segunda-feira, 27 de dezembro de 2010















A inspiração Roseana do grupo Redimunho de SP


  01/09/2010 às 14:21:07  |  Ivan Fornerón


                    O Grupo Redimunho de Investigação Teatral surge em 2003 por meio da iniciativa de Rudifran Pompeu e Izabela Pimentel, que hoje são, respectivamente, diretor e assistente de direção do Grupo. Fundado em São Paulo, no centro da cidade, no bairro do Bixiga, o Grupo ocupa o Casrão da Escola Paulista de Restauro, na Rua Major Diogo, 91, lugar onde realiza seus ensaios e apresentou suas duas peças A Casa e Vesperais nas Janelas. A Casa recebeu o prêmio de melhor texto pela APCA, em 2006, e Vesperais sempre esteve, durante todo o ano que permaneceu em cartaz, entre os 10 espetáculos recomendados por jornais e revistas. O Grupo é formado por 21 atores de formação diversa, e por ser um grupo de pesquisa, os atores também exercem todas as atividades concernentes ao teatro: figurino, música, dança, cenogradia, iluminação, limpeza e manutenção do espaço. O nosso método se dá na vivência do cotidiano, desde a leitura dos textos, passando pelos exercícios de preparação física, a apresentação livre de cenas, até as discussões em roda e a organização dos camarins. É o exercício desse convívio que fortalece a nossa prática teatral.
                 Sobre o espetáculo Vesperais nas Janelas, a idéia inicial tomava a simbologia da janela como um universo que espelha as paisagens, tanto a de dentro como a de fora, estabelecendo uma comunicação entre ambas. Nesse aspecto, e não apenas em Vesperais como também em A Casa, o universo roseano, a literatura de Guimarães Rosa sempre norteou nossas pesquisas, e com ela não apenas a cultura mineira que aí tratada, mas também a cultura sertaneja, entendendo o sertão como uma geografia ampla e ao mesmo tempo particular que denominamos alma humana. Para tanto, mergulhar e aprofundar nossas pesquisas após a leitura da obra roseana, as viagens de campo que fazemos para coletar material que servirá de inspiração para a dramaturgia e a montagem dos espetáculos, sempre foi algo imprescindível para concretizar muitas das ideias que são levantadas a partir das leituras e d planos teóricos. Guimarães Rosa é, por assim dizer, mentor do nosso Grupo e fonte inesgotável de inspiração.

                Encenar um espetáculo para um público tão grande como em Andrequicé, e de uma forma bem diversa como apresentamos em São Paulo, além de desafiador é uma experiência que nos deixa realmente extasiados. As peças do Grupo sempre ficam mais de um ano em cartaz, e isso por dois motivos: o espaço de encenação é um Casarão antigo onde cada sessão é limitada a 50 pessoas. A Casa, por exemplo, teve um público de 10 mil pessoas, mas ao longo de 250 apresentações. A outra razão é a riqueza de detalhes e a tentativa de transportar o espectador para o universo retratado, o que implica num espetáculo intimista, de aproximação ao extremo e, para tanto, o modelo tradicional do espaço teatral não se aplica ao teatro que procuramos desenvolver. Essas duas características dão um pouco a dimensão do que representa para o Grupo essas apresentações de rua onde desde a projeção de voz do ator até a organização do público exigem um cuidado diferente e especial para a apresentação do espetáculo. Em Andrequicé, durante as comemorações da IX semana cultural da festa de Manuelzão, apresentamos três trabalhos: a peça A Casa, realizada na casa de cultura (casa rosa), e algumas cenas de Vesperais nas Janelas misturadas com algumas cenas do nosso terceiro espetáculo, ainda inédito, Marulho, o caminho do rio. Andrequicé nos deu a honra de fazer nossa pré-estreia, por assim dizer, do nosso novo espetáculo que está em fase final de produção. Todos os espetáculos têm o universo sertanejo como ambiente e geografia. No entanto, os temas tratados têm se aprofundado a cada nova pesquisa. De todo modo, é a memória coletiva e transfigurada nos personagens que falam em ambas: pessoas, situações e estórias que nos conceberam em todos os sentidos. Retratar e dar vida a esse passado (que para nós é mítico) é muito mais do que dar voz a fantasmas; acima de tudo é iluminar nosso presente (e provocá-lo também) ao contrapor a grandeza que surge da vida simples à parafernália da alucinação pós-moderna dos nossos dias onde os desejos de grandeza fabricam tédio e desolação. 

 


 

 

                    O Grupo Redimunho sempre apoiou essas iniciativas como a semana cultural da festa de Manuelzão. Somos devedores da do povo dessa região, pois retratamos o modo de vida das pessoas que protagonizam o universo roseano, e temos uma alegria imensa em apresentar esse trabalho à população que, ao lado da literatura de Guimarães Rosa, nos inspira. É para o público que o nosso teatro é feito. E quando esse público é o autor indireto do nosso espetáculo, aí nossa satisfação é triplicada. 

 
 







 

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