sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Postando sem correção...na pureza da caneta e do momento..

Segundo relato de "rel-ator"...
Exercício realizado em 30/11
Relator: Keyth Pracanico

Figura: Denise Ayres

 

O fato de relatar uma figura faz, já por si só uma coisa muito estranha. Não sabia por onde começar. Resolvi tentar entendê-la. Bom: vestida toda de azul, uma peruca imensa, um rádio que nada diz e uma foto de Carmen Miranda? Quem é ela, meu Deus? Ela não diz nada! Engano. Diz, sim. Só foi vê-la melhor e, por si só, criei toda uma estória para ela. Sem ela me dizer. Era só uma figura andando. Só a Denise.

Então comecei segui-la. Aflita.Minha nossa, ela sozinha na rua. Nós sozinhas na rua! 

A rua é um mistério para mim. Nunca fiz nada nela. Nunca interferi, nunca dei um grito, chorei. Acho que no máximo xinguei alguém....

E atrás da minha Carmen azul, percebi que ela queria dizer muitas coisas para aqueles seres que passavam por ali. Eles podiam gostar ou não. Mas que ela incomodava, ah, isso incomodava!

Porque mesmo que você só olhe, mesmo que de relance, aquele ser solitário te deu uma informação.

As pessoas daquela rua já estão acostumadas a passar por tantas circunstâncias! Tanta gente estranha anda no Centro! Tanta tragédia acontece, que minha primeira impressão foi crer que a Carmen não causaria estranheza: é mais uma mendiga solitária, louca, falando com árvores.

Mas aconteceu algo ali. Tem algo diferente naquela atriz sozinha. Algo que fez as famílias saírem na janela e darem tchau para ela. Será que é porque pensavam que era teatro? Talvez. Mas o mistério está aí. O teatro traz as pessoas para você.Nem sempre, ou quase nunca eles querem ver seu espetáculo, mas quando você passa na frente de suas casas, eles querem te ver, comentar, querem conversar.....E aí cada um vê o que quer: uma mulher perdida, a sósia da Carmen, uma louca, uma atriz fingindo que está fazendo uma cena na rua. Enfim.....

É uma interferência naquele cotidiano: alguém andar na sua direção, te responder, falar. Já se causou um movimento.

Confesso que como relatora, às vezes eu interferi nesse jogo. As pessoas percebiam que era uma atriz. Acho sabiam desde o início, mas comigo lá......era como se eu soubesse os segredos que eles compartilhavam com ela. Se só eu estou falando com a Carmen, quem vai saber? Sou só eu e ela. Mas quem é essa menina com um grande caderno? Ah! É parceira dela! Então vou mudar meu modo de falar. Elas estão trabalhando, fazendo uma pesquisa, uma cena.

E aí o segredo ia embora.

Tenho certeza uma, daquelas muitas que encontramos ontem, comentou com alguém hoje: você viu? Ontem o teatro passou por aqui.....


 



 

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