quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Primeiro Exercício...

Começamos um exercício de saída...

O primeiro passo era o de tentar compor uma “casca”,  uma figura que fosse “vazia”, e o fizemos evidentemente dentro daquilo que seria possível...

Levávamos como regra básica daquele jogo o fato de que as “figuras” não tivessem passado ou futuro...teríamos como norteador do exercício a idéia de que quem as preencheria seria mesmo esse “contato subjetivo”, com o mundo externo...

Talvez essa possibilidade de construção pudesse ser um fator relevante de compartilhamento da criação com o público e conseqüentemente com o espaço...

Segue primeiro relato de um dos atores...
Uma figura.
Sem boca, vestida de branco, cabelos de fitas vermelhas que lhe caem pelas costas, com um chapéu coco vermelho, traz na mão uma maleta quadrada da mesma cor.

Dentro da mala, um pequeno ramalhete de rosas brancas, secas e cheias de sal mas que ainda mantém seu cheiro e uma carta sem remetente, nem destinatário.

Apenas uma  imagem, oca, sem passado, presente ou futuro, sem argumentos nem proposições, sem história nem objetivo.

Assim me senti, quando passei pelo portão do casarão centenário na Major Diogo, pleno centro de São Paulo.

Quando iniciamos a caminhada, lembrei que eu mesma não conhecia aquelas ruas, não conhecia quase nada além do trajeto diário, 

dos meus passos diariamente marcados pela repetição.

Resolvi então, me atentar as ruas, aos prédios,casas, postes... mas a máscara dá uma liberdade tão poucas vezes  concedida no dia a dia, concedida por outros e por nós mesmos, e a figura é algo tão forte, que é quase  irresistível relacionar -se com as pessoas que passam. 

Comecei a abrir a maleta, cheirar as rosas e pedir que as pessoas as cheirassem. E as diversas sensações, comentários,ações e reações foram dando uma espécie de significação fragmentada a essa imagem, como alguém sendo descrito por várias pessoas, que o conheceram em épocas e circunstâncias diversas.

A carta mostrei apenas para poucas pessoas,  diziam que eu procurava o amor, que era o amor, uma noiva morta, que procurava alguém ou simplesmente me chamavam de perdida.Houve um senhor que disse: -" Representa a alma humana que está muda e rosas murchas que ainda cheiram, significam a morte que estamos plantando." Bom; talvez ele não tenha dito com estas palavras, mas disse isso.

De fato a figura altera o meio e os olhares alteram a figura, mas quem sou eu ? Quem me vê ou quem me concebe?



Diana Pinzigher


 



 

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