sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Sobre o "relator"...

Dentro desse exercício proposto, consideramos a subdivisão do grupo em pequenas células de trabalho e fizemos um sorteio entre o elenco a fim de deixar ao acaso a construção desses núcleos.

O núcleo ou célula de trabalho era composto por um ator criador e um relator.

Cada “figura” era acompanhada por alguém que seria responsável por descrever a sua trajetória nessa peregrinação pelas ruas ...

A tarefa desse relator era justamente escrever suas impressões durante a trajetória de construção e criação disso que estamos chamando de figura , mas que talvez venha a ser em algum momento uma referencia de personagem e dramaturgia teatral...

PRIMEIRO RELATO DE UMA "ATRIZ RELATORA":

RELATÓRIO EXERCÍCIO “FIGURA”

Ator figura: Mendes (Carlos Mendes)

Atriz relatora: Nataly Cavalcanti

Primeiro dia:                                CASA

Figura sinistra, algo de lobo, algo de homem, algo de demônio.

Acorrentado a uma cruz.

* Uma curiosidade: O ator, durante o processo de construção, no primeiro dia, cantou, em um dado momento, a frase: “acho tão bonito...” contrapondo com a figura feia/bizarra da qual ele criava.

 

A cruz está presa a ele, ou ele a cruz?

 

Segundo dia:                                  RUA

O andar é pesado sobre calçadas esburacadas...

A cruz que carrega lhe pesa?

Ou é a corrente que lhe pesa?

O olhar da figura quase sempre se mantém no horizonte enquanto caminha.

As vezes pára, olha para o alto, ou para lua?

 

As velas da cruz se apagam com o vento...

Luz, luz..

Ele pára, tenta acende, algumas se mantém acesas, mas, por pouco tempo.

 

Passam carros, pessoas, crianças... crianças...

Elas param seu jogo de futebol e gritam alvoroçadas, grudadas nas grades do campinho:

“Sai diabo!!!”

“Vaza demônio!!!”

A figura, do outro lado da grade, os olha, parado... (algo de curioso?) depois se vai...

Pedras são lançadas.

 

O cão vem correndo e se depara com a figura, frente a frente. Latidos contínuos do cão... e ar de estranhamento da figura o observa parado, depois sai... e o cão a latir.

 

Adultos, eles quase se nunca se aproximam. Apenas comentam a distancia:

“Olha o satanás!”

“Que isso?”

“O diabo!”

 

Três senhorinhas sentadas na porta de uma casa observam a figura passar do outro lado da rua, uma delas exclama para as outras, com seriedade:

“Deus é mais...”

As outras riem.

Uma figura solitária.

Muitas vezes olha para cima.

Tenta acender as velas.

 

O farol, a faixa de pedestre, carros, muitos carros...

A figura atravessa um lado e pára na encruzilhada...

Ali fica, junto com o farol... e sua cruz.

(Ali houve um distanciamento do restante do grupo, a figura estava só, entre os carros... que passavam buzinando, gritando.. pessoas olhavam pela janela... despertou interesse.)

 

Um bêbado, sentado numa mesa de bar vê a figura e imediatamente uiva:

OOUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!

 

*A única pessoa até então que relacionou a figura a um lobo.

Detalhe: havia uma lua linda no céu... fazendo link com a imagem do lobo.

 

Só.

Se apóia na cruz, parado, entre casas de rua escura.

 

Imagem:

A figura tantas vezes intitulada como demônio se depara com a igreja.

Ele para diante de seus portões fechados, olha os muros de cima abaixo com aquela cruz na mão, de costas para rua, depois olha por algum tempo para o céu e sai.

O vento apagou a última vela acesa.

 

Por um bom tempo caminha reto, sem olhar para os lados, no mesmo ritmo, algo de cansado.

 

Mais uma vez crianças:

“Sai diabo!”

“Vai embora coisa ruim”

 

Imagem:

Na treze de maio... a figura parada ergue a cruz, com algumas velas acesas, acorrentada ao seu pescoço de frente para rua, no fundo um portão grande e preto e o som de um rock tocando no bar ao lado.

(ar sinistro).

 

 

 

 

 

 

* Em geral as pessoas não se aproximaram da figura, a não ser as crianças que chegaram até a encostar, mas sempre com insultos.

Os adultos observam distanciadamente, comentam com outras, riem, às vezes fazem piadas.

O estranhamento maior ocorre quando não há mais pessoas grupo por perto, o que acaba por “confortar” quem está vendo por perceber que se trata de algum “evento” (teatro, carnaval, festa a fantasia).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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