"Neste momento a orquestra assinalou o começo do sarau. É preciso antecipar que nós não vamos dar ao trabalho de descrever este; é um sarau como todos os outros, basta dizer o seguinte:
Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram o presente, ninguém cuidou do futuro. Os solteiros fizeram por lembrar-se do casamento, os casados trabalharam por esquecer-se dele. Os homens jogaram, falaram em política e requestaram as moças; as senhoras ouviram finezas, trataram de modas e criticaram desapiedosamente umas às outras. As filhas deram carreirinhas ao som da música, as mães, já idosas, receberam cumprimentos por amor daquelas e as avós, por não terem que fazer nem ouvir, levaram todo o tempo a endireitar as toucas e a comer os doces. Tudo esteve debaixo destas regras gerais, só resta dar conta das seguintes particularidades:
D. Carolina sempre dançou a terceira contradança com Augusto, mas, para isso, foi preciso que a Srª D. Ana empenhasse todo seu valimento; a tirana princesinha da festa esteve realmente daspiedada; não quis passear com o estudante.
A interessante D. Violante fez o diabo a quatro: tomou doze sorvetes, comeu pão-de-ló, como nenhuma, tocou em todos os doces, obrigou alguns moços a tomá-la por par e até dançou uma valsa de corrupio.
Augusto apaixonou-se por seis senhoras com quem dançou; o rapaz é incorrigível. E assim tudo o mais.
In: A Moreninha; Joaquim Manuel de Macedo
Obs.: Pareceu-me oportuno resgatar da literatura brasileira algumas cenas que retratam costumes que orientam cada época. Nesse sentido, resolvi começar pelo começo, já que A Moreninha (1844) é considerado o primeiro romance do Brasil.

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009
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