quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Figuras...terceiro relato...

30 de Novembro de 2011

 

A Figura e a Rua

Um Homem vestido de branco com os seguintes dizeres em sua roupa:

“Estou vazio – Um pedaço de ti – Um pedaço – Uma parte”

Não posso falar sobre o dia 30, sem antes citar o ocorrido no dia anterior... Realizamos no casarão um exercício para “um primeiro rascunho das figuras”, minha figura já vinha em meu imaginário, desde o momento da proposição do exercício de incursão na rua, foi quando surgiu à palavra VAZIO.

Durante o exercício fizemos um reconhecimento do espaço, até que todas as figuras ficassem no para peito do casarão de frente para a rua... Do outro lado da rua vinha uma mulher, de longe ela notou a presença daquelas figuras/seres que ocupavam aquele espaço.

Quando ela atravessou a rua pude estabelecer um vinculo, ficamos nos olhando, nos reconhecendo durante algum tempo, foi quando eu disse para ela: “Estou vazio. Você me daria uma parte sua para que eu fosse completo?” Ela disse: Sim.

Desci as escadas correndo, entreguei-lhe uma caneta e ela escreveu: “Eu estou triste, mas me renovo amanhã”

Minha figura já não era tão vazia assim! Fui para a rua levando em minha roupa 14 riscos, 04 bolas, 02 corações, a palavra som, e a frase “Eu estou triste, mas me renovo amanhã”...

Uma figura que já não é tão vazio assim, precisa reelaborar o seu discurso e talvez o seu significado.

Na rua a coisa é bem diferente...

Interferimos diretamente no cotidiano das pessoas. Numa cidade onde encontramos figuras a todo instante, como se fazer visível? Como alcançar? Como dialogar com o outro?

Um homem vestido de branco, pode ser só, um homem vestido de branco. Porém, se esse homem vestido de brando quer interferir e se comunicar diretamente com as pessoas que passam pela rua, é necessário que se encontre um corpo, um ritmo, um olhar, algo que sais do comum. E para isso não adianta uma super-elaboração da personagem. É necessário estar sensível, é necessário ouvir.

O verbo da rua é SENTIR.

Sentir a repulsa.

Sentir o medo.

Sentir o estranhamento.

Sentir o aconchego.

Interessante perceber que quando estou na rua como homem comum; com minhas contas a pagar e meus interesses, eu quero ser invisível. Mas quando estou na rua exercendo meu oficio de ator, quando estou na rua como figura, ser, personagem eu quero que me notem! Não quero passar despercebido.

            Dessa experiência na rua citarei aqui algumas situações que me chamaram a atenção:

 

1ª Um menino de uns dez anos de idade escreveu em minha roupa a palavra PAZ. Eu perguntei para ele:

- Paz é bom?

Ele disse:

- É.

Então eu perguntei:

- E como a gente faz pra conseguir?

E ele respondeu:

- Não sei. Só sei que bom!

 

 

2ª Um rapaz de longe tentava ler os escritos de minha roupa, me aproximei e perguntei “Para um homem que um dia foi vazio, o que você daria para que ele fosse completo? – O rapaz pegou a caneta de minhas mãos, ficou um tempo em silêncio e escreveu emocionado: IGUALDADE.

Parti dizendo:

- Igualdade para você. Para mim. Para todos nós.

 

 

3ª Um casal perguntou do que se tratava a minha figura, minha resposta foi “Para um homem que um dia foi vazio, o que você daria para que ele fosse completo?” A moça escreveu a palavra AMOR e o rapaz FELICIDADE, quando fui embora, pude ouvir ela dizer: Nossa que legal poesia a essa hora do noite!

 

 

4ª Parei em frente a um senhor que bebia cerveja num bar, mostrei os escritos da roupa e ele disse:

- Eu sou três vezes mais velho que você rapaz! Você é muito jovem pra ser triste.

 

 

 

Paulo Henrique Sant” Anna

01 de Dezembro de 2011

14:30hs

 

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