"Havia já alguns anos que começara a ter consciência do peso do próprio corpo. Reconhecia os sintomas. Lera a respeito deles nos textos, confirmara-os na vida real, em pacientes mais velhos sem antecedentes graves que de repente começavam a descrever síndromes perfeitas que pareciam tiradas dos livros de medicina, e que no entanto se comprovavam imaginárias. Seu professor de clínica infatil de La Salpêtrière o aconselhara a pediatria como a especialidade mais honesta, porque as crianças só adoecem quando na realidade estão doentes, e não podem se comunicar com o médico com palavras convencionais e sim com sintomas concretos de doenças reais. Os adultos, em compensação, a partir de certa idade, ou bem tinham os sintomas sem as doenças, ou algo pior: enfermidades graves com sintomas de outras inofensivas. Ele os entretinha com paliativos, dando tempo ao tempo, até que aprendiam a não sentir seus achaques à força de conviver com eles na lixeira da velhice. Numa coisa nunca pensara o doutor Juvenal Urbino, e era que um médico da sua idade, que julgava ter visto tudo, não pudesse superar a inquietação de se sentir doente quando não estava. Ou pior: não crer que estava, por puro preconceito científico, quando talvez na realidade estivesse. Já aos quarenta anos, meio a sério meio de troça, dissera na cátedra: "A única coisa de que necessito na vida é que alguém me entenda.""
GGMárquez (O amor nos tempos do cólera)
Ibán

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010
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