos. Todos tinham muita pressa: os únicos que interromperam, por momentos, a viagem, foram os alegres tuins, os minúsculos tuins de cabecinhas amarelas, que não levam nada a sério, e que choveram nos pés de mamão e fizeram recreio, aos pares, sem sustentar o alarido – rrrl, rrrl! rrrl-rrril!...
...Augusto Matraga

NA ESTRADA...

[caption id="attachment_182" align="alignleft" width="210" caption="a gente demora mas chega..."]Redimunho[/caption]

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Il Fabbro

"Senhor crê, sem estar esperando? Tal que disse. Ainda hoje, eu mesmo, disso, para mim, eu peço espantos. Qu' é que me acuava? Agora, eu velho, vejo: quando cogito, quando relembro, conheço que naquele tempo eu girava leve demais, e assoprado. Deus deixou. Deus é urgente e sem pressa. O Sertão é dele. Eh!"

 



GSV

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Pelos Sertões

[caption id="attachment_165" align="aligncenter" width="198" caption="'Pelos Sertões'. Gravura de Lívio Abramo"]pelos_sertoes[/caption]

Sôbolos rios que vão...

Sôbolos rios que vão

Por Babilônia me achei,

Onde sentado chorei

As lembranças de Sião

E quanto nela passei.

 



Ali, o rio corrente

De meus olhos foi manado;

E, tudo bem comparado,

Babilônia ao mal presente,

Sião ao tempo passado.

 



Ali, lembranças contentes

Na alma se representaram;

E minhas cousas ausentes

Se fizeram tão presentes

Como nunca se pasaram.

 



 



CAMÕES

um mundo ideal é um mundo feito de horas a toa...R.P

[caption id="attachment_159" align="aligncenter" width="300" caption="ah..o sertão..."]teleentrega de abacaxi[/caption]

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Quando a sabedoria está vestida de rugas!

"...os recordadores são, no presente, trabalhadores, pois lembrar não é reviver, mas re-fazer. É reflexão, compreensão do agora a partir do outrora; é sentimento, reaparição do feito e do ido, não sua mera repetição. O velho, de um lado, busca a confirmação do que se passou com seu coetâneos, em testemunhos escritos ou orais, investiga, pesquisa, confronta esse tesouro de que é guardião. De outro lado, recupera o tempo que correu e aquelas coisas que quando perdemos nos sentimos diminuir e
morrer."

Ecléa Bosi, "Memória e Sociedade - Lembranças de Velhos"

A Moreninha (Costumes)

"Neste momento a orquestra assinalou o começo do sarau. É preciso antecipar que nós não vamos dar ao trabalho de descrever este; é um sarau como todos os outros, basta dizer o seguinte:

Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram  o presente, ninguém  cuidou do futuro. Os solteiros fizeram por lembrar-se do casamento, os casados trabalharam por esquecer-se dele. Os homens jogaram, falaram em política e requestaram as moças; as senhoras ouviram finezas, trataram de modas e criticaram desapiedosamente umas às outras. As filhas deram carreirinhas ao som da música, as mães, já idosas, receberam cumprimentos por amor daquelas e as avós, por não terem que fazer nem ouvir, levaram todo o tempo a endireitar as toucas e a comer os doces. Tudo esteve debaixo destas regras gerais, só resta dar conta das seguintes particularidades:

D. Carolina sempre dançou a terceira contradança com Augusto, mas, para isso, foi preciso que a Srª D. Ana empenhasse todo seu valimento; a tirana princesinha da festa esteve realmente daspiedada; não quis passear com o estudante.

A interessante D. Violante fez o diabo a quatro: tomou doze sorvetes, comeu pão-de-ló, como nenhuma, tocou em todos os doces, obrigou alguns moços a tomá-la por par e até dançou uma valsa de corrupio.

Augusto apaixonou-se por seis senhoras com quem dançou; o rapaz é incorrigível. E assim tudo o mais.

 

In: A Moreninha; Joaquim Manuel de Macedo

Obs.: Pareceu-me oportuno resgatar da literatura brasileira algumas cenas que retratam costumes que orientam cada época. Nesse sentido, resolvi começar pelo começo, já que A Moreninha (1844) é considerado o primeiro romance do Brasil.

João-de-barro

[caption id="attachment_152" align="aligncenter" width="265" caption="'Questões de família'. Laerte"]João de barro[/caption]

sábado, 31 de outubro de 2009

"Acabavam de celebrar as bodas de ouro matrimoniais, e não sabiam viver um instante sequer um sem o outro, ou sem pensar um no outro, e o sabiam cada vez menos à medida que recrudescia a velhice. Nem ele nem ela podiam dizer se essa servidão recíproca se fundava no amor ou na comodidade, mas nunca se haviam feito a pergunta com a mão no peito, porque ambos tinham sempre preferido ignorar a resposta. Tinha ido descobrindo aos poucos a insegurança dos passos do marido, seus transtornos de humor, as fissuras de sua memória, seu costume recente de soluçar durante o sono, mas não os identificou como os sinais inequívocos do óxido final e sim como uma volta feliz à infância. Por isso não o tratava como a um ancião difícil e sim como a um menino senil, e esse engano foi providencial para ambos porque os pôs a salvo da compaixão." 

(O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez)

sábado, 24 de outubro de 2009

Ela mora no mar ela brinca na areia...

[caption id="attachment_122" align="aligncenter" width="200" caption="travessia..."]travessia...[/caption]

 

Oguntê, Marabô Caiala, e Sobá  Oloxum, Ynaê Janaina e, Yemanjá

São Rainhas do mar

 O mar misterioso mar que vem do horizonte...

O grupo se prepara para viajar até o pequeno rio- "Dejaneiro", donde se deu o encontro de Riobaldo com Diadorim...

[caption id="attachment_111" align="alignleft" width="180" caption="cirandando...pelo sertão...eu vouuuu!!!"]cirandando...pelo sertao...eu vouuuu!!![/caption]

Roda mundo, roda gigante...

microonibus

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

Chico Buarque